Por: Bruno Andrade
A adesão do Magazine Luiza (MGLU3) ao programa Remessa Conforme anunciada ontem é uma tentativa da empresa de se proteger e se igualar aos concorrentes asiáticos como Shein, Shoppe e AliExpress, ampliando as importações de produtos de mercados como a China, disseram analistas ouvidos pela Mover.
Para o analista da VG Research Lucas Lima, o objetivo da Magalu com a medida é evitar a cobrança atual de 60% de imposto sobre importações. “Acreditamos que o movimento é positivo para a companhia, visto que busca igualar as condições com seus principais competidores asiáticos”, explicou.
Representantes do varejo têm criticado as regras do programa do governo que permite a isenção de impostos de importação para encomendas de até US$50 em marketplaces cadastrados.
Para Andre Krizak, executivo que atua há mais de 25 anos no setor, o programa cria uma “concorrência desleal” com empresas que importam produtos com a carga tributária diferenciada. “O Magazine Luiza está usando uma estratégia para se adaptar ao que o governo está fazendo com o varejo brasileiro”, avaliou.
No entanto, os especialistas ouvidos pela Mover afirmaram que mesmo com o Remessa as varejistas brasileiras devem ter dificuldade em igualar as condições com as concorrentes da Ásia.
“As empresas asiáticas têm uma quantidade muito maior de produtos disponíveis do que o Magalu. Além disso, elas possuem escala de venda global”, afirmou o professor da Trevisan Escola de Negócios, Acilio Marinello.
A adesão da varejista ao programa tampouco deve trazer grandes impactos em termos de receita ou geração de caixa. “A estratégia atual do Magalu é focar em produtos de R$300 a R$1000, ou seja, que não se enquadram na isenção de até US$50. Outro ponto é que apenas 3% do Volume Bruto de Mercadorias [GMV, na sigla em inglês] da companhia está direcionado a produtos de tickets baixos”, disse Lima, da VG Research.
De modo geral, o grande consenso de analistas é que mesmo com o anúncio da novidade a Magalu não será capaz de mudar as expectativas para a ação, que já desvaloriza mais de 35% desde o início do ano na B3.
Segundo o analista da Mirae Asset Carlos Soares, o papel deve continuar pressionado por juros ainda elevados e o forte endividamento das famílias brasileiras. “O cenário macro segue desafiador, mas a companhia pode se beneficiar da melhora do cenário macroeconômico de queda da Selic em andamento e da desalavancagem das famílias. Por isso, nossa recomendação para a ação é ‘neutra’”, disse Soares.
Marinello, da Trevisan, disse ainda que o papel até pode encontrar alguns gatilhos nos próximos meses, mas que para isso é necessário que a empresa faça ótimas vendas na Black Friday e no Natal. Nessa operação de alto risco, ele disse que a ação pode chegar a R$2,50 até o final do ano – nesta quarta-feira, o papel era cotado a R$1,76 na B3.
“O que recomendamos para o investidor que já tenha os papéis é manter a posição e esperar a recuperação das quedas dos últimos anos. Para quem ainda não comprou a ação, o melhor é ter conservadorismo e esperar melhores sinais para fazer aportes. O investidor tem que ser muito arrojado para comprar a ação agora”, disse Marinello.