Por Bruno Andrade
As ações do varejo brasileiro viveram um momento de ouro na última década. Os papéis do Magazine Luiza (MGLU3) saltaram 54.700% entre outubro de 2015 e novembro de 2020. As ações saíram de R$ 0,05 e foram para R$ 27,40 em sua máxima histórica. No entanto, com o início da nova década, o varejo brasileiro passou a viver um momento muito turbulento.
O próprio Magazine Luiza viu suas ações derreterem 87,6% depois da máxima histórica. As ações saíram de R$ 27,40 e afundaram para R$ 3,80 (valor que a ação fechou no último dia de maio). Um dos motivos para essa queda são os prejuízos incansáveis que a empresa vem reportando para o mercado.
Em 2022, a companhia apresentou um prejuízo de R$ 499 milhões. A pá cal sobre a empresa foi o resultado dos três primeiros meses de 2023. A empresa da Família Trajano apresentou um prejuízo de R$ 391 milhões somente no 1º trimestre de 2023.
Outra companhia que se encontra em uma situação assustadora é a Americanas (AMER3). A empresa entrou em recuperação judicial após encontrar “fraude” no balanço. A varejista informou que possui um rombo de R$ 43 bilhões e um caixa de apenas R$ 8 bilhões. A empresa ainda não reportou nenhum outro balanço após o escândalo.
Já a Marisa (AMAR3) está uma situação menos dramática que a Americanas, mas ainda assim precisou o fechar lojas 90 lojas que não eram consideradas rentáveis. No início de maio, a empresa anunciou um programa de corte de despesas e mudanças organizacionais. O plano de otimização de despesas tem meta de reduzir gastos em R$50 milhões por ano.
Com as decisões, a Marisa, última anunciar sua crise, escancarou de vez que o varejo está em uma situação complicada. Mas afinal, o que explica essa situação tão difícil para o setor?
De acordo com Frederico Nobre, analista da Warren, o varejo é um segmento muito suscetível às questões macroeconômicas, como inflação e juros. “A alta de juros é dos fortes motivos para essas empresas estarem nessa situação complicada, visto que o juro alto freia o consumo da população por causa do custo elevado para se obter crédito”, explica.
Já Pedro Serra, analista da Ativa Investimentos, comenta que o juro mais duro também complica a situação das empresas em relação à dívida. “Algumas companhias pegaram dinheiro emprestado para se expandir ou pegaram o dinheiro emprestado para comprar mais produtos, como é o caso da Americanas e o risco-sacado”, disse.
O último ponto é a questão inflacionária, que afetou drasticamente essas empresas entre 2021 e 2022. Em abril do ano passado, a inflação atingiu o patamar de 12,3% no acumulado de 12 meses.
“A inflação alta fez o consumidor de baixa renda evitar a compra de produtos não essenciais, o que deixou a situação complicada para as empresas como Magazine Luiza, Via (VIIA3) e Americanas”, explicou Frederico Nobre.
A soma de forças da alta de juros e inflação foi o grande mal para as empresas do varejo nos últimos dois anos, visto que o aumento do montante das dívidas, por causa dos juros altos, e um consumo menor dos clientes, deixou o modelo de negócios dessas empresas insalubre.
“O custo da dívida mais alto deixou e o faturamento menor e pressionou os balanços que vieram com fortes prejuízos”, explicou Nobre.
O que esperar de Magazine Luiza, Via, Americanas e Marisa?
Para os analistas, as quatro empresas devem continuar apresentando resultados pressionados até o final de 2023, mas eles divergem sobre o motivo. Pedro Serra, da Ativa, acredita que a taxa de juros deve continuar em um patamar elevado até o abril de 2024.
“O corte na Selic deve acontecer somente em abril de 2024, visto que os núcleos da inflação continuam pressionados, mesmo com a desaceleração do índice”, afirmou Serra. Sendo assim, o custo da dívida dessas empresas deve continuar pressionado em meio a um menor consumo com ambos os motivos puxados pela Selic em 13,75%.
Já Frederico Nobre, da Warren, acredita que o corte de juros deve acontecer entre agosto e setembro.
“Vai depender do comunicado da próxima reunião do Copom, a sinalização virá após a aprovação do arcabouço fiscal pelo Senado, que deve aliviar a pressão sobre as questões fiscais”, disse Nobre.
Varejo está totalmente perdido?
Ainda assim, o especialista acredita que essas empresas devem continuar pressionadas, visto que essa redução dos juros vai demorar para refletir em lucro para essas empresas.
“O Magazine Luiza deve apresentar prejuízo até o final do ano, principalmente a companhia trabalha em uma ambiente de margens apertadas e alta competividade”, disse.
“Você não compra no Magazine Luiza porque gosta do produto dele, você compra no Magalu porque é mais barato que nas Casas Bahia, Americanas, entre outras. Ou seja, essas empresas levam o cliente porque vendem com uma margem de lucro menor, isso dificulta a recuperação mesmo após uma queda de juros”, explicou Nobre.
Sendo assim, os analistas comentam que o melhor é o investidor tomar cuidado e não comprar as ações dessas quatro empresas.
Ainda que o setor se encontre em uma situação difícil, os analistas comentam que ainda há algumas empresas do segmento que podem render para o investidor. Segundo Pedro Serra, da Ativa, o melhor para o investidor é aportar o dinheiro nas companhias do varejo de alta renda.
“As empresas de Varejo para as classes A e B estão menos suscetíveis aos problemas macroeconômicos, visto que as famílias com maior poder aquisitivo dificilmente sentem grandes impactos inflacionários”, afirmou Serra.
Ele afirma que Renner (LREN3), Arezzo (ARZZ3) e Grupo Soma (SOMA3) se encaixam nesse padrão, mesmo que a Renner ainda seja um pouco mais focada na classe C. “As três companhias apresentaram lucro nos últimos trimestres, o que mostra a resiliência delas em relação as demais do setor, que amargaram duros prejuízos”, disse Serra.
Sendo assim, os analistas possuem recomendação de compra para as três ações. A Renner possui preço-alvo de R$ 28 da Ativa e R$ 23,09 da Warren. Já o preço-alvo da Arezzo é de R$ 105,70 na Ativa Investimentos e R$ 86,60 na Warren. Por fim o Grupo Soma tem preço-alvo de R$ 17,40 na Ativa e R$ 13,10 na Warren. O preço-alvo é o valor que os analistas acreditam que a ação deve terminar o ano de 2023.