São Paulo, 24/05/2024 – A Petrobras informou que o conselho de administração elegeu hoje Magda Chambriard como nova diretora-presidente e conselheira, com posse imediata, avaliando não haver necessidade de convocação de assembleia de acionistas.
Com o novo comando, o que esperar da Petrobras? O Faria Lima Journal compilou algumas opiniões externadas por Chambriard ao longo da última década, em artigos na imprensa e publicações da Fundação Getulio Vargas, onde ela atuou como consultora.
Chambriard foi escolhida após o ex-CEO Jean Paul Prates acabar pressionado a renunciar pelo presidente Lula. Ela iniciou carreira na Petrobras, nos anos 1980, e atuou na área de produção e exploração, para depois ser diretora e diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo, em 2008 e 2012, sob governos Lula e Dilma Rousseff.
PETRÓLEO E DESENVOLVIMENTO
Em 2019, Chambriard criticou licitação de muitas áreas pela ANP em curto período de tempo– “o preço pago tem sido a perda de espaço para a indústria nacional, que não tem tido nem a antecedência necessária nem a previsbilidade necessária para suprir a demanda”, escreveu.
Ela também questionou “a opção por obrigações de investimento local inferiores às consideradas mínimas anos atrás”.
“Ao assumir essa opção, é importante lembrar que o país hoje conta com cerca de 13 milhões de desempregados e que, segundo estudo da FGV Energia (2017), para cada emprego direto gerado pelas petroleiras no Brasil, outros 4,25 indiretos, além dos induzidos, estavam sendo gerados, com contribuição dos fornecedores de bens e serviços”, escreveu, para a FGV.
Em outro artigo, de 2020, ela disse torcer para que as próximas FPSOs contratadas pela Petrobras pudessem contar com “boa parte dos seus topsides feitos no Brasil”.
“Seria um ótimo auxílio pós-pandemia ao desenvolvimento nacional, e um ótimulo estímulo para a indústria nacional que investiu e se preparou para enfrentar a competitividade inerente ao século XXI. Afinal, está-se falando de uma empresa cuja história se confunde com o desenvolvimento do país. Está-se falando da maior empresa do Brasil: a PETROBRAS!”
“O RIO E O BRASIL CONTAM COM A PETROBRAS”
Em artigo de 2023 para a Brasil Energia, entitulado “Petróleo gera riqueza para quem?”, Chambriard cobrou a Petrobras de Prates. “Aguarda-se pelos estaleiro lotados, conforme promessa da empresa… vale lembrar que geração de empregos e redução de desigualdades são parte das ações inerentes ao compromisso do Brasil com seu desenvolvimento sustentável, além de promessa de campanha do governo atual”.
Ela defende, por exemplo, a construção no Brasil de “pelo menos uma pequena parte dos mais de 40 barcos de apoio que serão necessários” para produção em 14 plataformas previstas pela Petrobras para os próximos cinco anos.
REFINO
A ampliação do refino também foi defendida por Chambriard, em artigos na FGV e na Brasil Energia. Em 2023, ela citou a recente alta do petróleo e dos combustíveis com a guerra na Ucrânia e cortes de oferta da Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep+).
“É também nesse contexto que se precisa discutir a infraestrutura de refino do país e a oportunidade de sua expansão. Afinal, não parece razoável que uma das 10 maiores economias do mundo, detentora do 7º maior mercado consumidor de combustíveis líquidos do planeta, tenha tal vulnerabilidade ao mercado externo e arque com custos de margens de refino alheias que lhe chegaram a onerar em quase US$ 70/bbl, no caso do diesel. Ante esses números, é difícil acreditar que não seja economicamente viável aumentar a produção de diesel do país”.
Ela já defende tal posição desde antes. Em 2018, escreveu: “o Brasil não pode mais postergar a implantação de projetos estruturantes, como os necessários para garantir o abastecimento nacional de combustíveis”. “Esses investimentos precisam ser feitos, sendo eles estatais ou privados”.
FOZ DO AMAZONAS: DECISÃO DE LULA
Em 2023, Chambriard defendeu que Lula deveria decidir sobre a exploração da polêmica região.
“É certo que não se pode ser inconsequente e licenciar a qualquer custo. Mas também é certo que se precisa estar mais preparado para enfrentar o desafio do licenciamento tempestivo, sob pena de condenar o Brasil à estagnação. O MMA não pode usurpar o poder de concessão da Presidência da República. Mas atualmente até projetos de licenciamento da já madura Bacia de Campos são penalizados por longos processos de licenciamento.
É nesse contexto que se advoga a intervenção do Presidente da República. É ele que tem mandato para estabelecer as prioridades nacionais, em nome do povo, já que essas outorgas têm o aval do CNPE e da Presidência. É ele quem precisa decidir sobre os impactos e consequências de se optar pela certeza absoluta (isso existe?) em relação ao licenciamento ambiental ou pelo fortalecimento da Petrobras e seu papel no desenvolvimento econômico do país.”
´SERENIDADE´ DE GESTÕES ANTERIORES
Em 2020, tempos de Roberto Castello Branco como CEO da Petrobras, Chambriard fez comentários elogiosos a gestões anteriores da empresa, destacando “as realizações recentes”, com entrada de todos projetos previstos para 2018 e 2019, mostrando “credibilidade”.
“O empenho na contenção de custos e na busca por projetos resilientes a menores preços que petróleo devem garantir, para a empresa, um cenário sereno e de crescimento consistente. Não é surpresa que o mercado já tenha precificado essa serenidade. Para o mercado em geral, fica a ideia de uma empresa segura de seus objetivos e capaz de atingi-los.
PREÇOS DOS COMBUSTÍVEIS
Ainda em 2018, Chambriard defendeu em artigo na FGV que “a redução do preço do diesel, também não cabe demandar da Petrobras”, dizendo que “é função do Estado brasileiro conduzir estudos que levem À conclusão de que país queremos para 2030 e daí para a frente”.
No texto, ela alfinetou “o período de 2011 a 2014, com preços abaixo da paridade internacional, destoando da periodicidade de reajustes antes praticada”, mas também apontou que “a seguir desse longo período, passou-se a praticar preços bem acima da paridade”. Ela também questionou o período de reajustes diários, na gestão Pedro Parente (2016-2018). ” No frigir dos ovos, a proposta era compreensível, enquanto oriunda de uma empresa, mas completamente inaceitável pela sociedade. E o presidente da empresa caiu”.
(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)