São Paulo, 06/08/2025 – Os preços no mercado livre de energia dispararam nos últimos dias, após revisão em projeções oficiais de demanda que surpreendeu o mercado, segundo relatório do Itaú BBA e agentes do setor, em movimento que pode favorecer algumas empresas de geração, como Eletrobras e Copel.
Analistas do Itaú BBA atribuíram o movimento no mercado elétrico à atualização de projeções de demanda dos órgãos oficiais Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Operador Nacional do Sistema (ONS) e Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), na última semana.
Os dados oficiais são usados por modelos matemáticos para calcular um preço de curto prazo de energia, ou preço spot, conhecido como PLD. Este, por sua vez, influencia o valor de contratos no mercado livre, um ambiente de atacado onde empresas podem negociar livremente o suprimento com os fornecedores.
“Com base nas previsões atualizadas, observamos uma redução significativa na demanda líquida para 2025; no entanto, essa redução foi abaixo do esperado por alguns agentes do setor que consultamos”, escreveu time do BBA liderado por Filipe Andrade, destacando ainda que houve aumento na demanda prevista para 2028 e 2029.
A consultoria CrediRisk, de soluções em energia, disse que a projeção “frustrou o mercado, que já precificava uma redução mais agressiva da demanda futura, em linha com sinais macroeconômicos mais fracos”, e que com isso houve aumento nos preços.
“A frustração das expectativas do mercado está agora impactando os preços de energia de curto prazo. Contratos para o 4T25 estão agora 14% acima dos níveis observados na última sexta-feira, atingindo R$310/MWh. Isso também impactou contratos para 2026, que estão 10% acima dos níveis da última semana, passando dos R$270”, apontou o Itaú BBA.
Contratos de longo prazo também foram afetados– preços de energia convencional para empresas e indústrias que atuam no mercado livre elétrico avançaram 6% na última semana, para R$196,38 por MWh, segundo dados da Dcide.
Preços mais elevados no mercado elétrico podem favorecer o desempenho de empresas de geração, principalmente companhias que estão com mais energia descontratada, que podem fechar novos contratos com preços melhores. Eletrobras e Copel são vistas como potencialmente mais beneficiadas.
MODELO DE PRECIFICAÇÃO
Os valores no mercado elétrico também têm sido pressionados para cima pelo uso de uma metodologia mais conservadora para cálculo dos preços spot de energia, que entrou em vigor em janeiro e será mantida em 2026, após decisão do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) na semana passada.
“A manutenção de um modelo de precificação de energia mais avesso ao risco seria um desenvolvimento positivo para empresas com grandes volumes descontratados, como Eletrobras e Copel”, escreveram analistas do Itaú BBA em relatório em separado, ainda em junho.
Na prática, o modelo mais conservador de preços antecipa o acionamento de termelétricas para poupar reservatórios de hidrelétricas. Os preços spot também são utilizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) como parâmetro para definição das bandeiras tarifárias, que estão atualmente no patamar vermelho nível 2, o mais caro.
“Se o modelo anterior (de precificação) estivesse em vigor, provavelmente estaríamos na bandeira verde”, comentou o diretor de Trading da Armor Energia, Fred Menezes.
CRITÉRIOS
Com os impactos sobre o mercado e a conta de luz, a “calibragem” do cálculo de preços de energia tem se tornado um tema de debate crescente entre especialistas do setor desde a recente mudança.
Para o CEO da Electra Energy, Franklin Miguel, o modelo atual utiliza como referência “cenários críticos, como o de 2021”, quando o Brasil vivia uma crise hídrica histórica, o que segundo ele leva a preços maiores e aumenta custos para os consumidores.
“O fato é que, assim como o Banco Central precisa ajustar a taxa de juros de acordo com o momento econômico, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) deve calibrar os parâmetros de aversão ao risco com base nas condições atuais do sistema — como o nível dos reservatórios e o real custo das térmicas”, escreveu Franklin, em artigo no portal Eixos.