Brasília, 20/3/2025 – O chair do Federal Reserve, Jerome Powell, citou ontem alguma forma do termo “incerteza” em 18 diferentes oportunidades ao longo de toda a sua coletiva de imprensa que se seguiu à decisão de juros, e que durou 50 minutos, de acordo com levantamento da Barron’s publicado mais cedo.
As falas de Powell, e o termo empregado, ecoam mudança da estrutura frasal que o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) utilizou para descrever as perspectivas econômicas na reunião deste mês no comunicado da decisão.
“A incerteza em torno das perspectivas econômicas aumentou”, pontuou o FOMC na decisão da véspera. Antes, em janeiro, o comitê descrevia que as “as perspectivas econômicas eram incertas”.
“É muito difícil saber como isso irá funcionar. Não conheço ninguém que possua muita confiança em suas projeções”, afirmou Powell, diante de uma incerteza que classificou como “incomumente elevada” ao tratar dos potenciais impactos das políticas do governo Trump sobre a economia.
Ontem, o FOMC manteve inalterada a taxa-alvo Fed Funds no intervalo entre 4,25% e 4,50%. As medianas de projeções contidas no “Dot-Plot”, relatório trimestral do FOMC, mostraram que o estafe do banco central reduziu estimativa para crescimento da economia neste ano, a 1,7%, ante 2,1%, e elevando a projeção para o PCE, a 2,7%, ante 2,5%. Powell, porém, descartou cenário de estagflação.
Discorrendo sobre a política comercial do governo de Donald Trump, Powell alertou que parte das revisões altistas na mediana de projeções para os preços no “Dot-Plot” pode ser atribuída às tarifas que estão por vir. Citou, também, duas leituras altistas de inflação de bens nos primeiros dois meses deste ano.
Disse, porém, que o cenário-base do banco central é de que os impactos da imposição de tarifas sobre os preços será “transitória”, em fala que ecoa comentários do secretário do Tesouro, Scott Bessent, em eventos anteriores.
O chair do Fed também voltou a repetir que a política monetária do Fed está “bem posicionada” para responder aos desenvolvimentos econômicos, e minimizou as leituras baixistas observadas na confiança do consumidor.
“Na minha opinião, Powell fez um excelente trabalho em equilibrar a necessidade de manter uma inclinação mais ‘dovish’ enquanto permanecia comprometido em reduzir a inflação. Ele também pareceu confiante sobre a inflação alcançar sua meta mesmo que eles (Fed) continuem com seu ritmo de cortes moderados. Não é uma questão de se, mas quando (inflação alcançar meta)”, disse Daniel O’Regan, da Mizuho, à Barron’s.
Os ativos de risco viveram um rali na véspera, com o S&P500 e o Nasdaq 100 registrando a melhor performance em um dia de decisão de juros desde julho, e o Dow Jones, em mais de um ano. Os ativos seguem operando em alta na sessão de hoje enquanto as Treasuries yields recuam.
“O que vemos hoje é um rali dos juros… temores de que a economia colapse, e um Fed preocupado”, afirmou o chefe de renda fixa internacional da NatAlliance Securities, Andrew Brenner, à Barron’s.