Por: Gustavo Boldrini
O Bradesco frustrou as projeções do mercado nas principais linhas do seu balanço do quarto trimestre, pressionado por um provisionamento de R$4,85 bilhões para cobrir 100% da exposição à varejista Americanas, que entrou em recuperação judicial, de acordo com balanço divulgado nesta quinta-feira. O evento levou o banco a registrar a menor rentabilidade da série histórica iniciada em 1987, segundo dados da TC Economática.
O segundo maior banco privado do país reportou lucro líquido recorrente de R$1,60 bilhão entre outubro e dezembro do ano passado, bem abaixo do consenso Mover de R$4,35 bilhões, que já sinalizava expectativas negativas do mercado para o balanço na comparação com outros “bancões”. O indicador caiu 75,9% na base anual e 69,5% na base sequencial.
Sem considerar os impactos da maior provisão, o lucro recorrente teria sido de R$4,26 bilhões, disse o Bradesco, o que também representaria quedas de 18,4% em relação ao terceiro trimestre e de 35,5% em relação ao quarto trimestre de 2021.
O mesmo efeito pesou sobre a rentabilidade sobre o patrimônio líquido anualizada do Bradesco, a chamada ROE, que ficou em 3,9%, muito abaixo da projeção de analistas, de 11,0%. Segundo dados da TC Economática, o ROE anualizado do banco atingiu o menor valor da série histórica iniciada em 1987.
A margem financeira caiu 1,7% na base anual, na contramão da alta da taxa básica de juros no período, atingindo R$16,7 bilhões – abaixo do consenso de R$16,9 bilhões.
Segundo o banco, a diretoria reavaliou os riscos inerentes às operações de crédito com um “cliente large corporate” e decidiu provisionar 100% da exposição – assim como os rivais Santander Brasil e Itaú Unibanco, o Bradesco não citou o nome da Americanas no comunicado.
Incluindo a quantia destinada às operações com a varejista, o Bradesco fez uma provisão para créditos de liquidação duvidosa total de R$14,9 bilhões no trimestre, mais que dobrando na comparação com o terceiro trimestre.
Sem os R$4,85 bilhões da Americanas, a PDD expandida do Bradesco atingiria os R$10 bilhões, alta de 38% na base trimestral, refletindo a deterioração da qualidade da carteira de crédito do banco observada nos últimos trimestres.
O índice de inadimplência acima de 90 dias subiu 0,4 ponto percentual na base trimestral, a 4,3%, com destaque para o indicador de pessoas físicas, que subiu de 5,1% para 5,5%, e para micro, pequenas e médias empresas, que saltou de 4,5% no terceiro trimestre para 5,3% no quarto trimestre.
Em comunicado enviado à imprensa, o diretor-presidente Octavio de Lazari Jr disse que o Bradesco manterá a estratégia de focar nos segmentos de baixa renda e PMEs, mesmo em meio ao momento conturbado de crédito nessas verticais.
“Nós consideramos esse posicionamento de mercado estrategicamente correto, mesmo que neste ciclo estejamos sofrendo com a inadimplência. Acreditamos que esse posicionamento se provará mais uma vez acertado ao longo do tempo”, disse o executivo.
A inadimplência para grandes empresas permaneceu no patamar de 0,1% pelo quarto trimestre seguido, o que deve se modificar nos próximos trimestres, segundo Carlos Daltozo, analista do setor financeiro da Eleven Research.
“Como estamos vendo várias empresas em dificuldade, esse indicador não vai se sustentar em 0,1%”, afirmou Daltozo.
Às 19h10, o recibo de ações (ADR) do Bradesco negociado em Nova York despencava 6,42% no pós-mercado americano, a US$2,48. A ação preferencial do banco fechou o pregão na B3 hoje em queda de 2,54%, a R$13,80, alcançando um recuo acumulado de 29,5% nos últimos 12 meses.