
FARIA LIMA JOURNAL
NO FIM DE SEMANA
>> O boletim Faria Lima Journal no Fim de Semana, do portal Faria Lima Journal e da agência de notícias Mover, traz uma seleção de conteúdos e leituras para investidores dispostos a gastar algum tempo no sábado e domingo para leituras mais aprofundadas de boas histórias e materiais informativos.
FT: Huang, da Nvidia, surpreende ao declarar que China vencerá corrida de IA contra EUA

O CEO da Nvidia, Jensen Huang, causou alarme entre investidores e comunidade tecnológica nesta semana, ao declarar que a “China vai vencer a corrida de Inteligência Artificial” contra os Estados Unidos, em entrevista ao Financial Times. A Nvidia, posteriormente, foi obrigada a se retratar, pontuando que o país asiático encontraria-se “nanosegundos” atrás dos EUA em IA, embora em última instância, o recado de Huang sirva de alerta para o presidente Donald Trump.
Huang atribuiu a previsão de potencial de liderança da China aos custos de energia “mais baixos e às regulamentações mais flexíveis”, pontos estes que, em última instância, vêm desafiando Trump. O presidente americano encontra-se em posição desafiadora, já que enfrenta subsídios agressivos, pela China, para produção de energia renovável e fóssil, e um país sob regime polítco não-democrático. que consegue acelerar licenças ambientais e governamentais sem maiores dificuldades.
No primeiro dia de mandato, o Trump declarou emergência energética nacional para acelerar a produção de energia, diante das necessidades de consumo de eletricidade, e já falou em recorrer ao carvão, gás e energia nuclear para apoiar a indústria de IA. Uma infraestrutura envelhecida nos EUA, além de poderes de regulamentação em boa parte estaduais, e não federais, oferecem desafios adicionais.
Esse subsídio energético chinês não é apenas econômico, mas geopolítico: Pequim o utiliza como alavanca para atrair desenvolvedores e compensar lacunas em chips avançados. Combinado com regulamentações mais permissivas em testes de modelos e uso de dados, cria um ambiente mais ágil para iteração rápida — um fator crítico em IA. Enquanto os EUA apostam em liderança tecnológica via arquitetura (Nvidia, OpenAI) e ecossistema de startups, a China compensa com escala, custo e velocidade de implantação.
Essa retórica também parece estratégica: ao destacar riscos existenciais para a liderança americana, o CEO da Nvidia reforça a narrativa de que restrições excessivas às exportações de chips — impostas pelo governo Biden e parcialmente flexibilizadas sob Trump — podem enfraquecer a própria posição dos EUA. Trata-se de um apelo velado por maior liberdade comercial, alinhado ao histórico lobby de Huang contra barreiras que limitam o acesso da Nvidia ao mercado chinês, seu segundo maior em receita antes das sanções.
Super-ricos investem em times esportivos ao invés de obras de arte, conta JP Morgan
Os clientes super-ricos do J.P. Morgan Chase & Co. estão reforçando investimentos em times esportivos, à medida que a valorização desses ativos atrai cada vez mais capital de empresas institucionais e eles se consolidam como uma classe de ativos, em contraste com um passado não tão distante em que famílias de altíssima renda colocavam parte do patrimônio em obras de arte, contou a Bloomberg em reportagem reproduzida pelo Valor Econômico.
Cerca de 20% das 111 famílias bilionárias atendidas pelo gigante de Wall Street agora detêm participações majoritárias em times esportivos, aumento signitivativo ante os 6% de três anos atrás, segundo relatório divulgado pelo banco americano nesta semana. Aproximadamente um terço dessas famílias — que possuem um patrimônio líquido combinado de mais de US$ 500 bilhões – investiram de forma mais ampla em times ou estádios esportivos, tornando-os sua principal classe de ativos especializada, à frente de arte e carros.
Na liga de basquete americana NBA, o Los Angeles Lakers foi vendido ao empreesário americano Mark Walter por US$ 10 bilhões. Em outubro, o New York Giants, da NFL, vendeu uma participação de 10% para Julia Koch e a família Koch por US$ 10,3 bilhões, estabelecendo um novo recorde histórico para o “valuation” de um time esportivo. O magnata da indústria de munições Michal Strnad adquiriu uma participação majoritária no clube de futebol tcheco FC Viktoria Plzen por valor não divulgado neste ano. O industrial britânico Jim Ratcliffe assumiu o controle do futebol do Manchester United no ano passado, após gastar cerca de US$ 1,5 bilhão para comprar ter um terço do time inglês.
“Os EUA são obviamente o mercado dominante para investimentos esportivos”, disse o líder da equipe 23 Wall do J.P. Morgan, que atende a clientes ultra-ricos e escreveu o relatório. Mas “a oferta de oportunidades está crescendo”, com os donos de times da NBA e NFL se mostrando cada vez mais abertos a empresas de private equity nos últimos anos.
Em meio à COP, América Latina exemplifica dificuldade de abrir mão do petróleo

Enquanto o presidente Lula e o líder colombiano Gustavo Petro fazem discursos defendendo o abandono dos combustíveis fósseis em algum momento, a realidade mostra que essa seria uma tarefa difícil para o Brasil, Colômbia e outros países da América Latina, apontou o Financial Times em reportagem.
Enquanto o Brasil acaba de aprovar licença para exploração de uma nova e importante fronteira, na Margem Equatorial, e o governo do próprio Lula tem recorrido a novos leilões de petróleo, inclusive de barris da União, para levantar caixa, o “ouro negro” respondeu por 44% das receitas de exportação da Colômbia em 2022, com hidrocarbonetos representando cerca de 10% a 15% da receita total do governo.
Petro, ao contrário de Lula, chegou a tomar iniciativas de fato contra a exploração, decretando moratória sobre novas licenças e elevando impostos sobre o setor, mas o resultado foi a fuga de investidores incluindo Chevron, Exxon, ConocoPhilips e Repsol, que deixaram o país ou reduziram operações por lá nos últimos anos. Ao mesmo tempo, com declínio da produção própria de gás, os colombianos passaram a importar o energético– inclusive comprando um gás mais caro e que gera mais emissões de carbono, segundo um pesquisador relatou ao FT. “A única coisa que nós, colombianos, conseguimos com isso é pagar mais e poluir mais por causa de uma política energética ruim.”
Lula, por sua vez, passou a defender discussão sobre o fim da dependência dos combustíveis fósseis na COP, mas também disse claramente que “o Brasil não vai abrir mão de uma riqueza que pode melhorar a vida do povo”. O governo Lula quer transformar o país no quarto maior produtor mundial de petróleo até 2030, à frente do Iraque e dos Emirados Árabes Unidos. Em paralelo, o presidente tem defendido que os recursos gerados com a exploração do óleo ajudarão a financiar investimentos “verdes” e programas sociais.
WSJ: Musk vive dilemas pós-DOGE; entregar retorno ao acionista de Tesla e competir contra ChatGPT
Após deixar o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) em maio, Elon Musk mergulhou de cabeça na xAI, sua startup de inteligência artificial, priorizando-a em detrimento da Tesla, que tem lidado com dificuldades em termos de vendas de veículos e perdas de incentivos de crédito pelo governo dos EUA, e vem tentando se recuperar após a crise de imagem desencadeada pela associação do empresário com o presidente Donald Trump. Essa postura reflete o perfil hiperativo de Musk, que historicamente equilibra impérios como SpaceX, X (ex-Twitter) e Tesla, mas agora vê a IA como o novo front de batalha contra rivais, como Sam Altman, da OpenAI.
De acordo com o Wall Street Journal, Musk tem passado noites em claro no escritório da xAI, em Palo Alto, supervisionando o desenvolvimento do Grok 4 e inovações como o chatbot animado Ani – uma figura provocativa com traços de anime que impulsiona engajamento, mas levanta questões éticas sobre o uso de dados biométricos de funcionários para treinar avatares. Essa alocação intensa de tempo na xAI, incluindo reuniões com equipes da Tesla no local, expõe os dilemas inerentes à liderança multifacetada de Musk: como alavancar sinergias entre empresas sem diluir o foco em nenhuma?
O dilema de alocação de tempo se agrava pela sobreposição estratégica entre xAI e Tesla, onde a IA é pivotal para projetos como o robô Optimus e o robotaxi, lançado em Austin no verão no Hemisfério Norte. Musk, que brinca ser um “apenas observador” na xAI, na verdade impulsiona mudanças radicais, como eliminar reuniões coletivas em favor de sessões individuais exaustivas e ajustar o Grok para evitar respostas politicamente corretas. Ao mesmo tempo, ele gerencia SpaceX (que investiu US$2 bilhões na xAI) e cuida de filhos que frequentam o escritório.
Os acionistas da Tesla, pressionados por resultados questionáveis pela companhia, intensificam a cobrança sobre o foco de Musk, questionando privadamente executivos e o board sobre um plano de sucessão e sua dedicação real à companhia de veículos elétricos. Uma delegação incomum do conselho, incluindo a chair, Robyn Denholm, o ex-CFO da Chipotle Jack Hartung e o cofundador JB Straubel, reuniu-se com grandes investidores em Nova York na semana passada para defender o pacote de remuneração proposto a Musk – um megapacote que elevaria sua participação de 15% para 25% (potencialmente US$1 trilhão em ações) ao atingir metas ambiciosas, como vender 1 milhão de robôs Optimus e alcançar US$8,5 trilhões em capitalização de mercado.
Denholm minimiza as preocupações, comparando as “distrações” de Musk (como criar empresas) ao golfe de outros CEOs, argumentando que elas beneficiam indiretamente a Tesla via colaborações em IA, como a integração do Grok em veículos. No entanto, essa defesa revela tensões: o board admite não poder forçar dedicação full-time, e uma proposta de investimento da Tesla na xAI – endossada por Musk e apoiada por mais de 140 acionistas – enfrenta ceticismo.
A vitória de Milei repercute por toda a América Latina, avalia Barron’s
A vitória de Javier Milei nas eleições de meio de mandato da Argentina de outubro de 2025 consolida um raro caso de sucesso político sustentado por austeridade fiscal na América Latina, avaliou a Barron’s nesta semana. Ao transformar um déficit em superávit, reduzir a inflação e elevar o Produto Interno Bruto local, Milei demonstrou que ajustes macroeconômicos podem ser convertidos em capital eleitoral duradouro, desafiando o padrão regional de reformas interrompidas no meio do caminho.
Esse resultado não apenas confere ao seu governo poder de veto na Câmara, mas sinaliza aos vizinhos latino-americanos que credibilidade de política pode comprimir prêmios de risco e atrair fluxos de capital em um contexto de dólar mais fraco em âmbito global. O momentum reformista se dissemina. Na Bolívia, a eleição presidencial de Rodrigo Paz marca o fim de duas décadas de esquerda com uma agenda de desregulação e contenção monetária. No Chile, José Antonio Kast, de direita, lidera com propostas de consolidação fiscal e corte de impostos corporativos para reativar o crescimento. Peru e Colômbia enfrentam pleitos fragmentados, mas a necessidade de disciplina fiscal é imperativa — especialmente na Colômbia pós-eleição de Gustavo Petro, onde déficits insustentáveis derrubaram a popularidade do governo.
No Brasil, a Barron’s traz um olhar curioso. Considera o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, como candidato da direita no pleito presidencial em 2026, e afirma que ele empata em segundo turno com o atual mandatário, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao priorizar estabilidade macro e infraestrutura. Os ciclos reformistas latino-americanos historicamente se dissipam por receio de custo político, mas o timing global favorece a persistência.
A diversificação de portfólios, afastando-se de ativos americanos por investidores globais, combinada com incentivos de Washington para “liberalização da América Latina”, com exemplos recentes de auxílio à Argentina — reforça mandatos reformistas. Para a Barrons, a região assiste à revalorização do liberalismo econômico como vetor de estabilidade democrática e crescimento. Credibilidade fiscal e políticas pró-mercado emergem como ativos políticos e financeiros decisivos. Se mantidos, esses vetores podem desencadear uma reprecificação ampla de ativos regionais —, consolidando um novo equilíbrio entre disciplina macroeconômica e legitimidade eleitoral.
Reuters investiga como a Meta tem lucrado com anúncios fraudulentos — e até com seus próprios planos para combatê-los
A Meta tem obtido fortes lucros com anúncios publicitários que claramente são golpes, e a própria empresa sabe disso, segundo longa reportagem da Reuters, que cita uma projeção interna da companhia de que 10% da receita de 2024, ou a bagatela de US$16 bilhões, viria de anúncios “scams” ou de produtos proibidos
E qual a estratégia da empresa de Mark Zuckerberg para lidar com isso? Segundo a Reuters, ao invés de banir golpistas com suspeita alta, a Meta cobra mais caro deles nos leilões de anúncios – uma “taxa de penalidade” em tese criada para desencorajá-los, mas que na prática aumenta o lucro da empresa nos anúncios, sem muito sucesso em reduzir o volume dos golpes.
A reportagem cita alguns casos escabrosos, incluindo perfis de falsos militares americanos em zonas de guerra, que enviavam milhões de mensagens por semana para roubar dinheiro via romances virtuais (pig butchering scams) ou extorsão com imagens sexuais (chantagem com nudes de adolescentes), além de anúncios falsos bizarros, que incluíam falsos endossos de Elon Musk, da Casa Branca, da empresa de temperos McCormick e do escritório de advocacia Hogan Lovells a produtos fake.





