Por Gustavo Boldrini
A temporada de balanços do quarto trimestre dos principais bancos brasileiros deve ser marcada pelo aumento do abismo que separa resultados de Bradesco e Santander Brasil, mais penalizados pelo cenário de deterioração das carteiras de crédito no país, dos rivais Itaú Unibanco e Banco do Brasil, que têm conseguido ampliar a rentabilidade mesmo em ambiente adverso.
Os “bancões” devem registrar um lucro líquido recorrente consolidado de R$23,5 bilhões entre outubro e dezembro, segundo consenso colhido pela Mover com projeções de 10 casas de análise. O valor representa recuo de 5% na comparação com o trimestre anterior e estabilidade ante o quarto trimestre de 2021, mas com variações consideráveis entre cada instituição financeira.
Enquanto Bradesco e Santander Brasil devem ver os lucros recuarem 34% e 30% na base anual, Banco do Brasil e Itaú devem lucrar 40% e 16% a mais do que no último trimestre de 2021.
Os analistas Marcelo Telles e Daniel Vaz, do Credit Suisse, afirmaram em relatório que a “grande disparidade” entre os bancos em termos de lucro e rentabilidade deve ser o grande tema do setor em 2023. Com isso, rebaixaram a recomendação para as units do Santander de neutra para “underperform”, equivalente a venda, e reiteraram a mesma sugestão para a ação do Bradesco. BB e Itaú foram mantidos em “outperform”, equivalente a compra.
As expectativas se refletem no comportamento dos papéis das instituições nos últimos 12 meses: enquanto as ações ordinárias do BB e preferenciais do Itaú acumulam altas respectivas de 38,5% e 5,68%, os papéis preferenciais do Bradesco e as units do Santander caem 28,0% e 5,59%.
Especialistas apontam para uma piora cíclica “clássica” no setor bancário brasileiro, com a alta da taxa Selic promovida pelo Banco Central nos últimos dois anos se traduzindo em aumento de inadimplência e, consequentemente, maior necessidade de provisionamento contra calotes, o que afeta os lucros.
Dados do Banco Central mostram que o índice de inadimplência do crédito livre, que é composto por operações nas quais os bancos têm autonomia para definir as taxas cobradas dos clientes, saltou de 2,9% em janeiro de 2021 para 4,2% no final de 2022 – em linha com o avanço da Selic de 2% para os atuais 13,75% no mesmo período.
Com o início do ciclo de alta nos juros no início de 2021, Bradesco e Santander Brasil adotaram uma postura mais agressiva de concessões de crédito em busca de maiores margens, o que levou a um avanço maior na inadimplência e nas provisões no ano seguinte. Do outro lado, apontam analistas, BB e Itaú adotaram uma postura mais “prudente” durante o ciclo contracionista, buscando elevar suas carteiras de crédito em segmentos de mais qualidade e liberando as provisões de forma mais cautelosa.
A equipe do Bank of America projeta um avanço mais rápido que o esperado para o índice de inadimplência do Bradesco entre outubro e novembro, levando o provisionamento para devedores duvidosos do banco no acumulado do ano a um patamar próximo ao topo da projeção da própria instituição para 2022, entre R$25,5 bilhões e R$27,5 bilhões.
O consenso Mover prevê lucro líquido recorrente de R$4,35 bilhões para o Bradesco no quatro trimestre, queda de 16,6% na base trimestral e de 34,1% na base anual. A rentabilidade sobre o patrimônio líquido anualizada (ROE) deve despencar de 17,5% ao final de 2021 para 11% ao final de 2022.
Para o Santander Brasil, o BofA prevê crescimento mais modesto na carteira de crédito em relação aos rivais e um recuo na margem financeira, indicador que representa a receita com a cobrança de juros em operações de crédito. Além disso, os analistas projetam provisões ainda elevadas para a matriz brasileira do banco espanhol, puxadas por uma “deterioração marginal na inadimplência e um nível alto de renegociações”.
O Santander Brasil deve reportar lucro líquido gerencial de R$2,65 bilhões entre outubro e dezembro, queda de 15% na base sequencial e de 30% na base anual, enquanto o ROE deve despencar 7 pontos-base em 12 meses, de 20% para 13%.
O Itaú Unibanco, por outro lado, deve seguir com “lucratividade saudável e estável”, segundo analistas do Goldman Sachs, que veem o maior banco comercial da América Latina mantendo níveis de inadimplência e provisões “sob controle”. Eles também citam o maior volume de gastos com cartão de crédito no fim do ano como fator positivo para as receitas no período.
O lucro líquido recorrente do Itaú deve atingir R$8,28 bilhões no quarto trimestre, alta de 2,43% na base sequencial e de 15,6% na base anual, e o ROE deve ficar em 20,8%, avanço de 0,6 ponto percentual na mesma comparação, segundo o consenso Mover.
O Banco do Brasil também deve ter um novo trimestre de lucros elevados, com o aumento da margem financeira compensando a aceleração das provisões para devedores duvidosos, segundo a equipe do Credit Suisse. O banco estatal deve lucrar R$8,25 bilhões entre outubro e dezembro, alta de 39,8% na base anual e recuo de 1,32% na base sequencial. O ROE deve atingir 20,3%, com avanço de 4,5 pontos percentuais na comparação com 2021.
A temporada de balanços dos bancões brasileiros começa na quinta-feira, 2 de fevereiro, com o Santander Brasil. O Itaú reporta seus resultados no dia 7, o Bradesco no dia 9 e o BB no dia 13.