São Paulo, 28/02/2025 – A Equatorial Energia está perto de fechar a venda de um pacote de linhas de transmissão, em meio a esforços para reduzir a alavancagem, que chegaram a envolver avaliações e até negociações iniciais sobre um possível desinvestimento de ativos de geração renovável, disseram à Mover três fontes com conhecimento do assunto.
A operação pelos projetos de transmissão, em fase final, deve ser fechada com a Verene Energia, controlada do grupo canadense CDPQ, disseram duas das fontes, e pode envolver cerca de R$8 bilhões, de acordo com uma dessas pessoas.
Em paralelo, a Equatorial considerou a venda da controlada de geração renovável Echoenergia, ou de alguns parques eólicos e solares da empresa, mas recuou do movimento ao menos por enquanto, segundo as fontes, que pediram anonimato devido à sensibilidade do assunto.
A Equatorial chegou a se engajar em conversas iniciais com um interessado na Echoenergia, antes de desistir do negócio, segundo uma das fontes. Não se descarta, porém, que essa operação possa voltar à mesa, uma vez que a visão é de que o negócio não foi adiante por dificuldades de se precificar os ativos em meio a um problema regulatório que tem limitado a geração de renováveis.
Procurada, a Equatorial não respondeu pedidos de comentários sobre a potencial transação pelos ativos de transmissão nem sobre a Echoenergia.
CORTES AFETAM M&A
Desde meados de 2024, usinas eólicas e solares têm sido obrigadas a parar de produzir em alguns momentos para evitar riscos de sobrecarga no sistema elétrico, principalmente por restrições de capacidade de transmissão ou até falta de demanda para a geração no momento.
Os ‘cortes’ chegaram a atingir 20% da geração solar total em setembro de 2024, passando de 15% em vários meses, e nos parques eólicos as restrições chegaram a pico de 15,5% no mesmo periodo, operando perto de 10% na maior parte do tempo, segundo Itaú BBA. As empresas mais afetadas têm sido Auren, Engie, Serena, Equatorial e CPFL, de acordo com analistas do banco.
Apenas no terceiro trimestre, a Equatorial reportou perdas de energia de mais de 36% devido às restrições de geração. No ano completo de 2024, a Auren disse ter sofrido impacto negativo de R$120 milhões devido aos cortes.
No momento, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) avalia formas de diminuir as restrições de geração ou compensar parte delas. Governadores do Nordeste e empresas já se queixaram do tema ao presidente Lula, que pediu que ministros avaliem possíveis soluções, segundo relato do Estadão. Eventuais desdobramentos disso poderiam afetar o valor de ativos renováveis, segundo as fontes.
“Hoje tem sido muito difícil sair fusões e aquisições de renováveis. É quase impossível fazer o ´valuation´ com o curtailment. Quanto de corte você considera? Não tem como saber”, disse à Mover uma fonte que atua com essas transações.
Eventualmente, a perspectiva de solução para o problema das restrições de geração poderia fazer a Equatorial desistir de se desfazer da Echoenergia, segundo as fontes. A empresa de renováveis foi adquirida pela Equatorial em 2022, por R$7 bilhões, na época a maior transação do setor no pais.
No caso dos ativos de transmissão, a Equatorial avalia vender suas sete concessões restantes, após já ter fechado um primeiro negócio antes, também com a CDPQ, segundo as fontes. As tratativas estão em fase final e um anúncio pode acontecer nas próximas semanas, disse uma das fontes.
A Equatorial encerrou o terceiro trimestre com alavancagem de 3,2 vezes, ante 3,6 vezes no mesmo período de 2023. Em novembro, o CEO da Equatorial, Augusto Miranda, disse que a empresa continuava de olho em oportunidades para reduzir o indicador de alavancagem, incluindo medidas “inorgânicas”, como reciclagem de ativos.
(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)