Americanas divulga prejuízo de R$12,9 bilhões em 2022

Após deixar o mercado no escuro, empresa reitera que foi vítima de fraude

Agência Brasil
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Por: Bruno Andrade

Depois de gerar tumulto nos mercados em janeiro, com a repentina descoberta de “inconsistências contábeis” de R$20 bilhões nos resultados de 2022, a Americanas (AMER3) enfim divulgou o balanço do ano passado, reiterando o argumento de que foi vítima de uma “fraude sofisticada”, e apresentando projeções de números melhores em 2025.

A centenária varejista, agora em recuperação judicial, mais que dobrou o prejuízo ante 2021 após um ano com fraco desempenho operacional, elevada despesa financeira e relevantes lançamentos extraordinários, mostra documento enviado ao mercado nesta quinta-feira.

A companhia controlada pelo trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, da gestora 3G Capital, reportou prejuízo líquido de R$12,9 bilhões no acumulado de 2022, piora de 107,2% na base anual.

Após deixar o mercado no escuro por quase um ano, a Americanas divulgou um EBITDA ajustado, que mede o resultado operacional, negativo em R$2,9 bilhões para 2022, piora de 64,4% na comparação com o ano anterior. A receita líquida somou R$25,8 bilhões, crescimento de 14,6%.

As despesas gerais atingiram a marca de R$9 bilhões, consumindo 35% da receita líquida da empresa no período.  “É importante destacar que essa rubrica foi afetada neste exercício pelo correto lançamento de certas despesas, antes indevidamente capitalizadas, como folha de pagamento e frete”, explicou a varejista.

A empresa está com uma dívida de R$37,3 bilhões, com R$15,9 bilhões em risco sacado, R$17,3 bilhões em empréstimos e financiamentos e outros R$5,3 bilhões em debêntures de curto prazo. A empresa ainda fez um ajuste positivo de R$1,3 bilhão que estão em caixa livre.

Já o patrimônio líquido da companhia ficou negativo em R$26,6 bilhões, deterioração de 111,25%, impactado pelo resultado operacional negativo.

Mas a varejista divulgou projeções de recuperação, com expectativa de alcançar um EBITDA acima de R$2,2 bilhões em 2025. No período, a empresa mira levar a dívida bruta para entre R$1 bilhão e R$1,5 bilhão, com uma alavancagem inferior a 0,75 vez.

COMO A FRAUDE FOI FEITA

A companhia explicou como a fraude era feita em seu balanço. A primeira etapa foi o lançamento de Verbas de Propaganda Cooperada (VCP) de forma fictícia, como redutores de custo de mercadoria vendida, melhorando artificialmente o resultado operacional. A contrapartida era um lançamento redutor da conta de fornecedores.

“A segunda etapa era contratar as operações financeiras de risco sacado para sanar a necessidade de caixa da companhia, isso era indevidamente lançado na conta

de fornecedores, neutralizando o lançamento de VPCs nesta mesma conta”, disse a empresa.

Na terceira fase do esquema, os encargos financeiros das operações de risco (e capital de giro) eram também indevidamente lançados na conta de fornecedores, não transitando em contas de resultado e majorando o resultado da companhia.

“Já o quarto item foi um grande volume de outras despesas diversas (como folha de pagamento e fretes) que eram indevidamente capitalizadas”, explica a varejista.

Por fim, a gestão de Miguel Gutierrez fez operações financeiras de capital de giro de curtíssimo prazo para apresentar uma posição irreal de caixa ao final dos trimestres, e essas operações, eram lançadas na conta de fornecedores e neutralizadas com o lançamento de VPCs fictícios, ainda de acordo com a companhia. Não foi possível contatar Gutierrez para comentários de imediato.

A Americanas está em recuperação judicial desde janeiro e tem travado uma disputa com os grandes bancos para chegar a um acordo sobre seu plano de reestruturação. Inicialmente, a varejista tinha proposto pagar parte a dívida parcelada em 20 anos, converter uma outra parte em ações, além de um aporte de R$7 bilhões pelos acionistas controladores, o 3G Capital.

No entanto, essa proposta foi amplamente rejeitada pelos credores, o que fez com que os próprios controladores elevassem, em outubro, a proposta de aporte para R$12 bilhões.

Agora, quase um ano após o escândalo, o consenso das instituições financeiras é que um acordo deve ser fechado em breve. Alguns bancos, como o Bradesco, estimam que isso poderia ocorrer ainda em 2023, enquanto outros preferem não dar uma data precisa, mas esperam receber parte do valor devido à vista, como é o caso do Banco do Brasil.