Por Luciano Costa
A desenvolvedora brasileira de projetos de geração renovável Casa dos Ventos, que anunciou em outubro uma associação com o grupo francês de energia TotalEnergies, segue com planos de expansão e tem conseguido fechar novos negócios apesar dos preços baixos no mercado de eletricidade do país atualmente, disse à Mover o diretor executivo da companhia, Lucas Araripe.
Com cerca de 1,7 gigawatt em projetos em operação e em construção, a Casa dos Ventos mira alcançar mais de 3 gigawatts em parques eólicos e solares em funcionamento até 2025, o que a levaria à liderança do setor de energia limpa do Brasil, superando rivais listadas como Engie, Omega Energia, AES Tietê, CPFL Renováveis e Auren.
Araripe disse à Mover que a parceria com a TotalEnergies, por meio de uma joint venture, permite ter acesso a capital barato e à negociação de equipamentos em melhores condições, reduzindo custos da companhia, enquanto rivais têm até paralisado novos investimentos devido às condições desfavoráveis do mercado elétrico.
“Dada a qualidade e escala dos nossos projetos, e dos modelos de negócios que temos estruturado, conseguimos chegar a um preço de energia competitivo, comparado com os patamares atuais”, disse Araripe.
Os preços de longo prazo no mercado de eletricidade do Brasil despencaram 51,5% em um ano, para R$86 por megawatt-hora, segundo a consultoria Dcide, contra valores mais próximos dos R$150 na última década.
Ao mesmo tempo, custos de novos projetos eólicos e solares dispararam desde a pandemia e da guerra na Ucrânia, o que fez empresas como Engie, Cemig e Alupar suspenderem decisões de novos investimentos no curto prazo.
“Acreditamos que o custo para projetos eólicos ainda não voltou a cair. Está mais na estabilidade, ou até num acréscimo. Para solar, já vimos um pouco de queda de custo de painel nos últimos meses”, disse Araripe, sobre o cenário que tem prejudicado fornecedoras do setor, como a Aeris.
Algumas fabricantes sofrem dificuldades nesse ambiente, como GE e Siemens Gamesa, que suspenderam a produção de turbinas eólicas no Brasil, apertando a oferta de equipamentos. Para evitar riscos, a Casa dos Ventos fechou um acordo de fornecimento com a dinamarquesa Vestas para 1,3 gigawatts em máquinas para suas próximas usinas.
A líder em geração renovável no Brasil, Engie, tem 3 gigawatts em projetos eólicos e solares em operação e construção, enquanto a Omega deve fechar 2023 com 2,6 gigawatts em capacidade. A CPFL Renováveis e a AES Tietê somam cerca de 1,5 gigawatt cada.
OFFSHORE SÓ COM SUBSÍDIO
Apesar de planos da Petrobras para investir em usinas eólicas offshore, instaladas no mar, revelados pela nova gestão da estatal, o Brasil ainda tem muito espaço para projetos em terra, e talvez não devesse apostar nessa nova forma de geração neste momento, devido aos maiores custos, disse Araripe.
“Não quero ser contra a eólica offshore. Em muitos países faz sentido. Mas o Brasil talvez seja o lugar mais favorável do mundo para ´onshore´”, afirmou o executivo da líder em desenvolvimento de projetos da fonte na América Latina.
Tornar projetos eólicos no mar viáveis provavelmente exigiria algum tipo de incentivo do governo, com um leilão exclusivo para essa proposta e subsídios devido ao custo bem maior de produção, acrescentou Araripe. “O ponto é: o quanto isso é necessário?”.
A aposta da Casa dos Ventos em termos de novas tecnologias de transição energética, assim, está por enquanto em projetos de hidrogênio verde, que podem ser associados a projetos renováveis.