Piora em inadimplência do Santander pode ser mais intensa que a mostrada, diz UBS-BB

Segundo analistas, indicadores considerados alternativos para se analisar a qualidade dos ativos do banco mostram tendências negativas para os próximos trimestres

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Por: Gustavo Boldrini

A piora na qualidade dos ativos do Santander Brasil no balanço do quarto trimestre de 2022 pode ser mais intensa que a mostrada pelo indicador tradicional de inadimplência acima de 90 dias, avalia o UBS-BB em relatório divulgado nesta quinta-feira.

Segundo os analistas Thiago Batista e Olavo Arthuzo, indicadores considerados alternativos para se analisar a qualidade dos ativos do banco mostram tendências negativas para os próximos trimestres, apesar das mensagens otimistas de diretores do Santander Brasil durante teleconferência de resultados ontem.

O terceiro maior banco privado mostrou um alta sequencial ligeira de 0,1 ponto percentual no índice de inadimplência de operações de crédito não pagas há mais de 90 dias, o mais utilizado pelo setor, para 3,1%. Esse indicador considera os chamados Princípios Contábeis Geralmente Aceitos no Brasil, conhecidos na contabilidade pela sigla BR GAAP, e leva em conta somente operações de empréstimo com pagamento atrasado.

Ao considerar a métrica de inadimplência do Conselho de Normas Internacionais de Contabilidade, indicado pela sigla IFRS, o UBS-BB observam uma piora mais acentuada no indicador, de 1 ponto percentual – de 6,6% no terceiro trimestre de 2022 para 7,6% no quarto. Essa medida de inadimplência considera tanto empréstimos já atrasados quanto aqueles nos quais o banco considera que sofrerá calote.

Segundo os analistas, a piora pode estar relacionada à Americanas, que tem o Santander Brasil entre seus principais credores e entrou com pedido de recuperação judicial no mês passado. De acordo com documento divulgado pela varejista, o Santander tem cerca de R$3,66 bilhões a receber da empresa, que pediu recuperação judicial. No balanço divulgado ontem, o banco disse que elevou suas provisões para devedores duvidosos em um ritmo mais intenso que o anteriormente projetado devido a um “evento subsequente” no segmento de atacado, sem citar a Americanas.

Ainda segundo as normas IFRS, o índice de empréstimos de maior risco do Santander Brasil, classificados nos níveis E-H, saltou de 7,5% ao final de setembro para 8,3% ao final de dezembro. O UBS-BB destaca que tanto esse indicador quanto o de inadimplência em IFRS estão “nos maiores níveis em anos”.

O índice de cobertura, medida que afere a capacidade das provisões do banco de cobrirem empréstimos com atrasos acima de 90 dias, está em 230% no critério BR GAAP e em 93% em IFRS, indicando um colchão de provisionamento muito menor em critérios alternativos, dizem os analistas.

O UBS-BB reiterou visão neutra para as units do Santander Brasil, com preço-alvo de R$31,00, indicando um potencial implícito de alta de 13%. Os papéis acumulam queda de cerca de 8% nos últimos 12 meses.

Nesta sexta-feira, perto das 11h20, o ativo recuava 0,44%, a R$27,28.