Geopolítica energética

Rússia e China se alinham em novo 'Eixo da Energia', aponta casa de análises Gavekal

Rússia e China se alinham em novo 'Eixo da Energia', aponta casa de análises Gavekal
Reprodução/ Bloomberg

São Paulo, 03/09/2025 – A notícia de que Rússia e China chegaram a acordo para construção de um grande gasoduto conectando os países, divulgada nesta quarta-feira, mostra como o mercado global de energia começa a se dividir em dois, com a criação do que poderia se chamar de “Eixo de Energia”, avaliou a casa de análises macroeconômicas Gavekal.

Desde as sanções europeias e dos Estados Unidos à Rússia, na sequência da guerra na Ucrânia, em 2022, países dispostos a desafiar o Ocidente com compras de petróleo e gás de Moscou têm se beneficiado com significativos descontos, e o projeto do gasoduto “Power of Siberia 2” mostra que essa tendência deve continuar no longo prazo, ainda de acordo com Gavekal.

O “Power of Siberia 2” consistirá em 3 mil quilômetros de infraestrutura de transporte de gás com capacidade de bombear 50 bilhões de metros cúbicos por ano, praticamente o mesmo volume do Nord Stream 2, projeto de ligação à Europa abandonado depois da guerra, quando os países do continente suspenderam a maior parte das importações de gás russo.

O anúncio do projeto foi feito pela russa Gazprom em meio à conferência da Organização de Cooperação de Xangai, que tem reunido líderes de China, Rússia, Índia e até da Coreia do Norte nos últimos dias.

“A retórica (do evento) foi toda sobre uma nova ordem internacional para desafiar o sistema estabelecido e liderado pelos EUA. A mais clara manifestação dessa nova ordem é nos mercados de energia”, apontou a Gavekal, em relatório divulgado hoje.

GÁS BARATO
Como o projeto do “Power of Siberia 2” já era conhecido há algum tempo, a Gavekal avalia que o anúncio de hoje esteve ligado a um acordo sobre o preço do gás a ser enviado por ele, que segundo o CEO da Gazprom, Alexei Miller, deverá ser mais barato que o cobrado antes pelos russos na Europa.

Embora o executivo tenha atribuído a diferença de valor a custos de transporte, a Gavekal avalia que os energéticos produzidos pela Rússia estão em um “mercado do comprador”, no qual os importadores têm condições de negociar condições altamente favoráveis, devido à falta de alternativas dos russos para escoar a oferta.

“Na prática, isso significa que eles conseguem petróleo e gás da Rússia com descontos significativos sobre os preços internacionais”, escreveu a casa de análises.

A Índia também tem se destacado como compradora de energia da Rússia, mesmo após ser punida com tarifas pelos EUA, e sanções a embarcações do país que transportaram petróleo russo podem tirar de circulação navios que traziam barris também do Oriente Médio– obrigando a Índia a provavelmente ampliar ainda mais as compras dos russos, que poderão inclusive oferecer descontos maiores, segundo a Gavekal.

Sem sinais de um cessar-fogo na Ucrânia no curto prazo, há todas razões para acreditar que essa dinâmica irá continuar nos mercados, e até se fortalecer nos próximos meses, firmando-se no longo prazo, acrescentaram os analistas.

“Ao longo do tempo, isso significa que as economias chinesa e indiana vão se beneficiar na margem relativamente ao Ocidente, com preços de energia mais baixos. Isso só reforçará a tendência dos últimos anos, em que indústrias intensivas em energia, como petroquímicas, mudaram de economias ocidentais como a Alemanha, onde se beneficiavam do gás russo barato, para economias asiáticas como a China, onde no futuro se beneficiarão de um gás russo ainda mais barato”, resumiu a Gavekal.

“O mundo tem um novo eixo de energia, e ele não gira ao redor das economias ocidentais”, finalizou a Gavekal, conhecida por suas análises profundas sobre a economia global e geopolítica.