Por Jorge Souto
São Paulo, 23/01/2023
O que faz uma tecnologia ter adoção em massa? Essa é uma pergunta que pode ter muitas respostas. Certamente, no entanto, a melhor forma de atender a esta dúvida é através de similaridades históricas e princípios básicos.
Como a pré-histórica invenção da roda, quando surge uma nova tecnologia, ela é conhecida e entendida por poucos. Aos poucos, as pessoas notam ganhos de eficiência e a nova tecnologia – como o uso da roda para transportar cargas pesadas – passa a ser adotada. Aqui encaramos dois aspectos das grandes tecnologias que foram adotadas em massa na história: começam em pequenos grupos e trazem algum tipo de eficiência relevante que melhora a produtividade do trabalho.
Um terceiro aspecto recorrente no surgimento de novas tecnologias é o ceticismo com o qual parte da população as recebe. Logicamente não há registros disponíveis em relação à invenção da roda, mas quando surgiram os automóveis, por exemplo, muitas pessoas desacreditaram na substituição do cavalo como principal meio de transporte. Da mesma forma, devido ao preço e a baixa qualidade do rádio no princípio, poucos acreditaram que poderia ser uma forma de transmissão de informações que não fosse escrita.
A internet era “apenas uma moda passageira”. Os exemplos do ceticismo são diversos. As pessoas têm dificuldade de aceitar mudanças radicais, principalmente quando estão mais velhos e acostumados com determinado padrão. Olhando para o passado fica bastante óbvio que as tecnologias que tiveram adoção em massa eram muito melhores do que seus antecessores.
Aplicando esses três princípios básicos – adoção por um pequeno grupo, ceticismo e ganho de eficiência – ao surgimento de ativos digitais, os criptoativos, vemos que essa tecnologia atende aos padrões históricos. O Bitcoin surgiu em 2009 entre um grupo pequeno de cypherpunks e hoje é utilizado por cerca de 400 milhões de pessoas, 5% da população mundial; é encarado com ceticismo por boa parte dos profissionais de mercado; e, definitivamente aumentam a eficiência de transações financeiras, tornando-as mais baratas, transfronteiriças e sem a necessidade de intermediários de confiança, como os bancos.
Atendidos os principais padrões históricos do surgimento das novas tecnologias, questiona-se sobre o crescimento dos criptos e o tempo que podem levar para terem adoção em massa. Olhando para exemplos passados vemos que a adoção das tecnologias acontece em ondas, geralmente acompanhadas de dois aspectos notáveis e poderosos: a mudança geracional e a integração dos ganhos de eficiência.
Os jovens têm muito mais facilidade e naturalidade em adotar novas tecnologias. Com o passar dos anos, essas pessoas se inserem no mercado de trabalho e adotam posições de maior poder. Assim, tecnologias que hoje atendem a um publico jovem passam a ser usadas por parcelas cada vez maiores da sociedade. Foi assim com os celulares, computadores pessoais e internet, exemplos mais recentes. Parece evidente que estamos passando por um ciclo similar com os criptoativos. Não é nenhuma loucura pensar que, ao longo dos próximos 20 anos, 80% das pessoas vejam criptoativos como algo natural.
Com o passar dos anos, e cada vez em um ritmo mais acelerado, a evolução das tecnologias também as deixam mais amigáveis ao usuário comum, integrando os ganhos de eficiência com a utilidade dessa tecnologia para as pessoas. Boa parte dos leitores devem lembrar que o acesso à internet era complicado e difícil no começo. Hoje é algo quase impossível de se viver sem, e não há nenhum ceticismo com os computadores, celulares ou a internet.
Os criptoativos estão seguindo o mesmo caminho de todas as tecnologias que foram adotadas em massa durante a história. Não se deixe cegar pelos comentários dos incumbentes – usuários e agentes do sistema financeiro tradicional. A evolução depende de manter a mente aberta e curiosa.
As indústrias ligadas às novas tecnologias de adoção em massa invariavelmente se tornaram os maiores setores da economia por um período quando atingiram a maior parte da população. Será diferente com os criptoativos? Vale refletir.
*O conteúdo da coluna é de responsabilidade de Jorge Souto e não reflete o posicionamento do FLJ