Copom deve reduzir juro a 11,25% e sinalizar parcimônia diante de riscos

O Comitê de Política Monetária do Banco Central deverá reduzir os juros de forma unânime em 50 pontos-base

Copom deve reduzir juro a 11
Copom deve reduzir juro a 11

Por: Gabriel Ponte

Brasília, 29/1/2024 – O Comitê de Política Monetária do Banco Central deverá reduzir os juros de forma unânime em 50 pontos-base na decisão da próxima quarta-feira, pela quinta vez consecutiva, para o nível de 11,25% ao ano, e destacar os riscos geopolíticos e fiscais como justificativas para a manutenção do ritmo de corte.

O Copom inicia sua reunião de dois dias nesta terça-feira, e divulgará a decisão na quarta-feira, por volta das 18h30. O encontro ocorre na esteira de tensões geopolíticas renovadas no Mar Vermelho – com frequentes ataques a navios na região – e do anúncio de novas políticas que reforçam o viés expansionista do atual governo brasileiro.

Segundo fontes consultadas pela Mover, o fluxo de informações desde a última reunião, em dezembro, não altera significativamente as projeções de inflação e do balanço de riscos do Copom – o que deve acarretar em nenhuma mudança relevante no comunicado pós-reunião desta semana.

Os analistas, entretanto, se dividem sobre a redação do comunicado. A equipe do Bank of America, liderada por David Beker, entende que o colegiado poderá destacar a incerteza fiscal e intensificação dos riscos geopolíticos como fatores que justificam a manutenção do ritmo de alívio em 50 pontos-base.

Na ponta oposta, analistas da XP, liderados por Caio Megale, não acreditam em menção do Copom aos riscos fiscais e parafiscais, após recente anúncio de uma política industrial de R$300 bilhões do governo federal que gerou preocupações com potenciais impactos às contas públicas, depois descartados pelo BNDES e autoridades.

“É possível que o comitê opte por mencionar as tensões geopolíticas e a dinâmica do mercado de trabalho para reforçar a necessidade de uma política monetária ainda restritiva adiante”, avaliou a XP.

A XP revisou o nível terminal dos juros ao fim de 2024, a 9,0%, de 10,0% antes, com a queda nos preços de commodities desde o terceiro trimestre de 2023 ampliando a desinflação global de custos e ajudando a reduzir o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2024. Mas despesas fiscais e parafiscais expansionistas, além de pressões salariais e tensões geopolíticas, podem comprometer a convergência da inflação à meta, ainda segundo a XP.

Em 2023, o IPCA acumulou alta de 4,62% – abaixo do teto da meta perseguido pelo BC, de 4,75% – depois de dois anos consecutivos de estouro. No entanto, em relatório, analistas do Citi pontuam que o processo desinflacionário ficará “mais difícil a partir de agora”, com um “mix” que não deve contemplar preços mais baixos de commodities e apreciação cambial.

“Para nós, o ciclo de redução das taxas de juro em curso será mais curto do que o previsto pelas estimativas de consenso.”, escreveu o time do Citi.

Já a equipe do BofA estima que o IPCA deste ano será revisto para 3,4%, de 3,5% hoje, na esteira de um IPCA-15 referente a janeiro abaixo do consenso, e de reajuste mais suave nas mensalidades escolares no início deste ano.

O BofA também calcula que o IPCA para 2025 e 2026 permanecerá inalterado em 3,2% e 3,1%, respectivamente. O centro da meta perseguida para este e para os próximos dois anos é de 3,0%, com margem de tolerância de 1,50 ponto porcentual para cima ou para baixo.

EXTERIOR

Desde a mais recente decisão de juros do Copom, em dezembro, investidores acompanham os bombardeios no Mar Vermelho – que podem pressionar a tendência global de desinflação de custos – e a reprecificação de expectativas sobre um potencial corte de juros pelo Federal Reserve já em março. No mercado asiático, os agentes seguem acompanhando uma atividade econômica fraca oriunda da China.

Ainda assim, o presidente da SPX, Rogerio Xavier, disse em evento nesta segunda ver espaço para os desenvolvidos começarem a cortar os juros em março, influenciando positivamente o Brasil, já que daria suporte ao BC para acelerar o alívio da Selic.

Analistas do Goldman Sachs avaliaram que o impacto da crise no Mar Vermelho sobre a inflação global é potencialmente baixo, estimado em cerca de 0,1 ponto percentual. “Os custos internacionais de transporte respondem por uma pequena parcela do preço final de bens de consumo, cerca de 1,5%, em média, com o frete marítimo representando ainda menos, cerca de 0,7%”, escreveram.

(GP | Edição: Luciano Costa | Arte: Vinícius Martins | Comentários: equipemover@tc.com.br)