O ouro, há milênios símbolo de riqueza, poder e confiança, voltou ao centro das atenções dos mercados financeiros globais. Em 2024, o metal precioso superou a marca de US$ 2.400 por onça, renovando seu recorde nominal. Esse movimento, no entanto, vem após mais de uma década de desempenho medíocre, em que o ouro mal acompanhou a inflação, perdeu espaço para ações e ativos digitais e foi amplamente ignorado por investidores institucionais.
Para entender por que o ouro voltou a brilhar — e o que isso significa para o futuro da economia global — é preciso revisitar sua trajetória histórica, seus ciclos de valorização e o papel que ele continua a desempenhar em tempos de transição geopolítica e monetária.
Das civilizações antigas a Bretton Woods: O ouro como padrão de valor
A história monetária mundial é inseparável do ouro. Egípcios, romanos, otomanos e britânicos usaram o metal como base de seus sistemas econômicos. No século XIX, o padrão-ouro clássico permitia a conversibilidade das moedas nacionais em ouro a uma taxa fixa. O economista Barry Eichengreen mostra como esse sistema forçava disciplina fiscal, mas limitava políticas anticíclicas.
Após a Segunda Guerra Mundial, o Acordo de Bretton Woods (1944) fixou o dólar a US$ 35 por onça de ouro, durando até 1971, quando Nixon decretou seu fim. O economista Robert Triffin já alertava para o paradoxo: emitir dólares suficientes para o mundo corroía a confiança na própria moeda.
A Era Moderna: de refúgio psicológico a ativo negligenciado
Com o fim de Bretton Woods, o ouro passou a ser um refúgio financeiro. Na década de 1970, saltou de US$ 35 para mais de US$ 800 por onça. Mas, após o pico de 2011, entrou em uma década de estagnação, oscilando entre US$ 1.100 e US$ 1.400, sem superar a inflação.
Kenneth Rogoff observou que o ouro perdeu força como proteção em tempos de juros baixos e confiança institucional. Ajustado pela inflação, o ouro ainda não superou seu pico real de 1980.
O reaparecimento pós-2020: o que está por trás da nova alta?
Com a pandemia, pacotes trilionários de gastos públicos reacenderam o medo inflacionário. A guerra na Ucrânia, a rivalidade EUA-China e a instabilidade bancária reacenderam o apelo por ativos reais.
Em 2022 e 2023, bancos centrais compraram ouro em ritmo recorde. O ouro voltou a se valorizar como resposta à perda de confiança no dólar e no sistema bancário tradicional.
Ouro Hoje: Apenas Especulação ou Mudança Estrutural?
Ray Dalio sugere que o ouro tende a se valorizar quando impérios entram em declínio. James Rickards defende seu uso futuro como âncora de moedas digitais soberanas. Esses autores apontam para uma transformação potencial na ordem monetária internacional, com o ouro como protagonista novamente.
Três cenários futuros para o ouro
- Continuidade da Alta: ouro pode alcançar US$ 3.000/oz se crises persistirem.
2. Correção Técnica: estabilidade monetária pode devolver o ouro à faixa de US$ 1.800 a US$ 2.000.
3. Novo Papel Monetário: o ouro pode ancorar moedas digitais estatais como parte de uma nova arquitetura financeira.
Conclusão: ouro como termômetro da desordem
Como disse Niall Ferguson, ‘o ouro é simultaneamente superstição, símbolo e seguro’. Após anos de descaso, o ouro ressurge como termômetro da instabilidade econômica e talvez, em breve, como pilar de uma nova ordem monetária global.
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*Bruno Corano é empresário, investidor, economista formado pela UPENN – Universidade da Pennsylvania, sócio controlador da Corano Capital NYC, maior gestora privada brasileira nos EUA.