Por Bruno Andrade
O prejuízo do Magazine Luiza (MGLU3) em 2022 poderia ser de R$ 679 milhões – 36% maior – se a empresa não tivesse uma controlada como a Kabum, disseram analistas ouvidos pelo Faria Lima Journal (FLJ) nesta segunda-feira (24).
De acordo com o consenso dos especialistas, os R$ 679 milhões representam o resultado do grupo Magazine Luiza sem o lucro da Kabum. Em 2022, todo o grupo do Magazine Luiza, com o resultado da Kabum incluso, amargou um prejuízo de R$ 499 milhões.
Já a Kabum sozinha lucrou R$ 180 milhões no acumulado do ano passado, ou seja, se o Magalu não tivesse esse lucro para amortizar as suas perdas, a varejista da família Trajano teria um prejuízo consolidado de R$ 679 milhões. É como se a kabum jogasse o Magalu para cima.
Para Pedro Serra, chefe de pesquisas da Ativa Investimentos, os números poderiam ser ainda piores por causa das sinergias. “Também teríamos o impacto da perda de sinergias entre as empresas, visto que as integrações entre suas operações também seriam desfeitas”, afirmou.
Justamente por esse fatores, Denis Medina, economista e professor da FAC-SP, afirma que os números corroboram que o Magazine Luiza fez um excelente negócio ao comprar a Kabum.
“O Magazine Luiza desembolsou de forma direta R$ 1 bilhão em 2021 para comprar a Kabum, em um ano, eles tiveram 18% de retorno do aporte. Ou seja, em pouco mais de 5 anos a varejista dos Trajanos terá o dinheiro do aporte de volta, o que mostra como o negócio foi extremamente vantajoso para o Magalu”, disse.
Entenda o caso do Magalu
Os cálculos e as especulações tomaram conta do mercado após a companhia demitir os fundadores da Kabum, Thiago e Leandro Ramos, do cargo de CEO da adquirida por justa causa no final da semana passada.
Em entrevista exclusiva ao Faria Lima Journal (FLJ), Leandro Ramos contou com detalhes como foi a ação do Magazine Luiza após ele e seu irmão abrirem um processo pedindo revisão na venda da varejista para o Magalu.
O FLJ também teve acesso ao documento da ação judicial dos irmãos Ramos. Uma das reclamações é a forma de quitação da dívida, que prevê o pagamento de R$ 1 bilhão e mais outras 125 milhões de ações do Magazine Luiza. O valor total na época ficou estimado em R$ 3,5 bilhões.
No dia que a transação foi fechada, 15 de julho de 2021, cada ação do Magazine Luiza valia R$ 23,05. Na última quinta-feira (20), o papel da varejista fechou o pregão cotado a R$ 3,30, um tombo de 85,7% na comparação com o valor negociado. Essa forte queda é uma das contestações dos irmãos Ramos, antigos donos da Kabum.
“O contrato não previu nenhum mecanismo que garantisse a preservação do valor do preço na data do fechamento do acordo”, mostra o documento da ação judicial.
Os antigos donos da Kabum também reclamam de parcialidade do Itaú BBA, Um dos argumentos é o parentesco entre o diretor do setor de fusões e aquisições do Itaú BBA, Ubiratan Machado, e Frederico Trajano, presidente do Magazine Luiza.
As esposas deles são irmãs, o que – segundo os irmãos Ramos – mostra um conflito de interesses, visto que Ubiratan Machado foi quem assessorou a venda da Kabum.
Ainda assim, Caroline Sanchez, analista de varejo da Levante Investimentos, diz que é pouco provável que o contrato de compra e venda seja desfeito na justiça. O principal fator é a importância que a Kabum assumiu dentro do Magalu, visto que a sua rentabilidade é alta.
“O nível de rentabilidade que o Kabum apresenta, não é comum para players de e-commerce, o que reforça a eficiência da gestão da empresa e a importância da empresa para o ecossistema do Magalu, adicionando cerca de 10% ao seu GMV”, disse Sanchez.
Por fim, a analista comentou que o máximo que pode acontecer é um novo acordo sobre o pagamento. “Em um último caso, o Magalu faria uma grande negociação para manter a empresa em seu ecossistema”, explicou Sanchez, da Levante.