Por: Luciano Costa, Vinicius Custódio e Sandra Lacerda
São Paulo, 15/05/2025 – Ex-presidente da Petrobras no começo do governo de Jair Bolsonaro, Roberto Castello Branco avalia que houve retrocessos na estatal desde sua saída, mas defende que as condições financeiras e o cenário de preços do petróleo ainda não ameaçam a saúde da companhia e nem os dividendos. Ele falou em entrevista ao programa Almoço de Negócios, na TC News, nesta quinta-feira.
“Acho que a governança foi enfraquecida e a gestão não é boa. Mas, evidentemente, não estamos de volta à década passada; hoje, depois do que aconteceu, os gestores da Petrobras têm menos coragem de cometer desatinos”, afirmou Castello Branco à TC News.
A Petrobras reportou lucro líquido de R$35 bilhões no 1T25 no primeiro trimestre, queda de 12% na comparação anual. A dívida líquida avançou 4% em um ano, para US$56 milhões, com índice de alavancagem de 1,45x, de 1,29x no final de 2024, mas em patamar ainda confortável, segundo o ex-CEO.
“No curto prazo, (o nível de endividamento) não incomoda, até porque a Petrobras tem uma geração de caixa muito forte”, disse Castello Branco. “A Petrobras, razoavelmente administrada, é uma máquina de produzir dinheiro”.
“A alavancagem é baixa. A continuidade da má gestão, sim, vai trazer a longo prazo problemas, mas eu creio que antes disso será corrigido”, acrescentou.
O atual patamar dos preços do petróleo, que operam perto de US$65 por barril, diante de incertezas sobre a demanda depois da guerra tarifária disparada pelo presidente americano Donald Trump, também ainda não ameaça à integridade da Petrobras, segundo Castello Branco.
“Vai afetar a rentabilidade, mas não a ponto de gerar uma situação de crise. Acho que ainda com petróleo a US$60 por barril a situação é bem confortável. A US$50 a Petrobras sobrevive muito bem”, afirmou ele, lembrando que enfrentou tal patamar de preços durante a pandemia.
PREÇOS DO COMBUSTÍVEL
Demitido da Petrobras pelo presidente Jair Bolsonaro por desentendimentos com Brasília após um forte aumento dos preços dos combustíveis, em fevereiro de 2021, Castello Branco avaliou que a atual gestão tem sido favorecida por um cenário de preços do petróleo menores e com movimentos mais brandos.
Castello Branco admitiu que “infelizmente” Bolsonaro não concordou com sua política de preços de gasolina e diesel– “e eu não ia fugir a meus princípios”. Mas ele avalia que a atual política comercial da Petrobras, sob o governo Lula, “simplesmente até hoje não ficou clara para ninguém”.
“Claro que a Petrobras deixa muito dinheiro na mesa, e é um dinheiro permanente, que nunca mais você vai ganhar. Mas, de qualquer forma, essa política sofrível tem conseguido se sustentar sem provocar grandes prejuízos ou nenhum choque contra a orientação política (de Lula e Brasília) graças à baixa volatilidade dos preços”, afirmou.
RENOVÁVEIS
Na gestão Castello Branco, a Petrobras concentrou-se em suas operações de petróleo e gás em águas profundas e ultra profundas, vendendo uma série de ativos, incluindo usinas eólicas, enquanto agora a empresa avalia voltar a diversificar, e mira possíveis investimentos em renováveis.
“A atual gestão da Petrobras não acredita muito em vontades comparativas. Chegaram a falar até em eólica offshore, que tem sido abandonada, muitos projetos têm sido abandonados na Europa por empresas até especialistas em energia renovável. A Petrobras não é especialista nisso, é bem diferente da produção de petróleo”.
Ele lembrou que Shell e BP também chegaram a se comprometer com expansão em renováveis, em detrimento do petróleo, mas depois recuaram dessas estratégias. “A Petrobras, sob minha gestão, seguiu o caminho das americanas, Exxon e Chevron, que se mostrou o mais adequado”, afirmou, sobre o foco no ‘core business’.
Para o ex-CEO, as estatais como a Petrobras tendem ao “gigantismo” porque este “traz oportunidades para ganhos políticos”, gerando mais empregos e projetos que podem ser distribuídos a grupos de apoio.
“O gigantismo tem tudo a ver com interferência política. E não é um bom caminho. Se você quer ser maior, primeiro tem que ser o melhor. Se você focar em ser o maior, acaba sendo o menor. Vide o Trump. Ele fala em ´Make America Great Again´, acho que ele está fazendo “América Smaller” (menor). Se fosse “Make America Better” (melhor), seria outro caminho”.
(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)