São Paulo, 28/11/2024 – A Suzano estreou no mercado de dívida chinês neste mês, em operação inédita para o grupo, que obteve custos competitivos e poderá ser repetida à frente, disse à Mover e ao Faria Lima Journal o futuro CFO, Marcos Assumpção, que também comentou ver uma demanda “resiliente” da China pelos produtos da companhia apesar dos desafios macroeconômicos atuais.
A gigante brasileira de papel e celulose levantou o equivalente a US$165 milhões em moeda chinesa — 1,2 bilhão de renminbi — com prazo de vencimento de até três anos, tornando-se a primeira companhia não governamental e não financeira das Américas a realizar uma transação com os chamados “Panda Bonds”.
“A ideia foi abrir realmente uma nova frente de captação, em um mercado novo, e além disso em condições bem favoráveis. Como temos taxa de juros menor na China, conseguimos capturar uma taxa bastante baixa”, explicou Assumpção, que é diretor de Planejamento Financeiro e M&A da Suzano e assumirá como VP de Finanças em dezembro.
“O custo da operação em moeada local na China foi de 2,8%, e quando convertemos isso para dólar, ficou abaixo de 4,7%. E isso se compara com nossos bonds, que emitimos lá atrás… os de mesmo prazo negociam hoje a mais ou menos 5,2%. Tem uma economia aí de meio ponto percentual”, detalhou o CFO.
No caso da captação da Suzano, a operação envolveu os chamados “Panda Bonds” verdes, atrelados a projetos ou ativos sustentáveis. Esses recursos obtidos na China, então, vão financiar investimentos em plantio de eucalipto certificado no Brasil. Mas a empresa também tem liberdade para captar com “Panda Bonds” para outras destinações.
“Quando aprovamos essa operação, aprovamos na verdade um programa mais amplo até, com as autoridades na China, para podermos fazer isso de uma forma mais recorrente. Temos ainda bastante espaço para fazer outras captações, mas aí a decisão de fazer ou não vai depender de nossa necessidade de caixa”, explicou Assumpção.
O programa aprovado pela Suzano prevê possibilidade de até 20 bilhões de renminbi em “Panda Bonds” nos próximos dois anos, o equivalente a US$2,7 bilhões.
Assumpção comentou que, com a tranação, a Suzano conseguiu “abrir um mercado novo e com custos competitivos” para emissão de dívida no exterior, que pode ser interessante, ainda mais em momentos de maior estresse no mercado brasileiro, como agora.
“Na taxa de juros no mercado local estamos vendo as curvas abrindo em função eventualmente do que o mercado considera um aumento no risco fiscal. E, assumindo que provavelmente as taxas de juro lá fora podem continuar até caindo, que é um pouco da tendência que vimos recentemnte, pode ser que o mercado internacional fique mais favorável”, afirmou o CFO, acrescentando que essa é uma alternativa para empresas exportadoras, como recietas em dólar, como a Suzano.
No momento, no entanto, a Suzano não está preparando nenhuma captação relevante para o curto prazo, e a prioridade é reduzir o nível de endividamento, acrescentou Assumpção.
“Estamos inclusive saindo de um grande projeto, que é o Projeto Cerrado. Ainda tem alguns pequenos pagamentos, mas nada muito relevante. Estamos entrando em um ciclo de desalavancagem, a meta da companhia é reduzir um pouco a alavancagem”, disse.
CHINA
O Brasil é o maior exportadora global de celulose, e a China é o principal comprador do produto nacional. Mas, a despeito de preocupações de economistas com uma esperada desaceleração no crescimento chinês, a Suzano espera desempenho ainda positivo em seu setor.
“Nosso negócio na China vende muito para o segmento de ‘tissue’, que é para papéis higiênicos, toalhas e lenços de papel, guardanapos. E vemos uma demanda muito resiliente na China. Apesar de uma desaceleração na economia de forma geral, que tem sido compensada agora recentemente pelos anúncios de estímulos, isso tem mais impacto para outras indústrias que nós”, explicou o CFO.
“Nossa indústria tem se comportado bem, com a demanda crescendo consistentemente. A demanda é bastante inelástica para esse tipo de produto…”, afirmou ele, acrescentando que a empresa não está ansiosa por eventuais estímulos. “Nosso negócio acaba não sendo tão impactado pela volatilidade ou ciclicidade da economia no curtíssimo prazo”.
DÓLAR
Questionado pela Mover e Faria Lima Journal, o diretor confirmou que a Suzano tende a se favorecer de momentos de depreciação do real ante o dólar, como tem se visto neste ano, em tendência acelerada ontem, após o governo do presidente Lula divulgar um pacote de contenção de gastos que frustrou o mercado em geral.
“A companhia tem a maior parte da receita em dólar. As vendas, exportação de celulose, estamos falano de 80-75% da receita. Então, quando tem o real mais fraco a gente se beneficia do lado da receita. E do lado dso csutos, são predominantemente em reais. Uns 25% são em dólar. Então temos esposição líquida em dólar, somos um típico exportador”, explicou.
“Um câmbio elevado acaba sendo mais favorável para os resultados, de uma forma geral”, afirmou.
Em meio a uma firme queda da bolsa brasileira ontem e hoje, diante das preocupações fiscais, as ações da Suzano destacavam-se entre as poucas no positivo, devido à força do dólar. Por volta das 16h15, as ações ON da Suzano avançavam 3,31%, sendo a maior alta percentual entre as ações que compõem o Ibovespa.