Por Felipe Corleta
São Paulo, 23/01/2023
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem proferido ataques à independência do Banco Central, ao patamar da taxa Selic e à ambiciosa meta de inflação de 3,00% para se proteger de críticas relativas à atividade econômica no começo do seu terceiro mandato.
Lula quer culpar o Banco Central e os juros elevados pela iminente desaceleração da economia. É a única explicação que consigo encontrar para justificar o movimento político que Lula consolidou em sua entrevista exclusiva à GloboNews na última quarta-feira, quando disse que a independência da autoridade monetária é uma “bobagem”.
Na prática, Lula troca alguns dias de estresse do mercado em torno de uma má relação entre governo e BC por uma narrativa para justificar a desaceleração da atividade em 2023. O Boletim Focus projeta que o PIB brasileiro subirá modestos 0,77% este ano.
O debate que pode aquecer é o que gira em torno das metas de inflação, que são definidas pelo Conselho Monetário Nacional, portanto fora da alçada da autonomia do Banco Central. O CMN é formado pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
A outra prova de fogo que deve indicar até onde Lula pode ir na ingerência do Banco Central é o fim dos mandatos dos diretores Bruno Serra, de política monetária, e Paulo Sérgio de Souza, de fiscalização. Caso Lula escolha um nome de consenso com Roberto Campos Neto, a reação dos mercados deve ser positiva.
Por ora, é natural que se amplie o prêmio de risco, mas a narrativa de ingerência política no Banco Central parece apenas Lula montando um “hedge” para se proteger de ataques quando a economia começar a deslizar.
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