Por: Luciano Costa
A Vale (VALE3) frustrou as expectativas do mercado no primeiro trimestre de 2023, em meio a uma forte pressão de custos e menores vendas, impactadas sobretudo por chuvas que restringiram exportações no Maranhão, mais do que compensando os maiores preços do minério de ferro na comparação com o final do ano passado.
A segunda maior produtora global da commodity siderúrgica registrou lucro líquido de US$1,84 bilhão entre janeiro e março, despencando quase 60% na comparação anual e cerca de 50% ante o trimestre anterior, segundo balanço divulgado nesta quarta-feira. O consenso Mover, colhido junto a analistas, apontava para ganhos de US$2,33 bilhões.
A mineradora brasileira também registrou piora no resultado operacional medido pelo EBITDA ajustado. Foram US$3,68 bilhões no período, com tombo de 42% ano a ano e queda de quase 23% na base sequencial, frustrando o consenso Mover de US$4,32 bilhões.
O pior desempenho deve-se em boa parte ao recuo na receita líquida de vendas, que ficou em US$8,4 bilhões, bem abaixo dos US$11,9 bilhões do quarto trimeste e dos US$10,8 bilhões há um ano atrás. Projeções de analistas apontavam para US$9,3 bilhões.
A Vale também sofreu significativos aumentos de despesas e gastos. O custo caixa C1, que afere o custo de produção dos finos de minério de ferro da mina ao porto, avançou para US$23,6 por tonelada, contra US$19,5 no trimestre anterior e US$18,7/t há um ano.
No balanço, a Vale disse que o aumento ocorreu principalmente por efeitos não recorrentes, incluindo antecipação de atividades de manutenção, aproveitando o menor impacto nos volumes do primeiro trimestre, e a menor produção no sistema Norte, que levou ao consumo de estoques do trimestre anterior com custos mais elevados.
A Vale também atribuiu o salto nos custos às maiores distâncias de transporte na mineração e “pressões inflacionárias sobre diesel e materiais”, além de custos de plantas de filtragem de rejeitos que começaram a operar em 2022.
Entre janeiro e março, a Vale realizou preços médios de minério de ferro de US$125,5 por tonelada, abaixo dos US$141,6 praticados há doze meses, mas superiores aos US$99,00 dos últimos três meses do ano passado.
O fluxo de caixa livre das operações da mineradora alcançou US$2,3 bilhões, representando uma conversão de EBITDA em caixa de 62%, contra 19% há um ano, “principalmente pela forte arrecadação de caixa referente às vendas do quarto trimestre e impostos pagos sazonalmente maiores no primeiro trimestre de 2022”.
Os investimentos, por sua vez, totalizaram US$1,1 bilhão. A dívida bruta encerrou o período em US$13 bilhões, enquanto a dívida líquida expandida ficou em US$14,4 bilhões, em linha com meta de entre US$10 bilhões e US$20 bilhões da mineradora.
BRUMADINHO
O desempenho da Vale ainda foi afetado por US$111 milhões adicionais em despesas relacionadas ao desastre de Brumadinho e à descaracterização de barragens, embora o valor tenha ficado abaixo dos US$160 milhões vistos há um ano atrás e dos US$375 milhões do quarto trimestre de 2022.
O saldo de provisões da companhia pelo rompimento da barragem que deixou centenas de mortos fechou o período em US$6,69 bilhões. Desde 2019, os impactos sobre o EBITDA da companhia totalizam US$16,49 bilhões.