Ações de frigoríficos sobem após Minerva anunciar que exportação à China deve voltar em breve, apesar de “vaca louca” no Pará

Exportações à China são suspensas até o Brasil esclarecer modalidade da doença e risco de disseminação

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Por Giovanni Porfírio, Luciano Costa e Artur Horta

O Ministério da Agricultura do Brasil investiga um possível caso de Encefalite Espongiforme Bovina, também conhecida como “mal da vaca louca”, o que foi confirmado mais tarde por uma agência estadual do Pará.

Mesmo antes da confirmação oficial do caso, a notícia gerava temor de possíveis impactos às exportações de proteína animal do Brasil para a China, segundo analistas, o que derrubou as ações de frigoríficos na quarta-feira.

Na manhã desta quinta-feira, as ações dos frigoríficos exportadores listados na B3 operavam em alta, após o movimento de liquidação na véspera e depois de a Minerva afirmar que espera retomar as exportações brasileiras à China “em um curto espaço de tempo”.

Perto das 11h10, as ações ordinárias da Minerva avançavam 3,16%, a R$11,76; enquanto os papéis da JBS subiam 2,68%, a R$18,39; e os da Marfrig subiam 0,80%, cotados a R$6,32.

Em fato relevante divulgado antes da abertura do mercado, a Minerva, maior exportadora de carne bovina da América do Sul, disse acreditar que “a suspensão das exportações brasileiras é temporária e deverá ser retomada em um curto espaço de tempo”.

Isso porque Organização Mundial de Saúde Animal excluiu a Encefalopatia Espongiforme Bovina, popularmente conhecida como “mal da vaca louca”, em sua forma atípica, “para efeitos do reconhecimento do status oficial de risco do país, sendo que a doença pode ocorrer de forma espontânea e esporádica em todas as populações de bovinos do mundo”, informou a Minerva.

O Ministério da Agricultura e Pecuária informou em nota que “todas as medidas estão sendo adotadas pelos governos” em relação ao caso em investigação. Mais tarde, no início da noite, a Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará confirmou que o caso suspeito testou positivo para a “vaca louca”, e que os sintomas indicam “que se trata de forma atípica da doença, que surge espontaneamente na natureza, não causando risco de disseminação ao rebanho e ao ser humano”.

No entanto, o Ministério informou que, seguindo o protocolo sanitário oficial, as exportações para a China serão temporariamente suspensas a partir desta quinta-feira (23). No entanto, “o diálogo com as autoridades está sendo intensificado para demonstrar todas as informações e o pronto restabelecimento do comércio da carne brasileira”, diz o texto do ministério.

Segundo a agência, amostras foram enviadas para laboratório no Canadá, que confirmará então se o caso foi da forma clássica da doença ou da atípica. “O governo do Estado está em contato permanente com o Ministério da Agricultura e Pecuária e trata do tema com transparência e responsabilidade”, afirmou a Adepará, sem detalhar quando os resultados podem ser divulgados.

O caso foi comunicado à Organização Mundial de Saúde Animal. O animal, criado em pasto, sem ração, foi abatido e sua carcaça incinerada no local, segundo o MAPA.

“Todas as providências estão sendo adotadas imediatamente em cada etapa da investigação e o assunto está sendo tratado com total transparência para garantir aos consumidores brasileiros e mundiais a qualidade reconhecida da nossa carne”, ressaltou o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Carlos Fávaro, em nota.

Para o sócio da Fatorial Investimentos, Fábio Lemos, a notícia ainda não tem impacto direto sobre as operações das empresas brasileiras de proteína animal, mas seus desdobramentos precisam ser observados. Atualmente, Brasil e China possuem acordo pelo qual os brasileiros precisariam paralisar exportações preventivamente em casos de confirmação de doenças como a “vaca louca”, aguardando posterior liberação dos chineses para os negócios.

“É bom ressaltar que esse foi um caso isolado e sem risco de contaminação, mas que traz um impacto preventivo com a suspensão das exportações para a China, por exemplo”, explicou Lemos.

Se o caso realmente afetar exportações, poderia ajudar a formar uma “tempestade perfeita” no setor, disse Lemos, ao lembrar que os frigoríficos já vinham sendo penalizados na bolsa desde a semana passada, depois que países da América do Sul, incluindo Argentina e Uruguai, confirmaram os primeiros casos de gripe aviária em seu território.

Sobre o caso de “vaca louca”, a Adepará disse que o registro ocorreu em uma propriedade que tem 160 cabeças de gado, já isolada. “A propriedade foi inspecionada e interditada preventivamente”, afirmou o órgão estadual.

A informação de que havia uma suspeita de um caso de “vaca louca” ontem levou os papéis das empresas a desabarem até 8%. Após o fechamento do mercado, o Ministério da Agricultura e Pecuária confirmou o caso e o classificou como atípico — isto é, sem risco de disseminação ao rebanho e para seres humanos. O Mapa afirmou que ainda é necessário aguardar testes de laboratório de referência no Canadá, que deve convalidar se o caso é atípico.

De acordo com a XP Investimentos, se confirmado o caso atípico e não clássico da “vaca louca”, as exportações devem ser estabelecidas em duas semanas, “sem impacto significativo no preço da carne no mercado doméstico”, disse em nota a clientes.