Brasília, 18/3/2024 – O Federal Reserve deverá manter os juros inalterados no atual patamar de 5,25% a 5,50% na decisão da próxima quarta-feira, pela quinta vez consecutiva, e ditar as expectativas para a trajetória da política monetária neste ano no relatório trimestral “Dot-Plot”, que contará com projeções atualizadas para a atividade econômica dos Estados Unidos.
O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) inicia sua reunião de dois dias nesta terça, e deve divulgar a decisão na quarta-feira, por volta das 15h00. Analistas se atentam para a mediana das projeções dos dirigentes do banco central para a taxa-alvo Fed Funds ao fim de 2024, que pode ser reveladora para as expectativas da magnitude do corte de juros.
DOT-PLOT
No mais recente “Dot-Plot”, de dezembro, a mediana das projeções dos dirigentes indicava uma taxa-alvo Fed Funds de 4,6% ao fim de 2024, denotando uma extensão de cortes de 75 pontos-base ao longo deste ano. No entanto, eventual continuidade de leituras da inflação acima do consenso pode diminuir o espaço para o alívio monetário.
A Nomura está entre uma minoria de instituições financeiras que acredita que o “Dot-Plot” passará a exibir projeção de dois cortes de juros neste ano, de 25 pontos-base cada, ante três projetados na decisão de dezembro. Os dirigentes do Fed foram confrontados, neste início de ano, com dados de inflação acima do consenso para os meses de janeiro e fevereiro, aumentando os riscos de um período mais longo de juros restritivos.
“Dois meses é muito cedo para se declarar que está tudo perdido, mas certamente aumenta-se o risco de que haja um pouco mais de problema com a inflação e, neste caso, faz sentido ser cauteloso”, afirmou à Refinitiv o economista-sênior para os EUA da Nomura, Jeremy Schwartz.
O Bank of America segue crendo que o FOMC guiará os investidores para um corte de juros em junho, embora o “risco mais claro” para os mercados seja eventual adiamento do início do alívio monetário. Em relatório, os analistas do BofA disseram esperar que o “Dot-Plot” siga mostrando três cortes de juros de 25 pontos-base cada ao longo deste ano.
Ao fim da manhã, derivativos negociados na Chicago Mercantile Exchange (CME) projetavam 48,9% de chances de manutenção do juro em junho, ante 46,5% de chances de corte de 25 pontos-base. Na decisão de julho, os derivativos indicavam 47,4% de chances de corte de 25 pontos-base, para o intervalo entre 5,0% e 5,25%.
INFLAÇÃO
Na coletiva de imprensa que seguirá a decisão, o BofA aposta que Powell deverá afirmar estar “menos confiante” acerca das perspectivas para a inflação em março, ante janeiro, com base nos mais recentes dados de preços. “Acreditamos que a mensagem será de que as inflações de janeiro e fevereiro reduziram, marginalmente, a confiança e desafiaram a perspectiva de corte em junho”, escreveu o economista para os EUA, Michael Gapen.
Dados da inflação ao consumidor de fevereiro, reportados na semana anterior, indicaram uma alta de 3,2% na base anual, e aceleração ante o dado de janeiro, de avanço de 3,1%. O dado – acima da meta média perseguida pelo Fed no longo prazo, de 2,0% – não concede aos dirigentes confiança necessária, no momento, para iniciar o ciclo de alívio monetário.
Até o momento, os dados também “validam” a tese repetida por Powell em diversas aparições públicas, de optar pela prudência e visualização de dados, afirmou a chefe de economia da Nationwide, Kathy Bostjancic, à Refinitiv. A atividade econômica dos EUA segue forte, com a taxa de desemprego em 3,9% em fevereiro – perto das mínimas históricas – e geração líquida de empregos significativa.
O Deutsche Bank ainda crê em uma mediana de “Dot-Plot” indicando três cortes de 25 pontos-base cada neste ano. No entanto, com uma inflação girando acima do consenso, os dirigentes creem em uma potencial redução da magnitude de cortes de juros em 2025, a três, ante quatro projetadas anteriormente.
Analistas de mercado também não esperam mudanças significativas na estrutura textual do comunicado da decisão na tarde de quarta, embora projetem um tom ainda mais cauteloso do chair do Fed, Powell, em sua coletiva de imprensa. Há uma expectativa, também, sobre novos detalhes dos planos do banco central de interromper a redução do seu balanço patrimonial.
(GP | Edição: Luciano Costa | Comentários: equipemover@tc.com.br)