Por Machado da Costa
Questionamentos contábeis por conta de um alto volume de contencioso do Grupo BIG Brasil foram o principal motivo do acordo anunciado ontem à noite pelo Carrefour, que informou ao mercado a redução no valor da aquisição da varejista alimentos por meio de um Fato Relevante.
Contudo, a contrapartida de R$1 bilhão oferecida pela gestora americana Advent e outros antigos investidores do BIG como “ajuste” ao Carrefour é só uma fração do valor que era discutido nos bastidores entre os dois grupos.
Segundo dois advogados do Carrefour que trabalharam no caso e falaram à Mover sob algumas condições – entre elas, a de não divulgar seus nomes ou os escritórios envolvidos na operação –, as inconsistências contábeis causadas pelos contenciosos no BIG somam R$ 3 bilhões.
Ainda de acordo com os advogados, os antigos administradores do BIG não caracterizaram corretamente ao Carrefour o risco de perda em processos judiciais nos quais o grupo varejista estava envolvido antes da aquisição. Já uma fonte ligada aos antigos administradores do BIG afirmou à Mover que o risco de derrota é realmente baixo. Os diferentes entendimentos impactaram a avaliação do negócio após o fechamento da operação, selada em R$7,5 bilhões em junho de 2022.
A parte principal do contencioso é uma cobrança do Fisco envolvendo a compra do Walmart para o grupo liderado pela Advent, em 2018. Na ocasião, a marca da varejista americana foi descontinuada no Brasil e suas unidades passaram a integrar a rede do BIG.
Segundo uma fonte com conhecimento direto do assunto, um procedimento arbitral chegou a ser cogitado, mas não foi iniciado. Prevendo uma longa batalha jurídica e que poderia se estender por anos, o Carrefour, orientado por um renomado escritório de advocacia carioca, preferiu optar pelo acordo.
O Carrefour irá receber, assim, R$1 bilhão da Advent, mas provavelmente deixará na mesa outros R$2 bilhões se os processos que envolvem o BIG forem perdidos na Justiça, relataram as fontes.
Outra fonte disse à Mover que na próxima atualização do Formulário de Referência do Carrefour, os processos envolvendo o contencioso do BIG provavelmente vão aparecer no rol de ações na Justiça com alto risco de impactar as finanças do grupo.
Procurados, o Carrefour e a Advent informaram que não irão comentar o assunto. Perto das 12h10, as ações do Carrefour caíam 2,68%, cotadas a R$11,64. No ano, os papéis recuam mais de 21%.
*Esta reportagem foi publicada primeiro no Scoop, às 12H43, exclusivamente aos assinantes do TC. Para receber conteúdos como esse em primeira mão, assine um dos planos do TC.