Brasil testa importar energia da Venezuela nesta semana, e J&F se dispõe a ajudar, dizem fontes

Brasil realizará nesta semana testes de infraestrutura para avaliar se há condições de voltar a importar energia da Venezuela, atendendo desejo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)

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Por: Luciano Costa

O Brasil realizará nesta semana testes de infraestrutura para avaliar se há condições de voltar a importar energia da Venezuela, atendendo desejo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de retomar as operações com o país vizinho, suspensas desde 2019, disseram fontes à Mover.

Os testes estão previstos para acontecer de 14 a 17 de dezembro, de acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). E a Âmbar, empresa do grupo J&F que obteve autorização do governo para realizar as importações, se dispôs inclusive a custear eventuais reparos necessários no linhão de transmissão de energia que conecta os dois países para viabilizar o negócio, disse uma das fontes, que falou sob condição de anonimato.

Se o resultado desse teste for satisfatório, será possível iniciar a importação. As operações começariam com volume de cerca de 15 megawatts médios. Se os testes não mostrarem “desempenho com confiabilidade” da linha, o atendimento a Roraima voltaria a ser feito por termelétricas locais, disse à Mover o diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi.

O governo defende que as importações reduzirão o uso de recursos da Conta de Consumo de Combustíveis (CCC), que hoje banca o acionamento de termelétricas em Roraima, e permitirão ao Brasil usar energia da hidrelétrica venezuelana de Guri, também mais limpa. A Âmbar disse ter autorização para importar até 120 MWh, o que segundo a empresa “significará uma economia de até R$1 bilhão ao ano” na conta de luz.

O cálculo da Âmbar leva em conta o custo de termelétricas a diesel versus o custo fechado para as importações. Mas a energia de hidrelétricas, como a de Guri, é negociada no Brasil por entre R$150 e R$250 reais por MWh, contra entre R$900 e R$1.000, aproximadamente, no contrato da empresa com os venezuelanos, disse uma fonte de mercado, que destacou esperar altíssimas margens para a empresa da J&F na transação.

“Não existe hidrelétrica tão cara assim”, disse a fonte, lembrando ainda que o Brasil já realizou um leilão em 2019, que contratou usinas para atendimento à Roraima, além de ter iniciado neste ano a construção de uma linha de transmissão que conectará o Estado ao sistema interligado nacional, que deverá estar pronta em até dois anos. As altas margens, inclusive, estariam por trás da oferta da Âmbar de até bancar a manutenção do linhão venezuelano se preciso.

Procurado, o Ministério de Minas e Energia e a Âmbar não responderam de imediato a questionamentos sobre o custeio da manutenção do linhão entre Brasil e Venezuela e os preços do contrato.

O ministério disse em nota que a Âmbar “foi a única que demonstrou interesse na operação, em processo que continua aberto para outras interessadas”, e defendeu que a importação e energia “só ocorre levando em conta o menor preço ao consumidor, garantindo a segurança energética, a partir de decisão exclusivamente técnica dos órgãos que atuam na gestão do setor elétrico brasileiro”.

(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)