"Curtailment" pesou

Auren sofre com cortes de geração e vê ressarcimento com MP 1304 - se Lula não vetar

Auren sofre com cortes de geração e vê ressarcimento com MP 1304 - se Lula não vetar
Auren

São Paulo, 13/11/2025 – A geradora renovável Auren, da Votorantim Energia e da canadense CPPIB, fez a lição de casa no terceiro trimestre, avançando na integração de ativos comprados da AES Brasil e mostrando ganhos de eficiência, mas viu os resultados pesadamente afetados por fatores “exógenos”, e agora aguarda ansiosa por potencial ajuda milionária que poderia vir por meio de lei que deve ser sancionada pelo presidente Lula nos próximos dias.

O presidente da Auren, Fábio Zanfelice, comentou que impactos com cortes na geração de usinas renováveis no Brasil, desencadeados por limitações no sistema elétrico e sobreoferta, ficaram acima do esperado no período, drenando R$196 milhões da última linha do balanço, que encerrou com prejuízo de R$403,7 milhões.

Com isso, as atenções da Auren — e outros grupos afetados pelas restrições de geração, como Engie, Equatorial, CPFL e diversas companhias — estão focadas agora em Brasília. A medida provisória 1304, recém-aprovada pelo Congresso, incluiu dispositivos que permitiriam ressarcir parte das perdas com o chamado “curtailment”, mas há dúvidas sobre se esse trecho da MP, proposto por congressistas, terá aval do Planalto.

Zanfelice disse que, se sancionada na íntegra, a lei decorrente da MP geraria de imediato efeito positivo de R$250 milhões para a Auren, referentes a cortes de geração por questões de confiabilidade do sistema elétrico. A medida ainda permitiria discussão de outros possíveis ressarcimentos, deixando de fora apenas aqueles causados por sobreoferta.

“Precisamos ver como a lei decorrente da MP será publicada. Queríamos na íntegra.. o mais correto de fato seria esse tema ser endereçado e resolvido. Há algum risco de veto– o que vai ser vetado, e como… a companhia vai avaliar”, afirmou o CEO, em teleconferência sobre os resultados.

“Esse foi um trimestre interessante, do ponto de vista de resultados. Porque a gente fica bastante feliz com o que atingimos com o resultado da integração da AES. Por outro lado, é um trimestre em que fatores exógenos afetaram os resultados… no que está sob controle da companhia, o que é gerenciável pela empresa, encerramos com resultados bastante importantes”, resumiu o CEO, em avaliação repetida por analistas de bancos que olharam o balanço.

“A Auren apresentou um trimestre muito desafiador devido ao forte ´curtailment´ em todas fontes de geração… apesar dos fatores exógenos adversos, tendências internas seguem positivas: sinergias crescentes, eficiência operacional, ganhos modulares e avanços na estrutura tributária”, escreveu a equipe do BTG Pactual.

Os cortes forçados impactaram 21% da geração eólica da Auren e 33% da solar, e a empresa também teve déficit de geração hidrelétrica por fatores sistêmicos– chamado no jargão do setor de “GSF”.

Tanto BTG quanto XP citaram, em relatórios, a possibilidade de Lula vetar o ressarcimento às geradoras, em meio à preocupação com impactos sobre as tarifas de energia.

O ressarcimento não constava do texto original da MP 1304, enviado pelo governo, e foi inserido por parlamentares, a princípio contemplando apenas os cortes por questões de confiabilidade do sistema. Emenda de última hora do deputado cearense Danilo Forte (União Brasil) ampliou compensações para todos casos “exceto aqueles associados exclusivamente à sobreoferta de energia renovável”.

O tema do “curtailment” movimentou fortemente bancadas parlamentares, uma vez que as incertezas e perdas de faturamento geradas às empresas de energia levaram a uma forte retração dos investimentos em novas usinas eólicas e solares, que foram praticamente paralisados, prejudicando principalmente estados do Nordeste, onde está grande parte do potencial dessas fontes.

Políticos fizeram forte pressão por uma solução para o “curtailment”, inclusive levando o tema ao presidente Lula e técnicos do setor elétrico — um governador do Nordeste chegou a participar de uma reunião com um órgão técnico, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), para pedir explicações sobre os cortes de geração, segundo fontes.

Além do “curtailment”, a Auren também sofre impacto de outro fator sob o qual não tem gestão– o nível elevado da taxa de juros básica Selic, hoje em 15%. A empresa tem dívida bruta de R$25 bilhões, com 20% dela atrelada ao CDI. Em julho, a empresa disse que cada mudança de um ponto na Selic tem impacto de R$31,5 bilhões em suas finanças.

DE RESTO, OK
Tirando a questão dos cortes de geração e da Selic, a Auren capturou sinergias de R$58,1 milhões da aquisição da AES Brasil, acumulando R$212 milhões desde a compra da empresa, e com meta de alcançar R$250 milhões, o dobro do estimado na época da transação.

No lado operacional, a Auren também tem conseguido melhorar a eficiência de parques eólicos que vieram com os ativos da AES, que passou de 89,3% em janeiro para 93,4% ao final de setembro. O objetivo é alcançar 95% até dezembro, um mês antes do planejado durante os estudos sobre a aquisição.

A Auren também obteve importantes ganhos de R$66 milhões com a chamada “modulação”– a distribuição da energia gerada ao longo das horas do dia–, aproveitando a capacidade de suas usinas, principalmente hidrelétricas e eólicas, de gerar mais energia nos momentos em que os preços de eletricidade são maiores e mais favoráveis. No acumulado do ano, os ganhos com modulação chegam a R$124 milhões.

“Ressaltamos os efeitos de nosso portfólio diversificado, com ganhos de modulação bastante expressivos”, destacou o CEO, em teleconferência com o mercado.

Zanfelice acrescentou que agora, concluída a integração dos ativos da AES, o foco da Auren estará totalmente na redução da alavancagem– a relação entre dívida líquida e lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA) ficou em 4,9x no final do terceiro trimestre, nível considerado elevado, que faz investidores penalizarem as ações da companhia.

Após caírem 32% em 2024, as ações da Auren acumulam ganhos de mais de 30% neste ano, com as perspectivas de que Banco Central possa em breve começar um ciclo de queda de juros, apoiando os papéis de elétricas em geral. O índice de energia elétrica (IEE) da bolsa sobe 55% em 2025. Após os resultados, os papéis da Auren chegaram a despencar mais de 6% na abertura do pregão, revertendo para alta de 0,61% por volta das 14h00.