Por Pedro Machado
Durante minha carreira tenho aprendido pelos erros cometidos ao longo do caminho o quão importante é ter convicção nos seus investimentos. Quando decidimos arriscar o nosso dinheiro, temos que estar preparados para aguentar ventos contrários e tomar as ações necessárias em todos possíveis cenários ao longo do caminho.
Isso só é possível se realizamos estudos profundos para entender a tese em que investimos, seus riscos e potenciais de retorno; e acompanhamos de perto o desdobramento de novos fatos relevantes.
Mas por que então a convicção é tão essencial?
Primeiramente porque o mercado financeiro global movimenta diariamente trilhões de dólares, sendo impossível prever a direção dos preços dos ativos no curto prazo. Diante dessas oscilações incontroláveis, investir também envolve conviver com prejuízos – mesmo nas melhores ideias de investimento possíveis. Os humanos tendem a ser muito mais afetados mentalmente quando sofrem prejuízos do que quando obtêm lucros. A convicção na sua tese de investimento servirá como contraponto aos fatores emocionais nesses casos.
Muitas vezes o que acontece durante os movimentos contrários ao esperado é que o investidor abandona uma posição porque o mercado lhe estressou até o máximo com o preço de tela, e não por uma mudança fundamental na tese. Quando vemos um desconto em algum produto no shopping, ficamos animados, mas quando isso se dá na nossa carteira de investimentos tendemos a reagir com medo e frustração.
Aí entra a convicção. O investidor cria confiança para tomar controle sobre suas emoções apenas quando entende profundamente o raciocínio por trás dos investimentos. Além disso, a convicção permite ao investidor perceber se os movimentos de preço contrários as suas posições representam ou não mudanças fundamentais às teses.
Movimentos contrários que não mudam a tese fundamental do seu investimento deveriam levar o investidor a sempre manter ou aumentar as posições.
Naturalmente, não basta convicção sem gestão de risco. Gerir o risco e a liquidez equilibra a convicção do investidor. Se não houver planejamento de alocação, não haverá capital disponível para aumentar posições atraentes em horas mais oportunas.
Cada pessoa tem seu perfil de risco, que é impactado pelo seu momento de vida, mas certamente em 20 anos nesta indústria tenho notado que a grande maioria dos investidores tendem acreditar que conseguem tolerar alta volatilidade até que eventos caóticos no mercado aconteçam. Aí vem o pânico, a quebra de convicções e os prejuízos.
Diante disso, sempre sugiro manter níveis de liquidez mais altos do que o necessário, para lidar com todas imprevisibilidades da vida e do mercado. Somente em uma profunda crise com grandes distorções que deveria-se avaliar uma alocação agressiva em risco. Em outras palavras: ter caixa ajuda a ter convicção.
Os investidores que performam melhor do que os índices de mercado são em maior parte os que conseguem permanecer com as posições por ganhos exponenciais e focar nas teses ao invés de nos preços. Isso parece fácil, mas é muito mais difícil na prática.
Se você tivesse investido 100 dólares nas ações da Apple uns 20 anos atrás, teria aproximadamente 40.000 mil dólares hoje, 400 vezes seu capital inicial. Mas quando vemos as oscilações que ocorreram, esta jornada não foi simples para um investidor.
Depois de alguns anos positivos, os US$100 valiam US$3.000, daí veio uma recessão e a posição foi de $3.000 para $1.000, quando muitos já abandonaram a ideia e ficaram contentes com o ganho de 10 vezes.
Somente quem teve convicção na tese e na proposta de valor da empresa pode aproveitar este retorno durante o desempenho histórico dela. Não há nada errado em realizar lucros, mas é sempre importante manter exposição nas teses de investimento que estão carregadas de convicção.
*O conteúdo da coluna é de responsabilidade do colunista e não reflete o posicionamento do FLJ