Gestora tem 20% da KEPL3

Trígono vê queda exagerada em ações da Kepler Weber após balanço: "ano foi muito desafiador para o agro"

Trígono vê queda exagerada em ações da Kepler Weber após balanço: "ano foi muito desafiador para o agro"

São Paulo, 03/05/2025 – A gestora de investimentos Trígono, importante acionista da Kepler Weber, avalia que o mercado financeiro reagiu com mal humor exagerado aos resultados da companhia de soluções de armazenamento agrícola. Para Werner Roger, sócio-fundador da casa, com mais de 40 anos de mercado financeiro, é preciso levar em conta a sazonalidade da empresa, e os resultados em 2024 como um todo foram “normais”, apesar de um ano “muito desafiador para o agronegócio”.

O desempenho financeiro da Kepler ainda foi prejudicado por itens não recorrentes, como impactos de uma nova lei que aumentou tributação de imposto de renda, e por uma queda dos preços do aço que deixou a empresa com estoques caros nas mãos, algo que deve se inverter agora em 2025, com siderúrgicas já aumentando preços, na visão do gestor.

“O resultado do ano é absolutamente normal, em um ano muito desafiador para o agronegócio. A Kepler teve um 2024 que foi relativamente bom. E teve esses fatores, de imposto de renda, não recorrentes… não tem nada a ver com a companhia, com os negócios”, disse Roger.

“Esse ano foi o com maior volume de aço processado na história, maior volume de obras simultâneas, em um ano onde tudo foi ´contrário´, e vai falar que o ano foi ruim?”, comentou o gestor. A Trígono tem cerca de 20% da Kepler Weber. As ações recuam cerca de 16% desde os resultados.

“O mercado dá muito peso a um trimestre, e no entanto, no agronegócio, essa não é a forma de se fazer. Ela tem uma sazonalidade, como o agronegócio. Quando você pega o ano inteiro, que é a forma que você tem que analisar essa companhia, a coisa muda de figura”, resumiu Roger.

A Kepler Weber reportou lucro líquido de R$50 milhões entre outubro e dezembro de 2024, queda de 46% na comparação com mesmo período do ano passado, e de 15% ante o trimestre anterior. No fechado do ano, lucrou R$199 milhões, queda de 18,8% a/a. Nos resultados ajustados, o lucro em 2024 foi de R$201 mi, recuo de 9,7% a/a.

O EBITDA da Kepler Weber recuou 30% a/a no 4T, para R$82 mi, enquanto no fechado do ano o recuo foi de 2,4%, para R$328 mi. O EBITDA ajustado, por sua vez, sem efeitos não recorrentes, avançou 3,6% ano a ano, para R$334,8 mi.

“O lucro líquido menor em 2024 em grande parte é explicado pelo aumento no imposto de renda em R$20 milhões, e o fato de 2023 ter apresentado resultado positivo não recorrente R$20 milhões acima de 2024 , o que em grande parte explica o lucro menor apesar de pequeno aumento no EBITDA”, comentou Roger.

Outro fator destacado pelo gestor da Trígono que impactou o desempenho da Kepler foi a liberação para silos e armazéns, dentro do Plano Safra, de apenas R$2,3 bilhões, apesar de quase R$8 bilhões previstos do programa PCA. Segundo ele, os recursos acabaram não repassados porque bancos ficaram cautelosos em fornecer crédito de longo prazo e ampliar exposição ao agronegócio em 2024, diante de quebra de safras.

2025 MELHOR?
No balanço, a administração da Kepler Weber projetou um ano mais positivo para 2025, quando a companhia completará 100 anos.

“Para 2025, esperamos um mercado promissor, com uma safra recorde e volumes expressivos, mas também com altas exigências em termos de eficiência. Toda a cadeia do agronegócio está focada em fazer mais com menos, e na Kepler Weber não será diferente…visualizamos um ano com sazonalidade para nosso segmento e um segundo semestre robusto e promissor”, apontou.

Roger, da Trígono, também vê um ano melhor, principalmente no segundo semestre, quando devem ocorrer maiores compras de silos. Ele destacou a alta dos preços do milho, um câmbio favorável e perspectivas de supersafra, além do encarecimento do aço, que beneficia a Kepler por ela ter estoques feitos com preços menores antes. “A empresa é muito sólida. E agora vamos ter uma série de fatores que serão justamente favoráveis”.

O gestor disse ainda que a Kepler Weber está disputando importante contrato com a Raízen para instalações no Porto de Santos (SP), processo que pode ser concluído em março.

Outro ponto que deve ser observado pelos acionistas é que outras empresas, como Irani, já foram bem-sucedidas em questionar a tributação, pela Receita Federal, de incentivos fiscais, um tema que afetou os resultados da Kepler e eventualmente poderá ser questionado pela empresa.