Por: Gustavo Boldrini
O Itaú Unibanco frustrou consensos nas principais linhas do seu balanço do quarto trimestre, refletindo impacto de um reforço no provisionamento para cobrir a exposição de operações de crédito envolvendo a Americanas, que entrou em recuperação judicial. Para o ano de 2023, o banco prevê aumento nas provisões e uma desaceleração nas concessões de crédito, em linha com a piora do ciclo de inadimplência no país.
O maior banco comercial da América Latina reportou lucro líquido gerencial de R$7,67 bilhões entre outubro e dezembro de 2022, abaixo do consenso de analistas colhido pela Mover, que previa R$8,28 bilhões de lucro. O indicador cresceu 7,1% na base anual, mas caiu 5,1% na base sequencial.
O retorno recorrente gerencial sobre o patrimônio líquido (ROE), medida que afere a rentabilidade do banco, caiu 1,7 ponto percentual entre o terceiro e o quarto trimestre, ficando em 19,3% – abaixo da projeção média do mercado, de 20,8%.
Segundo o Itaú, o resultado foi impactado por um provisionamento extra de R$719 milhões para cobrir 100% da exposição do banco a uma “empresa de grande porte que entrou em recuperação judicial”. Sem esse efeito, disse o Itaú, o lucro líquido gerencial atingiria R$8,4 bilhões, com um ROE de 21,0%.
Com isso, o custo do crédito, medida que contempla as despesas do banco para provisionar eventuais perdas com calotes, avançou 22,7% na base sequencial, a R$9,8 bilhões, terminando 2022 com uma despesa acumulada de R$32,3 bilhões – acima da projeção do próprio banco, que previa o custo do crédito num intervalo entre R$28,0 bilhões e R$31,0 bilhões. Para 2023, o Itaú disse prever uma despesa com provisões entre R$36,5 bilhões e R$40,5 bilhões.
A margem financeira, que representa a receita com juros e operações de tesouraria do banco, manteve trajetória de alta, avançando 17,8% na comparação anual e 4,5% ante o trimestre anterior, a R$25,0 bilhões, número acima da projeção de R$24,5 bilhões, com destaque para o crescimento sequencial de 45% na margem com o mercado, “em função dos maiores ganhos com a administração dos ativos e passivos do banco no Brasil e por maiores ganhos na tesouraria da América Latina”, segundo o Itaú.
A margem com clientes avançou 3,6% na base sequencial e 21,7% na base anual, em linha com o aumento dos juros cobrados aos clientes na esteira do avanço da taxa Selic ao longo do ano passado.
Como esperado por analistas, a inadimplência de empréstimos não pagos há mais de 90 dias do Itaú avançou 0,1 ponto percentual na comparação com o terceiro trimestre, a 2,9%.
A carteira de crédito total do Itaú cresceu 2,7% na base sequencial, excluindo efeitos cambiais, a R$1,14 bilhão, com destaque para operações de pessoa física, em especial cartão de crédito, que teve aumento de 4,9% entre o terceiro e o quarto trimestre.
No acumulado do ano, o Itaú reportou um crescimento de 11,1% na sua carteira de crédito total, contra expectativa de 15,5% a 17,5%. Para 2023, o banco prevê uma desaceleração no avanço da carteira para o intervalo entre 6% e 9% em relação a 2022.
Em outra projeções divulgadas hoje para o ano, o Itaú disse prever um crescimento de 13,5% a 16,5% na margem financeira com clientes e de 7,5% a 10,5% nas receitas com serviços. A margem financeira com o mercado deve ficar positiva entre R$2,0 bilhões e R$4,0 bilhões.
As ações preferenciais do Itaú fecharam o pregão desta terça-feira em queda de 2,31%, a R$24,55. Nos últimos 12 meses, o papel cai 0,27%.
A diretoria do banco comenta os resultados e novas projeções em coletiva de imprensa na quarta-feira, às 08h00, e em teleconferência com analistas às 10h00.