São Paulo, 9/12/204 – O dólar poderia testar patamares entre R$6,70 e R$7,0 em um cenário hipotético em que o mercado financeiro passe a precificar amplamente riscos da chamada dominância fiscal no Brasil, avaliou o Morgan Stanley em relatório a clientes nesta segunda-feira.
De acordo com o Morgan, o real “certamente tem espaço para se depreciar ainda mais” ante o dólar, e o câmbio local tem falhado em responder às contínuas altas de juros promovidas pelo Comitê de Política Monetária (Copom), que ao menos em tese deveriam favorecer a apreciação da moeda ante a divisa norte-americana.
“A redução do comprometimento fiscal neste momento veio como uma surpresa para nós e para a maioria dos participantes do mercado, conforme capturado pelo recente price action no câmbio e juros, levantando questionamentos sobre os padrões de gastos para 2025 “, escreveram os analistas do Morgan.
O Copom reúne-se nesta semana para a última decisão de juros do ano, com operadores precificando uma aceleração do aperto monetário, a 75 ou 100 pontos-base, em meio a uma contínua desancoragem das expectativas e deterioração entre agentes observada desde a apresentação do pacote de contenção de gastos pelo governo, ao fim de novembro.
Em caso de confiança que arrisque uma deterioração do câmbio para um intervalo entre R$6,70 e R$7,00, o Morgan avalia que ficaria mais provável o anúncio de novas medidas fiscais pelo governo para evitar o cenário mais extremo. Em seu cenário-base, o banco americano precifica o dólar a R$6,30 no segundo semestre de 2025, em antecipação ao cenário eleitoral de 2026.
Em um cenário “mais otimista”, o Morgan Stanley calcula um “piso” de R$5,40 para o dólar, que seria possível se o governo entregar progresso substancial no front fiscal. O Morgan Stanley também removeu recomendação de compra para real ante o peso colombiano.
Dominância fiscal é a situação em que a política fiscal do governo, devido a altos níveis de endividamento, domina a política monetária, limitando a capacidade do Banco Central de controlar a inflação via taxas de juros.
Em eventos nos últimos meses, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse não concordar com cenário de dominância fiscal no Brasil. Mas o tema voltou a ser tema em almoços no mercado financeiro “depois de dez anos”, disse ainda no final de outubro o economista Sandro Sobral, do Santander Brasil.