Fed alimenta 'rali de Natal´ estelar com potencial reversão de aperto

Índices americanos caminhavam para fechar em máximas recordes na quinta-feira

Reprodução/X
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Por: Gabriel Ponte

Os investidores e os dirigentes do Federal Reserve parecem estar em sincronia acerca de uma potencial reversão do ciclo de aperto monetário na economia americana em 2024, após o presidente do banco central, Jerome Powell, endossar a visão de que o “timing” para um alívio monetário está surgindo entre os membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), alimentando um “rali de Natal” nos mercados financeiros.

Os índices americanos saltaram após a reunião do FOMC de ontem, e o Dow Jones e Nasdaq 100 caminhavam para renovar as máximas recordes de fechamento nesta quinta-feira, com o S&P500 a menos de 2% da máxima recorde de janeiro de 2022. Os rendimentos dos títulos do Tesouro de dez anos, que ensaiaram um fechamento ao longo das últimas semanas, operavam no menor nível desde julho. No Brasil, o Ibovespa também acelerou alta após a decisão e tocou máximas na sessão de hoje.

O otimismo que tomou conta dos mercados acionários é resultado do mais claro sinal já concedido pelo Fed sobre a trajetória da política monetária no próximo ano. Para além das projeções trimestrais do “Dot-Plot”, o chair do banco central, Powell, endossou a visão prévia de operadores, de que um potencial corte de juros é agora um “tópico de discussão”.

Powell ainda tentou manter um grau de cautela na coletiva de imprensa, ao afirmar ser “prematuro” declarar vitória sobre os riscos inflacionários. Mas não foi o suficiente para conter a visão do mercado de que a última decisão do FOMC foi mais “dovish”, mesmo com os juros tenham se mantido inalterados no intervalo entre 5,25% e 5,50%.

Após a reunião, o mais recente “Dot-Plot”, relatório trimestral com projeções para a economia americana, reduziu a mediana das estimativas para a taxa-alvo Fed Funds ao fim de 2024 para 4,60%, ante 5,10% estimados em setembro, denotando três cortes de 25 pontos-base cada ao longo do próximo ano.

Os investidores, porém, se preparam para mais. Derivativos negociados na Chicago Mercantile Exchange no início desta tarde apontavam para 150 pontos-base de cortes de juros ao longo de 2024, o dobro do estimado pelo “Dot-Plot”.

As falas de Powell também adicionaram combustível ao rali acionário vivenciado pelas bolsas nesta reta final de ano. O presidente do Fed não apenas lançou luz sobre um potencial início do ciclo de afrouxamento monetário, como também disse que o FOMC está “consciente” dos riscos de manter os juros elevados por “muito tempo”.

O colegiado tem observado “progresso real” nos dados de desinflação da economia americana, embora ainda precisará observar a continuidade da evolução dos preços em direção à meta de 2,0%. E, assim como anteriormente, eventuais dados mistos de atividade e emprego ao longo dos próximos meses podem turvar o cenário para queda dos juros.

Até o momento, porém, os investidores parecem minimizar o risco. Os economistas do Goldman Sachs, liderados por Jan Hatzius, projetaram que o núcleo do Índice de Preços para Gastos de Consumo Pessoal (PCE) irá desacelerar alta a 2,1% ao fim de 2024, em linha com a meta média perseguida pelo banco central.

Com a desaceleração do ritmo de alta dos preços, o Goldman aposta que o banco central lançará mão de cortes de 25 pbs nas reuniões de março, maio e junho do próximo ano. Na sequência, o banco imagina mais dois cortes, distribuídos entre os dois últimos trimestres do ano. Anteriormente, o banco projetava dois cortes de juros em todo 2024, iniciando-se apenas no terceiro trimestre.

Com as projeções mais otimistas, o S&P500 aproxima-se de território de “bull market”. Acumula alta de 15,30% desde a mínima tocada em 27 de outubro.

Outro beneficiário do rali tem sido o índice KBW Nasdaq para bancos, que subia cerca de 5% na sessão desta quinta, para o maior nível desde março de 2023, impulsionados pelo cenário de reversão desenhado dos juros. Em um ambiente de juros elevados, as instituições se veem obrigadas a pagarem mais aos seus depositantes, além de verem o valor de seus títulos corroerem.

Entre março de 2022 e julho de 2023, o Fed imprimiu o mais longo ciclo de alta dos juros desde 1980, levando as Fed Funds para o maior nível desde 2001, para controlar uma inflação que girava em torno das máximas em quatro décadas.

O grande desafio desde o início do ciclo de aperto monetário é a busca por um “pouso suave” para a economia, reduzindo a inflação sem gerar uma recessão.

A missão, que no passado foi cumprida por sucesso pelo lendário economista e chair do Fed Alan Greespan, caiu dessa vez no colo de Powell, um advogado de formação que depois se tornou um banqueiro de investimentos e ficou conhecido no Fed pela cautela e formalidade em suas declarações públicas.

O chair do Fed indicado por Donald Trump e mantido pelo presidente Joe Biden parece estar a passos de atingir sucesso na dura tarefa, o que o firmaria seu lugar no rol dos mais importantes chefes do Fed.

(GP | Colaboração de Luca Boni | Edição: Luciano Costa | Comentários: equipemover@tc.com.br)