Com fala mansa, mas estilo ‘durão’, novo CEO da Eletrobras (ELET3) pode agilizar mudanças

Ivan Monteiro assumiu o novo cargo após forte pressão sobre Wilson Ferreira

Fernando Frazão/Agência Brasil
Fernando Frazão/Agência Brasil

Por: Luciano Costa

O novo presidente da Eletrobras, Ivan Monteiro – que assumiu o cargo após a inesperada renúncia do antecessor Wilson Ferreira – traz um novo estilo à companhia, com perfil mais discreto e uma gestão voltada “para dentro”, disseram à Mover diversas fontes próximas ao executivo, com apostas de que ele pode acelerar mudanças na ex-estatal.

A maior elétrica da América Latina informou na segunda-feira a saída de Ferreira, que estava no cargo há pouco mais de um ano, depois de voltar à empresa na sequência do processo de privatização, concluído em meados de 2022. A notícia derrubou as ações ordinárias da Eletrobras em 3,4% na sessão seguinte.

A reviravolta no comando foi impulsionada por cobranças do conselho para que Ferreira acelerasse a transformação da companhia, com alguns acionistas privados – notadamente a gestora 3G Radar – também discordando de estratégias para lidar com a constante pressão do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a empresa, segundo fontes.

Agora, sob Monteiro, há expectativa de que o relacionamento com a União possa melhorar, e também de que ele imprima maior velocidade para atender às orientações do conselho, antes chefiado por ele mesmo.

“Ele tem um perfil diferente, vejo ele trabalhando muito para dentro. O Wilson Ferreira tinha uma atuação fora maior”, disse uma fonte, em referência às constantes participações do ex-CEO em eventos e associações empresariais.

“Acho que ele pode, sim, acelerar algumas medidas na mesma linha em que a companhia estava, de transformação”, disse a fonte, próxima à cúpula da Eletrobras, que falou sob anonimato.

TRABALHO DURO

Monteiro, que fez carreira de décadas no Banco do Brasil e depois foi diretor financeiro e presidente da Petrobras no governo Michel Temer, também tem chamado a atenção na Eletrobras pelo intenso ritmo de trabalho e pelas cobranças. “Ele é mega durão. E gosta de agendar reuniões presenciais às 7h30 da manhã”, disse uma segunda fonte, também sob anonimato.

“Ele tem um estilo de gestão de cobrar resultado. Ele é sempre muito gentil, não tem essa coisa de gritar, de falar alto. É sempre o mesmo tom de voz, baixo, mas ele gosta de acompanhar e de entregar resultados rápidos”, disse à Mover a conselheira da petroleira francesa TotalEnergies, Anelise Lara, que trabalhou com Monteiro na Petrobras.

“Além de muito competente e dedicado, ele se relaciona muito bem, não só com o setor privado, mas também com o setor público. Ele tem um amplo conhecimento da gestão pública. Tenho certeza de que vai contribuir para melhorar o relacionamento da Eletrobras com o ministério, com os órgãos de Brasília”, afirmou ela.

Outra pessoa que conviveu com Monteiro nessa época destacou como ele ajudou a resolver um complexo imbróglio entre a Petrobras e o governo, envolvendo a realização de um leilão de reservas excedentes de uma área cedida pela União à estatal – discussão que ficou conhecida como “cessão onerosa”.

“Ele é tranquilo, o tempo todo tranquilo, mas tem uma profundidade muito grande nas análises que faz e uma postura extremamente positiva. Teve participação grande nas discussões sobre cessão onerosa e outras”, afirmou essa fonte, acrescentando que Monteiro tem mergulhado em temas do setor elétrico desde a chegada à Eletrobras.

A habilidade de costura política, inclusive, será testada agora, uma vez que o governo Lula move ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra as regras da privatização da Eletrobras, exigindo maior participação no conselho e decisões da empresa. A União ainda detém cerca de 40% da elétrica, embora tenha apenas 10% dos votos em assembleias.

Convidado a participar da gestão da Eletrobras privada por um dos fundadores da gestora 3G Radar, Pedro Batista, Monteiro foi atraído pela ideia de um projeto “de dez anos” e aceitou a oferta pelo desejo de participar de uma jornada de privatização após 40 anos quase inteiros no setor público, disse outra fonte com conhecimento do assunto.