Ações da Vibra e Eneva caem após proposta de fusão, com analistas alertando para riscos e valor do negócio

Analistas estão de olho em riscos envolvidos na operação, bem como nos valores da oferta

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Por: Luciano Costa

As ações da Eneva (ENEV3) e da Vibra Energia (VBBR3) recuavam hoje na B3 (B3SA), após uma recém-divulgada proposta de fusão, com analistas de olho em riscos envolvidos na operação, bem como nos valores da oferta, que podem exigir mudanças, apesar da operação ter o potencial de gerar benefícios para as empresas.

As ON da Vibra eram as mais impactadas pela notícia e caíam 3,28% por volta de 16h33, a R$21,50 cada. No mesmo horário, as ON da Eneva recuavam 2,83%, a R$12,70, e o Ibovespa subia 0,15%, aos 125,7 mil pontos. Caso haja um acordo, cada grupo teria 50% na nova companhia, que nasceria como terceira maior listada em bolsa no setor de energia, avaliada em cerca de R$50 bilhões.

A equipe do BB Investimentos destacou que a forte geração de caixa da Vibra poderia fomentar investimentos na ampla carteira de projetos de expansão da Eneva, e citou ainda possíveis sinergias comerciais, dado que a ex-BR Distribuidora atende mais de 30 milhões de consumidores finais de combustíveis, com 18 mil clientes corporativos, que poderão ser compradores do gás da potencial parceira.

“No entanto, ainda que tais vantagens sejam expressivas, é importante olhar para os riscos da operação”, destacou o time do banco, apontando que a Vibra atua em segmento de geração de caixa consistente e “risco relativamente baixo”, enquanto a Eneva tem um perfil “mais agressivo de crescimento”.

Os analistas do BB também destacaram que o valor atribuído à Vibra na transação, igual ao da Eneva, acaba “menos favorável aos minoritários” da ex-BR, que antes tinha valor de mercado ligeiramente maior na bolsa.

“Assim, dados tais riscos e a discrepância no ‘valuation’, entendemos que a transação deve ser analisada com cautela pelos acionistas minoritários da Vibra”, escreveram eles, sugerindo que para o negócio ser justo “deveria haver uma diferença positiva de R$2,01 por cada ação da Vibra”.

Na corretora Guide, o analista Mateus Haag foi em linha semelhante, citando pontos positivos da possível fusão, mas ressaltando que companhia resultante poderia eventualmente ser vista como muito complexa — a Eneva atua em exploração de gás, geração térmica e renováveis, e a Vibra distribui combustíveis e também tem um braço de energia limpa.

“Empresas que diversificam muito suas operações podem ter dificuldades para comunicar sua estratégia e seu valor ao mercado. Portanto, se as sinergias entre as empresas não forem significativas, talvez não valha a pena correr o risco de fazer a fusão”, explicou Haag.

A proposta de fusão é válida por 15 dias. A ideia do negócio, sugerida inicialmente pela Dynamo, que tem cerca de 10% em ambas empresas, também acabaria com disputas internas na Eneva sobre o futuro da companhia — o BTG defendia a continuidade do ritmo forte de expansão, enquanto a Dynamo pedia prioridade à desalavancagem e a empresa de investimentos Cambuhy queria dividendos, disse à Mover uma fonte com conhecimento do assunto.

(LC | Edição: Gabriela Guedes | Comentários: equipemover@tc.com.br)