Por Fernando Marx
São Paulo, 23/01/2023
Desde Abril de 2021, quando o ex-presidente Lula se tornou elegível, vemos uma discussão dentro do mercado: “Lula está no preço?”. Antes de chegar a uma resposta, cabe uma revisão histórica e uma análise das perspectivas futuras.
Certamente o fator fiscal é um dos principais indicadores relacionados a saúde econômica de uma nação, especialmente entre os emergentes. A dinâmica das contas públicas pode beneficiar ou prejudicar o desempenho das moedas e ativos de risco de cada país.
Em paralelo, cabe afirmar que a reação do mercado resulta de um conjunto de projeções e expectativas. O mercado não é uma “entidade maléfica” com preferências políticas, mas sim um mecanismo da liberdade de escolha que reflete essas expectativas através de preços.
Sobre esse panorama, o que acontece desde a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva? De forma simples e direta há uma mistura de incertezas, más recordações e medo da repetição de programas econômicos fracassados do governo Dilma Rousseff. Para além do déficit primário esperado para 2023, de R$150 bilhões, há ainda a dúvida de se a trajetória da dívida seguirá ou não uma trajetória explosiva nos próximos anos.
Um estudo do BTG Pactual calcula que a relação entre dívida e PIB no Brasil pode ficar entre 81% e 105% a depender da expansão de gastos do atual governo. O indicador terminou novembro de 2022 em 74,5%.
É curioso que essa situação não parece ser temerária, sob a ótica de que entre 2018 e 2022, com todas as violações da regra fiscal do Teto de Gastos do períoso, o endividamento do país caiu.
O problema está no antagonismo percebido entre benefícios sociais e responsabilidade fiscal. A verdade aqui é que “todos podem ser felizes”, basta um mínimo de sensatez, pragmatismo e comunicação adequada do novo governo.
Para exigir pragmatismo do governo, é necessário também ser pragmático e fugir do destrutivo embate de narrativas erradas como a de que o “mercado é bolsonarista”, ou de que “o PT quer implementar o comunismo e destruir o Brasil”.
A verdade é simples e liberta. O mercado não tem preferência ou viés, apenas pragmatismo. Entretanto, o pragmático não gosta de incertezas decorrentes de criatividades econômicas e da falta de boa comunicação. Essas incertezas, além de elevarem o dólar e os juros, empobrecem o país. De forma resumida, existe um processo de destruição inconsciente criado pelos políticos, e lidar com isso é um dos maiores desafios do Brasil.
Feita a reflexão, podemos responder à pergunta inicial: “Lula está no preço?”. E a resposta é apenas uma: vai depender se a vontade de fazer dar certo será maior do que a de gerar incertezas – e assim se autodestruir.
*O conteúdo da coluna é de responsabilidade de Fernando Marx e não reflete o posicionamento do FLJ