Sócios do 3G veem arranjo entre bancos e antigos executivos na Americanas, dizem fontes

Na visão dos sócios do 3G Capital, existia um arranjo de conveniência entre bancos e executivos da varejista, disseram fontes ao Scoop

Agência Brasil
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Bruna Narcizo

Os sócios do 3G Capital, Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles, Carlos Alberto Sicupira, Alex Behring e Roberto Thompson Motta, vêm expondo a interlocutores suas versões dos fatos que levaram à derrocada da Americanas nos últimos dias. Na visão deles, existia um arranjo de conveniência entre bancos e executivos da varejista, disseram ao Scoop alguns desses interlocutores.

Segundo essas pessoas, que falaram sob a condição de anonimato, o quinteto alega que foi enganado por altos executivos da Americanas, que estariam atuando em conjunto com diretores dos principais bancos credores da varejista para omitir a real situação da dívida e inflar seus resultados financeiros.

Na visão do 3G Capital, os antigos diretores da Americanas conheciam a real exposição do rombo de cerca de R$20 bilhões que não apareceram nas demonstrações contábeis da empresa. Os sócios, narram as fontes, também não se conformam com o fato de a auditora PwC não ter conseguido levantar informações corretas junto às instituições financeiras.

O discurso foi avaliado por esses interlocutores como uma forma de blindar os sócios do 3G de desdobramentos na esfera criminal do caso da Americanas. Segundo uma das fontes, o quinteto está fora do Brasil: Lemann está em Zurique, na Suíça; Telles, em Miami, nos Estados Unidos; Sicupira, em Genebra, também na Suíça; Thompson, em Milão, na Itália; e Behring, em Nova York, também nos EUA.

“O principal temor deles é que os passaportes sejam apreendidos caso eles voltem para o Brasil”, relatou uma das fontes.

O principal alvo do discurso implementado pelo quinteto aos interlocutores é Miguel Gutierrez, que presidiu a Americanas durante 20 anos. Ele, que é cidadão espanhol, se mudou para lá assim que deixou o cargo, em dezembro de 2022, e não deve aparecer no Brasil tão cedo.

Mais cedo, o Scoop informou que a direção da Americanas contratou o advogado Cristiano Zanin para defender o grupo na esfera criminal, em um movimento que demonstra que a varejista não irá medir esforços para se blindar jurídica e politicamente no processo de recuperação judicial no qual está envolvido.

Zanin é advogado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e foi o líder da defesa que permitiu que ele saísse da prisão e, depois, tivesse o processo judicial de acusação anulado.

A contratação de Zanin foi negociada após a Justiça de São Paulo emitir na última quinta-feira um mandado de busca e apreensão de e-mails contra a Americanas – ou seja, em um fórum diferente daquele onde o processo de recuperação judicial da varejista corre, na Justiça do Rio de Janeiro.

Com as novas informações trazidas pelos interlocutores dos sócio, somadas à confirmação da contratação de Zanin, nesta tarde, começa a ficar claro que os donos da 3G e os atuais administradores da Americanas deverão estabelecer uma defesa jurídica distinta da antiga diretoria da varejista.

Procurados, a 3G Capital, a Americanas e Zanin ainda não retornaram os pedidos de comentários do Scoop.