Suzano (SUZB3) deve ampliar liderança no mercado de 'tissue', diz diretora

Veja entrevista exclusiva com diretora de RI da empresa

Suzano/Reprodução
Suzano/Reprodução

Por: Ana Luiza Serrão e Artur Horta

A Suzano (SUZB3), maior produtora de celulose de eucalipto do mundo, deve se movimentar para ampliar a liderança no Brasil em operações de ‘tissue’, fibra utilizada em lenços descartáveis e papel higiênico, disse em entrevista à Mover a diretora de Relações com Investidores, Camila Nogueira.

“A nossa intenção estratégica sempre foi ter escala nesse mercado”, afirmou a executiva, ao explicar que os negócios de ´tissue´ ajudam a reduzir a volatilidade do faturamento da companhia –exposto às flutuações de preço da celulose e do câmbio.

Os valores da celulose no mercado internacional, inclusive, estão em queda neste ano, pressionados pela oferta adicional em meio ao ambiente de demanda fraca. O cenário, inclusive, levou a Suzano a anunciar em 2 de junho um corte de 4% em sua capacidade de produção de produto para 2023.

No setor de ´tissue´, por outro lado, a companhia concluiu em 2 de junho uma aquisição de US$175 milhões, envolvendo ativos da Kimberly-Clark no Brasil.

Veja, a seguir, os principais trechos da entrevista:

Mover: Neste mês, a Suzano concluiu a aquisição de ativos da Kimberly-Clark no Brasil. Devemos esperar mais movimentos no mercado de ‘tissue’?

Camila Nogueira: Temos sim intenção de reduzir a nossa volatilidade se integrando mais na cadeia, mas fazendo movimentos muito conservadores e muito bem analisados, não é qualquer movimento de integração que faz sentido na visão da Suzano.

É natural que a Suzano tente ampliar sua liderança e a sua presença nesse mercado, que é um mercado muito interessante, muito atrativo ao longo dos anos.

Quando olhamos especificamente o mercado de tissue, ainda temos opcionalidade de crescimento orgânico. Guardamos alguma opcionalidade também para um movimento inorgânico adicional.

Mover: A Suzano tem investido na Finlândia junto à startup Spinnova, para fabricar fibras a partir da madeira de eucaliptos cultivados de forma sustentável. O objetivo desse negócio é similar ao dos ativos de tissue?

Camila Nogueira: Quando olhamos para o que a gente está construindo na Finlândia, a perspectiva ali é de uma ampliação do nosso mercado endereçável, ou seja, é a nossa celulose ser usada para outras indústrias, nas quais hoje não é utilizada.

Trata do avanço da Suzano numa outra dimensão estratégica, que é exatamente ter presença em novos mercados. Mercados em que temos competitividade de custo e mercados que possam ser escaláveis.

Não à toa quem está com a gente nessa jornada é Adidas, tem North Face, tem Bergan, tem uma série de empresas, que não precisa nem dizer muito, são altamente reconhecidas globalmente.

Mover: Recentemente, a Suzano anunciou um corte de capacidade. Qual a diferença entre esse movimento e o de 2019, quando a empresa aumentou estoques?

Camila Nogueira: Em 2019, você tinha uma decisão que nasceu de um objetivo comercial de formar estoques e, também, uma decisão comercial de reduzir produção. Como um benefício colateral dessa redução de produção, a gente teve um ganho nas nossas florestas, na continuidade do crescimento das nossas árvores.

Agora, a decisão é estruturalmente diferente dessa, porque não estamos olhando para o que o nosso volume de produção vai ou não impactar no preço, estamos olhando todos os níveis de custo/caixa de produção que a Suzano possui, evento a evento. Eu mapeio para todas as fábricas todos os custos de produção, sejam fixos ou variáveis, que eu estou tendo para produzir cada tonelada de celulose.

Mover: Outros players estão seguindo essa decisão de reduzir a produção?

Camila Nogueira: Quando olhamos para outros players, o que enxergamos? Que tem sim players fazendo movimentos de redução de produção. Um caso interessante é a gente olhar para os produtores integrados na China.

No momento em que o preço da celulose está muito baixo, faz sentido para eles reduzir a produção e comprar celulose de mercado máximo. A gente começou a ver esse tipo de produtor não integrado aparecer na nossa base ali na virada de março para abril, e isso se intensificou muito recentemente.

Mover: O que esperar para os preços da celulose em 2023 e 2024?

Camila Nogueira: Não somos determinísticos no preço, traçamos curvas de cenário de mercado. Acho que vale colocar em contexto que estamos falando de uma indústria cíclica, então tem momentos de preço alto e tem momentos de preço baixo.

Vamos ter um 2023 mais desafiador, sim. E 2024, como tem o início da nossa operação da nova planta no Mato Grosso do Sul, Projeto Cerrado, você talvez tenha também uma uma pressão de preços ali, que vai ser natural ao contexto de uma entrada de nova capacidade. Depois, temos um horizonte mais benéfico para preço, porque você não tem nenhuma capacidade entrando após Cerrado até 2028-29.

Mover: Após finalizar esse ciclo de investimentos e entrada em operação do Projeto Cerrado, existe uma pretensão da Suzano em aumentar o pagamento de dividendos?

Camila Nogueira: Não é uma discussão hoje presente na companhia. Quando olhamos para a alocação de capital, a princípio você paga dividendos quando não tem projetos cujo retorno seja maior do que seu custo de capital. Na Suzano, temos uma diversidade de projetos com retornos interessantes e acima do nosso custo de capital.

Em um cenário pós-Cerrado, vemos que estruturalmente a Suzano tende a continuar pagando, relativamente, um dividendo menor que outras companhias, porque ela tem um portfólio de projetos que vão gerar muito mais valor para os acionistas se o lucro for reinvestido na companhia e não distribuído.

A preferência que a gente vem tendo mais recentemente, pensando em retorno aos acionistas é de recompra de ações.