IG4 negocia aquisição da geradora

De candidata a IPO à recuperação extrajudicial, Rio Alto atribui crise a "confisco" de energia

De candidata a IPO à recuperação extrajudicial, Rio Alto atribui crise a "confisco" de energia
Rio Alto

São Paulo, 13/08/2025 – O grupo de renováveis Rio Alto, que partiu para recuperação extrajudicial poucos anos depois de tentativa de abertura de capital, atribuiu sua crise financeira a restrições de geração enfrentadas por usinas eólicas e solares, que comparou a um “confisco” sob “determinação estatal”, de acordo com documentos do processo.

O plano de recuperação da Rio Alto envolve R$1,7 bilhão em debêntures e créditos bancários, e os sócios propõem a venda do controle à gestora IG4 Capital, especializada em reestruturação, que faria um aporte de capital e renegociações com credores.

Em documentos judiciais, a Rio Alto, que chegou a tentar um IPO em 2021, para levantar mais de R$800 milhões, disse que começou a enfrentar problemas depois que cortes de produção de usinas renováveis aumentaram substancialmente, a partir de 2023.

As restrições de geração, conhecidas no setor como “curtailment”, devem-se a restrições no sistema elétrico por falta de capacidade de transmissão ou de demanda. Para evitar um excedente de energia na rede que levaria a riscos de blecautes, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) pede que algumas usinas sejam desligadas.

“Em termos gerais, trata-se de uma determinação estatal de redução forçada de geração de energia elétrica”, afirmou a Rio Alto em documentos do processo. Embora o ONS não seja um órgão estatal, o Ministério de Minas e Energia escolhe o diretor-geral do órgão, que atua conforme regulação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Em junho, os cortes atingiram 14% da geração eólica e quase 28% da produção solar, segundo cálculos do Itaú BBA, que cita expectativas do ONS de que restrições poderiam atingir 15% em média para as duas fontes entre 2026 e 2029.

Nos documentos de recuperação extrajudicial, a Rio Alto usa a analogia de uma indústria de produção de madeiras para explicar a situação. “É como se, depois de prontas toneladas de madeiras a serem colocadas à venda, houvesse o confisco de uma significativa parte.”

“Em razão do impacto causado por essa dinâmica do ‘curtailment’ no fluxo de caixa do Grupo Rio Alto, apesar de todos os esforços da companhia, há um sério risco de inadimplência quanto ao pagamento de certos débitos junto aos seus principais credores”, afirmou.

A Rio Alto também cita perdas devido à queda de torres de transmissão de energia que escoam a produção de seus parques, no começo de ano, devido a chuvas, que teria gerado aumento de despesas da ordem de R$105 milhões mensais com compra de energia para substituir a geração não entregue e penalidades.

M&A
Em meio às dificuldades, a Rio Alto assinou acordo para negociar por 60 dias, com exclusividade, potencial venda à IG4 Capital. A transação envolveria injeção de pelo menos R$230 milhões na companhia por um fundo da IG4, renegociação de dívidas com credores, fornecedores e fiadores.

Os acionistas da Rio Alto receberiam total de R$26 milhões, sendo R$11 milhões na data do fechamento, e o restante em parcelas anuais. Credores de debêntures estariam sujeitos a suspensão de pagamentos (standstill) e desconto sobre o valor original de dívida (haircut).

Entre os principais credores da Rio Alto estão o Banco BTG, Banco Alfa, Banco Sumitomo Mitsui e debenturistas.

GOVERNO NEGOCIA
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, tem buscado negociar um acordo para encerrar disputa judicial iniciada por empresas afetadas pelos cortes de geração, em meio à pressão de governadores do Nordeste que viram secar investimentos em novas usinas na região devido à insegurança dos investidores com a situação.

Em julho, Silveira disse que “há ansiedade de empresas internacionais” que atuam no Brasil sobre uma solução para o problema do “curtailment”, e que o tema está sendo tratado em um grupo de trabalho criado pelo governo.