Copom deve reduzir juro em 50 pontos-base, mas PIB e fiscal ainda impedem acelerar cortes

Encontro ocorre em meio a um recente alívio nas expectativas de inflação

Agência Brasil
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Por: Gabriel Ponte

O Comitê de Política Monetária do Banco Central deverá reduzir os juros de forma unânime em 50 pontos-base na decisão da próxima quarta-feira, pela quarta vez consecutiva, para o nível de 11,75% ao ano, e manter orientação de corte da mesma magnitude para as próximas reuniões, apesar de pressões políticas por uma aceleração do movimento.

O Copom inicia sua reunião de dois dias nesta terça-feira, e divulgará a decisão na quarta-feira, por volta das 18h30. O encontro ocorre em meio a um recente alívio nas expectativas de inflação que tem levado alguns economistas a apostarem que o BC poderia ter espaço para cortes mais profundos de juros, mas a visão não é unânime.

Segundo fontes consultadas pela Mover, o Copom poderá realizar leves ajustes para incorporar a melhora do processo desinflacionário na atividade econômica desde a última decisão, em novembro, mas não é esperada nenhuma sinalização sobre uma flexibilização maior da política monetária já para a próxima reunião.

Desde o último encontro do colegiado, os preços do petróleo nos mercados internacionais recuaram, favorecendo a trajetória de queda da inflação. O indicador de média móvel de três meses do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encontra-se quase na meta de 3,0%. A inflação de serviços também está mais moderada. Por outro lado, os membros do Copom avaliarão a pressão altista oriunda dos dados do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre, que vieram acima das expectativas, impulsionados pelo consumo das famílias.

Na visão do Bank of America, a expansão acima do esperado da atividade econômica, em conjunto com a incerteza envolvendo o alcance da meta fiscal adiante, impedem qualquer alteração no ritmo de corte da Selic.

Outro risco para a autoridade monetária, e o principal, na opinião dos analistas da XP, continua do lado fiscal. Noticiário recente que aponta para novas despesas fora do limite do arcabouço fiscal “reforça a nossa visão de que a política fiscal tem um viés expansionista”, avaliou o economista-chefe, Caio Megale, em relatório. Segundo ele, esses desdobramentos tendem a pressionar, em algum momento, as expectativas inflacionárias.

De acordo com o mais recente boletim Focus, desta segunda, as projeções de inflação para 2025 se encontram em 3,50%, acima do centro da meta perseguido pelo BC, de 3,0%. “As projeções podem se afastar ainda mais da meta no próximo ano com as incertezas sobre o financiamento das contas públicas e os baixos patamares de preços de alguns grupos do IPCA”, acrescentou Megale.

Diante desse cenário, o Copom deverá manter no comunicado o guidance de corte de juros “de mesma magnitude nas próximas reuniões”, apostaram analistas do BofA

Embora não espere já um sinal de cortes maiores, a equipe da XP reconhece a possibilidade de o colegiado limitar a orientação de corte de juros na mesma magnitude apenas para a próxima reunião, em janeiro de 2024, ou até mesmo não fornecer indicativo algum.

Em suas projeções para o IPCA, o Copom deverá realizar revisões para baixo para os anos de 2023 e 2024, a 4,5% e 3,5%, ante 4,7% e 3,6%, respectivamente, de acordo com a XP. Na visão da instituição, a revisão contempla uma previsão mais baixa para a inflação de bens administrados, a 9,0% e 4,7% em 2023 e 2024, respectivamente, ante 9,3% e 5,0%, na mesma ordem.

Nos mercados globais, o BofA entende que o colegiado deverá apontar, no comunicado, para a contínua incerteza envolvendo os impactos do conflito no Oriente Médio e as dúvidas sobre as próximas decisões de juros do Federal Reserve, além da trajetória dos rendimentos das Treasuries, os quais justificariam a manutenção do ritmo de corte da Selic em 50 pontos-base.

(GP | Edição: Luciano Costa | Arte: Vinícius Martins | Comentários: equipemover@tc.com.br)