Coluna de Bruno Corano

Gestor conta os motivos que o levaram a trocar Brasil pelos Estados Unidos

Gestor conta os motivos que o levaram a trocar Brasil pelos Estados Unidos

O economista, empresário e investidor Bruno Corano, dono de uma gestora de investimentos e apresentador do viceocast Wall Street Cast, gravado diretamente da Times Square, em Nova York, nos Estados Unidos, decidiu escrever sobre os motivos que o levaram a deixar o Brasil para uma carreira de sucesso no exterior.

Confira abaixo o artigo:

 

Os motivos que me levaram a trocar o Brasil pelos Estados Unidos

Eu sou um brasileiro que vive nos Estados Unidos. Consegui sucesso fora do meu país, mais precisamente em Nova York, local em que muitos sonham morar e se estabelecer. Construí minha vida pessoal e profissional aqui, mas isso não quer dizer que eu não sinta por ter deixado o lugar em que nasci.

Sinto falta das pessoas, me identifico com a nossa cultura, gastronomia, clima. Mas, talvez tirando esses três itens, infelizmente, falo com segurança, que o Brasil está atrasado em muitos aspectos que interferem na vida de cada um de nós. A primeira e maior razão que me fez sair do Brasil foi a falta de segurança.

Essa ‘insegurança’ fez com que eu me cansasse de uma rotina em que nós nos trancamos e os criminosos ficam soltos. Aqui nos Estados Unidos é o inverso: os marginais estão presos e nós, livres.

É impossível andar na rua com relógio, laptop, aparelho de celular e não se sentir inseguro. Passou a ser igualmente impossível parar em um semáforo e não ficar preocupado, alerta com a possibilidade de alguém se aproximar. O principal motivo, portanto, foi a segurança – ou a falta dela.

Os demais fatores têm uma conexão: o fato de que o Brasil não é um país em que exista algo que vou chamar de justiça, ou de coerência. Quando eu falo justo ou coerente quero dizer que, no Brasil, as pessoas que têm sucesso e dinheiro são punidas.

Os empreendedores que dão certo, que geram empregos, muitas vezes são malvistos pelo sistema. Cito, por exemplo, o fiscal, de inúmeras esferas e departamentos, que cria problemas só para poder ‘vender’ uma solução. Quem tem sucesso atrai uma espécie de carga negativa da sociedade.

Essa energia direcionada a quem tem mais recursos está na nossa cultura. Nos Estados Unidos, se a pessoa deu muito certo, é admirada e sempre há perguntas sobre o caminho que o empreendedor percorreu, feitas por gente que quer ficar por perto para aprender.

E eu vejo que esse sentimento, no Brasil, não é de admiração. As pessoas querem saber como tirar proveito próprio do sucesso do outro. É uma dinâmica muito hostil. O que se fala é ‘porque ele conseguiu e eu não’.

O país não tem eficiência, lógica, equilíbrio e justiça. A pessoa tem um celular, o sinal cai; sai à rua, o pneu fica destruído por conta dos buracos gigantes. O empresário recolhe todos os impostos, e, mesmo assim, é autuado. Até porque a legislação é confusa e com múltiplas interpretações para muitas cláusulas e questões tributárias.

O Brasil também tem um sistema de justiça ineficiente. O crime, notoriamente, compensa. A partir daí, as coisas não funcionam. Nos Estados Unidos todo mundo tem igualdade de acesso às coisas. Existe equilíbrio, a justiça funciona para todos. Vemos pessoas muito importantes sendo presas e permanecerem atrás das grades.

Um exemplo emblemático é o do jogador de futebol norte-americano O.J. Simpson, milionário e famoso mundialmente. Ele ficou preso por nove anos. Aqui nos EUA eu encontrei paz, segurança, justiça e equilíbrio para desenvolver talento, colher da sociedade e dar algo bom de volta, em um ciclo virtuoso.

Resumindo, tudo é muito burocrático e confuso. Isso cria um sistema caótico que gera muito desgaste. Viver no Brasil é como estar num jogo de basquete: você faz vários passes, chega ao garrafão, sozinho, faz o arremesso para marcar uma cesta e, de repente, o juiz apita e fala que você colocou a mão na bola. E diz – agora é futebol. E não adianta argumentar que as regras mudaram no meio da partida. Esse é o Brasil. Ao mesmo tempo muito triste e uma piada.

É importante dizer que os Estados Unidos não são um lugar perfeito. Não existe lugar perfeito no mundo. Se eu me mudar amanhã para a Suíça ou para a Dinamarca, por exemplo, encontrarei também pontos bons e ruins.

E eu faço todos esses comentários com o real desejo de que o Brasil possa mudar, de verdade, mesmo que isso leve décadas E eu termino este texto dizendo que, com muita tristeza, infelizmente, prefiro indiscutivelmente morar aqui.