Haddad vê taxa de juros de mercado ´irracional´; Galípolo reafirma compromisso com meta

Haddad vê taxa de juros de mercado ´irracional´; Galípolo reafirma compromisso com meta

São Paulo, 14/10/2024 – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliou que o mercado de juros futuros está “irracional” devido a temores de operadores de que o governo não consiga fazer a estrutura de despesas caber dentro do arcabouço fiscal, mas prometeu medidas para aliviar as tensões.

“Tivemos um revés, depois de alguns problemas de comunicação, tanto da autoridade monetária quanto do Executivo. E deu uma desancorada nas expectativas… esse assunto é que está presidindo nossas preocupações este ano, e queremos endereçar essa questão”, disse Haddad, durante o evento Itaú Macro Vision.

“A partir do momento em que o mercado perceber a consistência intertemporal do arcabouço, acredito que essas expectativas voltam a ser alinhar com o que a economia real está demonstrando”, acrescentou Haddad. “Não vejo risco de não endereçarmos isso e não ancorar expectativas no curto prazo”.

Ao comentar as taxas de juro real negociadas no mercado, Haddad disse que “é totalmente irracional o que estamos vivendo. Precisamos voltar para a racionalidade rapidamente”.

Para isso, segundo Haddad, o caminho é fazer a receita crescer acima do ritmo de expansão do PIB, com as despesas crescendo abaixo disso, o que segundo ele permitiria “reequilibrar as contas em um patamar que já foi considerável aceitável” no passado.

Ele também disse que, no lado fiscal, o Orçamento para 2025 está mais equilibrado que o deste ano, e a garantia de compensações para a desoneração da folha deve permitir normalidade na execução do Orçamento no ano que vem.

Haddad ainda sinalizou que, em medidas para corte de despesas, o governo fará “revisão de programas sociais que estão descalibrados por falta de filtros”. A reforma do imposto de renda está em estudo, mas não é possível dizer se sairá este ano, acrescentou o ministro, garantindo que a medida seria ´neutra´ do ponto de vista tributário.

GALÍPOLO

Em palestra na sequência, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, que presidirá o BC a partir de 2025, buscou mostrar compromisso total com as metas de inflação em seu mandato.

“Eu já completei a ´cartelinha´. Já cortei (Selic), já mantive e já subi. O BC seguirá fazendo o que é necessário para atingir a meta”, afirmou, sobre sua atuação na diretoria do BC desde a indicação para a instituição.

Para ele, as expectativas de inflação desancoradas, que incomodam o BC, estão relacionadas com a atividade econômica acima do previsto, o mercado de trabalho apertado e o impulso fiscal, além do mercado de crédito que segue vigoroso.

“Para quem está na academia, pode escrever artigo, até no mercado, tem maior grau de liberdade para escrever teses e fazer apostas. A posição do BC é sempre é de ser mais conservador”, afirmou Galípolo, pontuando que o mercado de trabalho sugere um processo de desinflação “mais lento e custoso”.

Ele também disse que não há relação mecânica entre a política monetária no Brasil e nos Estados Unidos, que começaram ciclo de corte de juros, e que os países estão em “ciclos econômicos distintos”. Segundo Galípolo, o Copom segue “dependente de dados”.

(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)