Brasília, 6/5/2025 – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve elevar a Selic nesta semana, com parcela majoritária dos agentes apostando em alta de 50 pontos-base, a 14,75%, seguindo a sinalização em março de elevação adicional e de menor magnitude, enquanto uma menor parte do mercado antevê aperto ainda inferior, de 25 pontos-base, na esteira de falas recentes de diretores.
O Copom iniciou sua reunião de juros de dois dias nesta terça-feira, informando a decisão na quarta, a partir das 18h30. Desde março, o colegiado se deparou com um fluxo de notícias apontando para apreciação do câmbio e preços de commodities mais baixos nos mercados internacionais – além de elevada incerteza global, em decorrência do impasse tarifário liderado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com viés de desaceleração da atividade mundial.
Desde o “Liberation Day”, em 2 de abril, agentes de mercado observaram uma depreciação significativa do dólar em âmbito global – com recuo de cerca de 4,20% do índice DXY, que mede o desempenho da moeda americana ante uma cesta de divisas. Os futuros do petróleo Brent tombaram cerca de 19% – denotando um viés ligeiramente favorável para as perspectivas de inflação em âmbito. No mercado local, Petrobras já aprovou duas reduções do preço do diesel desde meados de abril.
O cenário internacional também já se reflete nas expectativas de mercado. A mediana de projeções para o IPCA – que encontrava-se em 5,66% no Focus antecedente ao Copom de março – recuou a 5,53% no relatório desta semana – na terceira queda semanal consecutiva. Já a média do câmbio nos últimos dez dias úteis recuou a R$5,70/dólar na decisão de maio, ante R$5,80/dólar na decisão de março.
A apreciação do real nesse período – reduzindo projeções para a inflação de bens – e falas recentes de membros do Banco Central, como as proferidas pelos diretores Nilton David, de Política Monetária, e Diogo Guillen, de Política Econômica, promoveram um fechamento da curva de juro, elevando a precificação, pelo mercado, de uma alta de 25 pontos-base em maio.
David destacou, no mês passado, que uma desaceleração global induzida pelas tarifas é “virtualmente inevitável”, e que deveria produzir efeitos desinflacionários sobre o Brasil. Também afirmou que a política monetária local já está “altamente restritiva” e que há sinais de materialização dela, como na estabilização da leitura do IBC-BR.
Por sua vez, Guillen afirmou que o aumento da incerteza no cenário internacional demandaria “mais flexibilidade” e “mais cautela” da autarquia na condução da política monetária – lida por parte dos agentes como um aceno à alta de menor magnitude em maio, ou até mesmo interrupção do ciclo de alta dos juros.
A interpretação “dovish” que parcela dos agentes de mercado embutiu às falas de membros do BC foi contrastada, posteriormente, com esclarecimentos adotados, então, pelo presidente da autarquia, Gabriel Galípolo. Na semana passada, ele reiterou que comunicação do último Copom “segue vigente” – que antevê ajuste menor que 100 pontos-base em maio, e que a autoridade estaria “tateando” para entender se o nível de juros para o qual o BC está “caminhando” é suficiente para colocar a inflação na meta.
As falas de Galípolo foram lidas com viés mais conservador por agentes do mercado – que ajustaram reprecificação para apostas majoritárias de alta de 50 pontos-base para a decisão desta quarta-feira. De acordo com o BTG, cerca de 70% dos respondentes de pesquisa pré-Copom julgam que o colegiado elevará a Selic em 50 pontos-base, enquanto minoria, de cerca de 30%, antevê alta de 25 pontos-base.
No início desta tarde, a probabilidade de alta de 50 pontos-base em maio estava em 78%, de acordo com opções negociadas na BM&F. A probabilidade de alta de 25 pontos-base estava em 21%, também de acordo com a BM&F.
A despeito de variáveis como câmbio e commodities mostrarem contribuição baixista para o Copom em seu modelo de inflação, o mercado de trabalho segue aquecido – com crescimento da renda real – além das novas medidas de estímulo anunciadas pelo governo, como o crédito consignado privado, ganharem tração adiante, constituindo fonte de expansão da demanda.
Na visão do BTG, essas medidas podem em parte compensar os efeitos contracionistas da política monetária – o que adicionaria complexidade ao ciclo de aperto do Copom.
Há dúvidas no mercado também sobre como virá a comunicação do BC — principalmente se haverá indicação de alguma alta adicional, ou se o Copom deixará a porta aberta, sem qualquer sinalização (guidance).
O BTG vê como a estratégia “mais apropriada” para o colegiado a continuidade do aperto monetário, com uma alta de 50 pontos-base nesta quarta, e sinzalização de alta adicional, que seria de 25 pbs na decisão de junho, colocando a Selic terminal em 15,0%. “A comunicação deve continuar a enfatizar a necessidade de manter a política monetária em território restritivo para garantir a convergência da inflação à meta e reforçar a credibilidade da orientação da política”, escreveram analistas do banco em nota a clientes.
A XP também antevê alta de 50 pontos-base nesta quarta, ante 75 pontos-base estimados inicialmente, mas descarta qualquer sinalização no comunicado sobre eventual decisão em junho. “Nenhuma sinalização, por definição, não significa que os juros irão ficar parados no próximo mês”, pontuou a XP, antevendo o cenário para os preços em 2026 como “desafiador” – implicando em manutenção da Selic em nível elevado por “longo período”.
“Os índices de inflação ao consumidor vieram em linha com as expectativas, o que consideramos uma má notícia, uma vez que ela segue rodando próxima ao dobro da meta, de 3,0%. Entendemos que os acontecimentos desde março corroboram com a indicação de condução gradual da política, mas ainda sugerem necessidade de ajuste adicional para garantir a desinflação no futuro”, escreveu a XP em relatório.
O BBA também antevê alta de 50 pontos-base amanhã pelo Copom, na esteira de expectativas de inflação desancoradas – embora tenham parado de piorar – e de um hiato positivo e de projeções da autarquia que indicam a necessidade de seguir avançando em território contracionista. Também para o banco, o balanço de riscos deve permanecer assimétrico para cima, embora de forma menos acentuada ante março.
“Contribui nessa direção a qualificação de um ambiente menos inflacionário para economias emergentes. Consideramos, adicionalmente, que o grau e persistência da desancoragem das expectativas, bem como do próprio desvio da inflação em relação à meta, recomendam cautela na incorporação de desenvolvimentos exógenos benignos no cenário prospectivo, seja nas projeções ou no balanço de riscos em torno das mesmas”, afirmou o economista-chefe do Itaú, Mário Mesquita.
PROJEÇÕES DE INFLAÇÃO
A XP antevê redução da projeção do Copom para o IPCA de 2025, a 4,8%, ante 5,1% estimados em março. Para o fim de 2026 (quarto trimestre) – atual horizonte relevante da política monetária – a projeção para o IPCA deve recuar ligeiramente a 3,6%, ante 3,7%, mesmos números do BBA.
ATIVIDADE
Desde março, dados da atividade econômica apontam para leitura mista – na esteira de uma piora das condições de crédito, além dos efeitos defasados da política monetária. A geração líquida de postos de trabalho, mensurada pelo Caged, mostrou leitura de 71,5 mil postos criados em março – a despeito do efeito calendário pelo carnaval – em um claro recuo ante os números de fevereiro, com 431 mil vagas abertas.
Por outro lado, a XP acredita que os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre diminuirão a percepção clara de desaceleração econômica, além das medidas de estímulo ao crédito, que seguem em andamento. “O viés fiscal e parafiscal do governo tende a se tornar mais expansionista à medida que as eleições se aproximam”, reconheceu a casa.
Ou seja, na visão da XP, à medida que o Copom incorpore as medidas de estímulo anunciadas pelo governo às suas projeções, atingir a meta de inflação de 3,0% “se tornará ainda mais desafiador”. Assim, a instituição antevê elevação final de 25 ou 50 pontos-base da Selic em junho, e alerta também para um real mais “propenso” a sofrer depreciação adiante – em meio a piores números do balanço de pagamentos.
(GP | Edição: Luciano Costa | Comentários: equipemover@tc.com.br)