Um em cada cinco litros de diesel vendido no Brasil é russo

Importadores correm para encontram novos fornecedores

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Por: Simone Kafruni e Bruno Andrade

A decisão da Rússia de suspender exportações de diesel anunciada na semana passada pegou de surpresa importantes distribuidores de Combustíveis no Brasil. Há alguns anos, a importação de diesel russo era irrelevante, mas nos primeiros dias de setembro, praticamente um de cada cinco litros de diesel vendidos no Brasil era russo – e os seus distribuidores estão correndo contra o tempo para achar outros fornecedores.

Desde a semana passada, importadores brasileiros iniciaram negociações com produtores dos Estados Unidos e Arábia Saudita para garantir o abastecimento de óleo diesel no Brasil, disseram à Mover três fontes com conhecimento do assunto. Elas garantiram que o abastecimento não ficará comprometido, mas que o preço do produto deve mudar nas bombas do país.

Dados de agosto de 2023 do Ministério de Desenvolvimento (MDIC) apontam que dos 1,25 bilhão de litros de óleo diesel importados no Brasil, 74% foram comprados da Rússia, a US$0,84 por litro. O segundo maior fornecedor foram os EUA, com quase 15%, ao valor de US$1,03 por litro – 22,6% mais caro que o produto russo. A Índia apareceu com 9,20%, a US$1,02 por litro, e a Arábia Saudita com 0,15%, a US$0,94 por litro.

Hoje, o Brasil não é autossuficiente no derivado. A necessidade de complementação com importado está entre 20% e 25%. “Agora, com a restrição, vamos ter que importar mais dos EUA e da Arábia Saudita e, certamente, o preço será maior”, disse o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e de Lubrificantes do Distrito Federal Paulo Tavares.

Segundo os dados do MDIC, o maior comprador de diesel russo está localizado em Manaus (AM), onde funcionam importantes distribuidores de combustíveis que têm difícil acesso a derivados de petróleo. Até existe uma refinaria na região, mas ela está distante de atender completamente a demanda. Assim, é provável que o preço do combustível aumente mais na capital amazonense.

Segundo o presidente-executivo da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo, os primeiros navios de diesel americano devem chegar ao país em até 45 dias. Neste meio tempo, os navios russos que foram contratados antes da suspensão cumprirão os contratos.

PETROBRAS

O encarecimento na importação de diesel deve pressionar ainda mais a política de preços da Petrobras, cuja defasagem está em 16% nesta quarta-feira, segundo a Abicom.

Quando os desembarques de navios russos acabarem e aumentarem os de outros países, essa defasagem deverá aumentar consideravelmente, de acordo com uma fonte que acompanha o setor, mas que preferiu manter anonimato para falar livremente sobre o assunto.

“Os concorrentes privados são obrigados a elevar os preços para não ficarem sem combustível. Chegamos a ver essa situação em agosto, e podemos ver novamente se a Petrobras teimar em não reajustar o diesel”, afirmou a fonte, citando o pedido do governo federal para “abrasileirar” os preços de combustíveis.

Em 15 de agosto, a estatal foi obrigada a elevar o preço do combustível em 25,8% por conta do risco de desabastecimento que se anunciava. Segundo a Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis), atualmente “não há relato de desabastecimento”.

Em nota enviada à Mover, a Petrobras afirmou que sua estratégia comercial tem como premissa a prática de preços competitivos em equilíbrio com os mercados nacional e internacional. “A empresa se vale de suas melhores condições de produção e logística, ao mesmo tempo em que evita o repasse da volatilidade conjuntural das cotações internacionais e da taxa de câmbio.”

Outras importantes distribuidoras, como Vibra e Raízen, preferiram não se manifestar. Já o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) disse, em nota, que a demanda brasileira é suprida por diversos agentes, que estão acostumados a operar em um mercado integrado e aberto globalmente.

“Este dinamismo, que se baseia em diferentes estratégias para aquisição dos produtos e oferta a seus clientes, tem garantido o suprimento sem interrupções ao mercado nacional, mesmo em momentos de crise”, afirmou a entidade.