São Paulo, 7/10/2025 – A corretora XP enviou comunicado a assessores, na segunda-feira, informando sobre pesados prejuízos para clientes em operações envolvendo Certificados de Operações Estruturadas (COEs) lastreados em títulos de dívida de Braskem e Ambipar, em meio a crises financeiras nas duas empresas.
A petroquímica divulgou, em 26 de setembro, a contratação de assessores para avaliar revisão da estrutura de capital, o que disparou temores de renegociação de dívidas, enquanto a Ambipar foi à Justiça, em 24 de setembro, e obteve proteção judicial contra credores, o que levou as ações da companhia a despencarem, por preocupações com risco de recuperação judicial.
Os títulos em dólar da Braskem e da Ambipar sofreram significativa desvalorização no mercado secundário ao longo desse período, sendo negociados a preços substancialmente inferiores ao seu valor de face.
A XP informou que, no caso dos COEs de Ambipar com cláusula de obrigatoriedade de vencimento antecipado, que incluem emissões realizadas até 18 de março de 2024, os investidores receberão apenas “6,88% do valor inicialmente investido”.
Já detentores de COEs de Braskem de emissões feitas até 25 de março de 2024 receberá valor de vencimento antecipado que varia “entre 26,2% e 36,97% do valor inicial investido”, de acordo com a mensagem a clientes, vista pela Mover.
“Esta é a decisão final da XP sobre os casos”, colocou a XP na mensagem, em que comunica que foi disparado o vencimento antecipado das operações. Procurada, a XP não comentou de imediato sobre o conteúdo dos comunicados.
Nos últimos dias, após a Ambipar pedir proteção judicial contra credores, disparando alertas no mercado e levando o valor das ações a derreter, clientes da XP vinham publicando queixas no site “Reclame Aqui” sobre os produtos ofertados pela casa, que eram COEs atrelados a títulos de dívida da companhia, cujo preço desabou.
“Comprei COE da Ambipar e da Braskem da XP Investimentos orientado por assessores e agora o meu dinheiro derreteu… percebi que estas empresas já vinham dando sinais de problemas e nenhum assessor ou a XP me informou”, afirmou um cliente no portal de direito do consumidor.
“XP recomendou COE de Ambipar que virou ** em 18 meses!”, afirmou outro cliente no “Reclame Aqui”. “Mesmo sendo um produto capital em risco, o problema é que a XP fez a análise, aprovou e distribuiu esse produto como se fosse seguro e adequado”, acrescentou.
Entre as emissões de COEs da Ambipar e da Braskem no mercado, a Mover avaliou dois deles. No Documento de Informações Essenciais a respeito da emissão dos COEs, consta a cláusulas que determinam o vencimento antecipado em caso de eventos de crédito.
O COE XP Ambipar 2031 RF IPCA, com cupom semestral, era classificado com rating “brAAA”, nota mais alta na escala nacional de risco de crédito de agências, e prometia rentabilidade de IPCA + 9,75% ao ano, segundo informações no site da XP. O produto, no entanto, era descrito como de risco “alto”, com 100 pontos em uma escala de 0 a 100.
O COE XP Braskem 2033 RF IPCA, com cupom semestral, também tinha rating “brAAA” e apontava rentabilidade de IPCA + 10% ao ano no site da XP, embora também classificado como de risco “alto”, de 100 pontos, máximo na escala.
“Este produto é destinado a clientes com perfil de investimento moderado (valor nominal protegido) e agressivo (valor nominal em risco)”, afirma a XP nas páginas dos COEs. Procurada pela Mover, a XP não respondeu aos questionamentos até o momento.
VALOR DE MERCADO
As ações da Ambipar despencam 90% apenas neste mês de outubro, com as notícias sobre a busca por proteção judicial contra dívidas, e informações na mídia de que credores estariam com dificuldades para rastrear o caixa do grupo. Títulos de dívida da Ambipar também viram os preços despencarem ante valor de face, assim como os da Braskem, em meio às preocupações com a situação financeira das empresas.
Os COEs são produtos financeiros estruturados com lastro em ativos como títulos de renda fixa, derivativos, índices de ações e moedas, cuja negociação cresceu recentemente no mercado brasileiro. Embora muitas vezes sejam oferecidos como um investimento de baixo risco, os COEs têm características como baixa liquidez e rentabilidade incerta, que podem gerar riscos muitas vezes difíceis de mapear para investidores, principalmente leigos e pessoas físicas. Os COEs muitas vezes são alvo de marketing agressivo, inclusive pelas comissões elevadas ofertadas aos distribuidores.
O sócio fundador da Apen Capital, Saulo Godoy, defendeu no “X” que o mercado financeiro “precisa elevar a régua em todos os níveis”, comentando o caso dos COEs de Ambipar e Braskem como “um absurdo em vários sentidos”.
“Há vários anos o setor sofre com a falta de mão de obra qualificada e, quando a comissão está embutida no produto, incentivada pelas próprias instituições, o cliente é delapidado sem misericórdia. É preciso haver algum tipo de punição. Sem isso, o baile do dinheiro fácil continuará”, afirmou Godoy, que lidera um wealth management.