Empresa também comentou sobre "curtailment"

Governo deveria priorizar baterias elétricas a térmicas, diz Echoenergia, da Equatorial; estuda leilão

Governo deveria priorizar baterias elétricas a térmicas, diz Echoenergia, da Equatorial; estuda leilão

São Paulo, 11/11/2025 – A Echoenergia, unidade de renováveis da Equatorial, avalia que baterias poderiam apoiar o sistema elétrico no Brasil em momentos de redução na geração eólica ou solar, até com custos menores do que termelétricas, e estuda participar de um leilão em preparação pelo governo para a contratação de sistemas de armazenamento de energia, disse o diretor-presidente da companhia, Liu Aquino, em conversa com o Faria Lima Journal.

Uma inédita licitação para projetos com baterias foi pré-agendada pelo Ministério de Minas e Energia para abril de 2026, e diversas empresas disseram que estudam entrar na disputa, incluindo a Axia Energia, ex-Eletrobras. Outros grupos, como WEG e a chinesa Huawei, pretendem fornecer equipamentos para os participantes.

“Nós estamos estudando esse tema, estamos olhando ele há uns dois anos”, disse Aquino. “Faz sentido para o sistema a bateria entrar. Porque hoje você tem excesso de energia no horário de maior sol, e falta energia no início da noite. Uma solução para isso são as termelétricas, mas são muito caras… mais caras que as baterias”.

Após anos de expansão acelerada das renováveis no Brasil, com grandes usinas eólicas e solares, e com milhões de placas solares em telhados, o sistema elétrico sofre hoje com sobreoferta crônica em algumas horas do dia. De outro lado, técnicos apontam crescentes riscos de falta de potência para atendimento à demanda em outros momentos, quando não há geração solar ou vento.

Para endereçar esse risco, o governo agendou para março de 2026 dois leilões que contratarão termelétricas e expansões de hidrelétricas, com objetivo de fornecer potência ao sistema e evitar blecautes. Em seguida, será realizado o leilão para baterias.

“Se eu estivesse no ministério, a única coisa que eu faria diferente seria antecipar o leilão de baterias, e postergar o de térmicas. Colocar o máximo de capacidade no de baterias, e depois fazer o de térmicas, em função do que não conseguir contratar. Priorizaria, porque é mais barato”, disse Aquino.

Pelos cálculos do CEO da Echoenergia, o custo total da contratação de termelétricas– que pelas regras dos leilões recebem uma receita fixa e mais uma receita variável, atrelada ao custo do combustível– superaria “muito” os custos gerados ao sistema pelas baterias, que receberão só receita fixa.

CORTES DE GERAÇÃO
A sobreoferta de renováveis no Brasil também tem forçado o desligamento de usinas eólicas e solares em diversos momentos, por excesso de geração frente à demanda ou falta de capacidade de transmissão para escoar toda energia– problema conhecido tecnicamente como “curtailment”, que tem reflexo direto sobre o faturamento das empresas do setor, incluindo a Echoenergia e rivais como Auren, Engie e outras.

Se o governo optar por contratar termelétricas com pouca flexibilidade, que demandam maior tempo de acionamento e depois precisam ficar muitas horas ligadas, como usinas a carvão, “pode até gerar mais curtailment”, alertou Aquino, da Echoenergia, reforçando argumento pelas baterias.

Além do impacto sobre o faturamento dos geradores, o “curtailment” tem levado empresas a postergarem investimentos em expansão, o que fez com que o problema entrasse no radar até de políticos, principalmente da região Nordeste, onde novos projetos eólicos e solares minguaram mais recentemente. A própria Echoenergia pisou no freio.

Mais recentemente, o Congresso aprovou dispositivos na Medida Provisória 1304 que permitem ressarcimento de parte das perdas com os cortes de geração, quando não forem apenas por sobreoferta. A regra foi questionada por alguns especialistas preocupados com efeitos sobre as tarifas de energia, mas bem recebida no setor de renováveis.

“Se a MP for sancionada com esses artigos referentes ao “curtailment”, certamente ajuda bastante na previsibilidade (de receita)… dá um grande alívio, em nossa visão. Podemos começar a ver alguns projetos avançando com essa medida”, disse o CEO da Echoenergia.

“Acho que neste ano houve um reconhecimento de que isso é um problema, de fato. Parece que no ano passado éramos só nós geradores falando, e não víamos muita ação. Na MP passou um texto que pode solucionar pelo menos parcialmente esse problema. Os geradores estavam pagando essa conta sozinhos… mas é um problema do sistema”, completou Aquino.