Por: Luciano Costa e Leonardo Levatti
São Paulo, 10/10/2025 – Mudanças no crédito imobiliário anunciadas hoje pelo governo são estruturalmente positivas para o segmento e podem até ajudar a política monetária no futuro, mas “a questão é o período de transição até você chegar lá”, devido ao estímulo à demanda no curto prazo, que vem enquanto o Banco Central tenta esfriar a economia por meio dos juros restritivos, avaliou o ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman, em entrevista à TC News.
Pela manhã, ao participar de cerimônia de lançamento do programa de crédito, ao lado do presidente Lula e ministros, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, disse entender que o plano poderá ajudar “na potência da política monetária”, em declaração recebida com estranheza por agentes do mercado financeiro, que reagiram negativamente à fala.
Para Schwartsman, melhorias nas condições para um mercado de crédito sensível às taxas de juros, como o imobiliário, podem fazer com que “lá na frente” a política monetária tenha de fato maior potência. “Mas, em um primeiro momento, tudo mais constante, aumentando a oferta de crédito significa um impulso a mais sobre a demanda.. ao mesmo tempo em que você está tentando conter a demanda por outro lado”.
“É uma questão de ‘timing’… então tem uma certa esquizofrenia aí nesse período de curto prazo, e imagino que o mercado tenha reagido mal a isso”, afirmou Schwartsman, ao ser questionado sobre as declarações de Galípolo e o movimento do mercado, em participação no programa TC News.
Pouco depois das falas de Galípolo, o Ibovespa acelerou viés de baixa e renovou as mínimas da sessão, enquanto o dólar disparou mais de 1%, voltando a operar no patamar de R$5,50. Ao mesmo tempo, a curva de juros passou a exigir mais prêmio, com ênfase na cauda longa, que subia 20 pontos-base e avançava e maior ritmo ante os vértices curtos, em um movimento técnico conhecido como “Bear Steepening”.
Schwartsman explicou que, como aumentos ou reduções de juros pelo BC encarecem ou barateiam financiamentos imobiliários, a consolidação de um mercado mais amplo de crédito para o setor no Brasil abriria “um novo canal” de transmissão da política monetária, como citado por Galípolo. No evento de hoje, o presidente do BC chegou a comentar que os empréstimos para imóveis no Brasil representam proporção do PIB bem menor que em países pares, por exemplo.
“Isso aí existe, é um canal importante de transmissão de política monetária nos Estados Unidos, onde o mercado hipotecário é grande, bastante desenvolvido. Ele é bem menos desenvolvido no Brasil”, afirmou.
TIMING
Na visão do economista, que esteve na diretoria do BC entre 2003 e 2006, com esse e outros fatores, o Comitê de Política Monetária (Copom) deve iniciar flexibilização da política monetária apenas no primeiro trimestre de 2026, e não ao fim deste ano, como parte do mercado chegou a precificar anteriormente. “Em janeiro, menos provável; em março, mais provável. Mas é por aí”, afirmou.
Ele se baseia em expectativa de que, no início de 2026, o BC esteja projetando que a inflação no horizonte relevante, que estará olhando no terceiro trimestre de 2027, poderá cair a 3,3%, perto do centro da meta, de 3%. “Um pouco acima da meta, mas historicamente o BC não espera estar exatamente ali, por isso esperamos que seja em algum momento do 1T26.”