Ex-CEO da Kabum diz ter sido demitido pelo Magalu (MGLU3) por vingança

Veja entrevista com Leandro Ramos, da Kabum, sobre o escândalo com o Magalu

Agência Brasil
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Por Bruno Andrade

“A nossa demissão da Kabum pelo Magazine Luiza (MGLU3) foi uma retaliação”, disse o ex-CEO e fundador da Kabum, Leandro Ramos, em entrevista exclusiva ao Faria Lima Journal (FLJ) nesta sexta-feira (21).

Leandro e o seu irmão foram demitidos por justa causa após voltarem de uma suspensão em fevereiro. De acordo com o fundador da Kabum, o Magazine Luiza fez uma caça às bruxas na empresa após ele e seu irmão abrirem um processo contra o Itaú BBA pedindo a suspensão da venda da companhia para a varejista de Luiza Trajano.

“Nós abrimos o processo contra a empresa em 31 de janeiro, um pouco depois de mês, eles vieram de forma truculenta e demitiram imediatamente 12 funcionários, sendo 6 diretores com anos de empresa e nossas secretárias”, disse Leandro.

“Eles fizeram uma incursão. Eles chegaram com uma diretora de RH, de tecnologia e de jurídico, e entraram na empresa sem se identificar”, disse Ramos.

“A primeira coisa que eles fizeram foi entrar na nossa sala cofre, que faz o monitoramento de todos os centros de distribuição e de todas as salas da Kabum, e exigiram que todo sistema de monitoramento de câmaras da Kabum fosse desligado”, comentou.

Segundo Leandro Ramos, isso causou uma grande apreensão em toda a equipe da Kabum, que acatou a exigência dos representantes do Magazine Luiza.

“Na sequência, eles subiram na minha sala e na sala do meu irmão, eles disseram para as nossas secretárias que elas não poderiam mexer em mais nada no momento e que elas estavam demitidas”, disse Ramos.

“Eles não permitiram elas pegarem os objetivos pessoais e as demitiram de uma forma extremamente vexatória e instantânea”, disse. O fundador da Kabum afirmou ainda que o Magalu não permitiu a eles pegarem os seus pertences pessoais.

“Dentro dos computadores que ficaram lá, tem informações pessoais minhas, como declarações de imposto de renda e extratos bancários”, explicou.

Além disso, ele comenta que os representantes do Magazine Luiza tomaram outras atitudes drásticas. “Eles começaram a colocar o celular na cara delas com uma abordagem como se elas fossem criminosas, e elas disseram ‘por que vocês estão nos gravando?’. E eles responderam ‘estamos gravando porque o monitoramento de câmaras foi desligado”, disse.

Por fim, ele comentou que ele e seu irmão entram com processos judiciais contra o Magazine Luiza por causa das medidas tomadas pela companhia.

“Nós entramos com uma ação na justiça contra o Magazine Luiza para ter acesso às filmagens para comprovar tudo que estou te narrando aqui. As gravações vão comprovar as péssimas atitudes do Magazine Luiza”, conclui Leandro Ramos, um dos fundadores da Kabum.

Procurado pela reportagem, o Magalu não quis comentar o assunto.

Entenda o processo dos fundadores do Kabum contra o Itaú BBA e o Magalu

Os irmãos Ramos abriram um processo em 31 de janeiro de 2023 pedindo a suspensão da venda da Kabum para o Magazine Luiza. Segundo documento obtido pelo Faria Lima Journal, uma das queixas dos irmãos Ramos no processo é sobre a forma de pagamento.

A transação foi acordada com o pagamento de R$ 1 bilhão e mais outras 125 milhões de ações do Magazine Luiza.O valor total na época ficou estimado em R$ 3,5 bilhões.

No dia que a transação foi fechada, 15 de julho de 2021, cada ação do Magazine Luiza valia R$ 23,05. Na última quinta-feira (20), o papel da varejista fechou o pregão cotado a R$ 3,30, um tombo de 85,7% na comparação com o valor negociado. Essa forte queda é uma das contestações dos irmãos Ramos, antigos donos da Kabum.

“O contrato não previu nenhum mecanismo que garantisse a preservação do valor do preço na data do fechamento do acordo”, mostra o documento da ação judicial.

Eles também comentam que o Itaú BBA não foi parcial em sua assessoria e fez de tudo para que os clientes fechassem negócio com o Magazine Luiza.

“A Kabum recebeu ofertas de várias varejistas, mas o Itaú BBA, seja por condutas omissivas, seja por condutas comissivas, manobrou para que propostas ou negociações com outros interessados fossem sabotadas, minadas ou abandonadas de modo que os autores fechasse negócio com o Magazine Luiza”, diz o documento.

Eles afirmam que uma das motivações para isso, é que o diretor do setor de fusões e aquisições do Itaú BBA, Ubiratan Machado, é cunhado de Frederico Trajano, presidente e membro da família controladora do Magazine Luiza.

“As esposas de Ubiratan Machado e Frederico Trajano são irmãs. É de uma torpeza sem tamanho que o Sr. Ubiratan Machado, nos 18 meses em que, na qualidade de diretor de M&A do Itaú BBA, assessorou e representou os autores na negociação com o Magazine Luiza, não os tenha informado da circunstância de que ele era cunhado do homem que estava do outro lado da mesa”, diz o documento.

Por fim, outro fator foi que o Itaú BBA coordenou a oferta secundária de ações do Magalu feita para a companhia concretizar a aquisição da Kabum. Segundo o documento, o Magazine Luiza pagou R$ 99,5 milhões em comissões aos bancos coordenadores e colocadores.

“Não se sabe o quanto desse montante foi direcionado ao Itaú BBA, mas levando-se em consideração que o banco foi o coordenador líder da oferta, é plausível se presumir que a quantia foi superior à remuneração paga pelos donos do Kabum para o BBA assessorá-los na venda para o Magazine Luiza”, revela a ação.