Prates comentou aquisição da Lighsource BP pela estatal

Ex-CEO critica entrada da Petrobras em energia solar e fala em "má alocação de capital"

Ex-CEO critica entrada da Petrobras em energia solar e fala em "má alocação de capital"

São Paulo, 17/12/2025 – A entrada da Petrobras no setor de energia solar, por meio de aquisição de uma participação minoritária em ativos brasileiros da Lightsource, subsidiária de renováveis da britânica BP, foi questionada por Jean Paul Prates, ex-CEO da estatal, que citou “risco de confundir transição energética com má alocação de capital”.

A Petrobras anunciou na terça-feira (17/12) a compra de 49,9% da Lightsource, por valor não revelado, passando a ter “gestão compartilhada” de uma carteira de ativos que inclui a usina fotovoltaica de Milagres, em Albaiara, no Ceará, com 212 megawatts em capacidade instalada, além de entre 1 GW e 1,5GW em projetos em estado mais avançado de desenvolvimento e outros menos maduros.

Prates, que durante a passagem pelo comando da Petrobras, entre 2023 e 2024, defendeu amplamente investimentos da petroleira em negócios “verdes” e transição energética, questionou o sentido de a empresa entrar em geração solar em grande escala, “justamente o segmento mais saturado das renováveis”, e por meio de uma joint-venture de controle compartilhado, segundo ele “talvez o ponto mais preocupante”.

“É o pior dos mundos. A Petrobras assumiria risco financeiro relevante sem comandar a estratégia, sem definir prioridades geográficas, sem ditar o ritmo de investimentos e sem garantir captura de sinergias. Na prática, entraria com capital enquanto o parceiro monetiza ativos maduros. Isso não é parceria estratégica. É transferência de risco com retorno limitado”, escreveu o ex-CEO, em página na plataforma online Medium.

A transação “levanta questões grave de coerência estratégica, racionalidade econômica e visão de longo prazo”, acrescentou. “Trata-se de um negócio financeirizado, de margens comprimidas, baixo risco e retorno previsível. Um bom ativo para fundos de infraestrutura. Um negócio legítimo para empresas privadas focadas em gestão de portfólio e PPAs (contratos de fornecimento de energia) corporativos. Mas não um passo óbvio, nem inteligente, para uma companhia com o perfil, a história e as responsabilidades da Petrobras”.

SINERGIAS, ESTRATÉGIA
Durante o mandato na Petrobras, Prates mostrou-se entusiasta de investimentos em usinas eólicas em alto-mar– ele tinha uma maquete de turbina offshore na mesa, e colocou a companhia para desenvolver projetos próprios na área. Antes, como senador, ele havia proposto projeto de lei regulamentando as eólicas offshore, mais tarde aprovado no Congresso.

Ao analisar a operação com a Lightsource, Prates voltou a falar nas eólicas offshore, que segundo ele seriam um dos “caminhos naturais” para a Petrobras, pela “engenharia marítima”, citando também “biocombustíveis avançados conectados ao refino e à química” e o hidrogênio de baixo carbono, que poderia ser “articulado com gás, captura de carbono e indústria pesada”.

Já o investimento em solar “não gera aprendizado estratégico relevante” e “não cria cadeias industriais nacionais”, apontou ele. “Não dialoga com a base tecnológica da companhia. Não fortalece a soberania energética. É, no máximo, uma diversificação financeira, e ainda assim questionável”.

Para Prates, “a Petrobras não precisa de solar para aprender renováveis”. “Precisa de renováveis para redefinir o futuro do seu core industrial, tecnológico e estratégico. Isso exige escolhas coerentes, integradas e alinhadas com o interesse nacional. Comprar metade de uma plataforma solar global, sem controle, sem sinergia estrutural e sem projeto industrial associado, não atende a esses critérios”.

O ex-CEO foi demitido da Petrobras em maio de 2024, após uma crise gerada por discussão sobre a distribuição de dividendos extraordinários da estatal que gerou um mal-estar com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Ele também era cobrado pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva a acelerar investimentos em fertilizantes e em gás natural.

Antes, em governos petistas, a Petrobras chegou a investir em parques eólicos. Os ativos foram depois vendidos durante o governo de Jair Bolsonaro, durante gestão de Roberto Castello Branco como CEO.

PLANOS DA PETROBRAS
Ao divulgar a transação com a Lightsource, a Petrobras disse que dá “um passo significativo e estratégico ao ingressar no segmento de geração de energia solar, ampliando sua atuação no mercado de fontes renováveis no Brasil”, citando ainda a criação de uma plataforma que pode agregar novos negócios, “como armazenamento de energia”.

A atual CEO, Magda Chambriard, defendeu o negócio como “avanço fundamental na trajetória da companhia rumo à Transição Energética Justa”, e citou parques fotovoltaicos em implantação pela Petrobras nas refinarias Regap e Replan. “Estamos comprometidos em liderar esse processo no país, ampliando nossa presença em novas fontes energéticas, promovendo a descarbonização de nossas operações e produzindo combustíveis mais sustentáveis”.

No Plano de Negócios 2026-2030, a Petrobras cortou US$2,6 bilhões do orçamento previsto para energia eólica e solar em relação ao planejamento anterior, para um total de US$1,8 bilhão, enquanto aumentou investimento previsto em bioprodutos, como etanol, biorrefino, bioediesel e biometano. Usinas eólicas offshore saíram das projeções, e são apontadas como uma alternativa viável apenas após 2031.