Faria Lima Journal no fim de semana

Grandes empresas sumiram da COP? Mais um investidor "nervoso" com ações de IA; stablecoins podem gerar próxima crise? Davos tira "woke" da agenda para ter Trump; e etc

Grandes empresas sumiram da COP? Mais um investidor "nervoso" com ações de IA; stablecoins podem gerar próxima crise? Davos tira "woke" da agenda para ter Trump; e etc

FARIA LIMA JOURNAL
NO FIM DE SEMANA

 

>> O boletim Faria Lima Journal no Fim de Semana, do portal Faria Lima Journal e da agência de notícias Mover, traz uma seleção de conteúdos e leituras para investidores dispostos a gastar algum tempo no sábado e domingo para leituras mais aprofundadas de boas histórias e materiais informativos.

 

Grandes empresas reduzem presença na COP30 sediada no Brasil, destaca jornal de negócios londrino

 

Quatro anos depois do auge da participação corporativa na COP-26 em Glasgow, onde CEOs desfilavam em painéis, montavam pavilhões milionários e juravam amor eterno ao planeta, a COP-30 em Belém (PA) está irreconhecível — os executivos em ternos bem cortados, os estandes de LED e as participações de grandes marcas globais minguaram, e a conferência, que já foi chamada de “Davos do clima”, virou um evento essencialmente governamental e ativista, avaliou o jornal lodrino de finanças City A.M.

Grandes empresas simplesmente deram meia-volta. O motivo principal? Para o jornal, culpa de Donald Trump na Casa Branca (de novo). Desde janeiro de 2025, o presidente americano transformou o combate às mudanças climáticas em “guerra cultural”. Trump totulou metas ESG de “fraude esquerdista”, tentou bloquear projetos eólicos offshore quase prontos e sinalizou que empresas que ostentam políticas “verdes” podem virar alvo. Para executivos globais, aparecer em Belém com discurso de ativista climático virou risco reputacional – especialmente nos EUA, seu maior mercado.

“Aqueles estandes vibrantes acabaram. Agora é cautela, minimalismo e conversas privadas”, resume Charlie Tarr, CEO da consultoria Woodrow. Custo também pesa – e muito. Com o fim da era do dinheiro barato em 2022, acionistas voltaram a cobrar lucro acima de tudo. Demissões em massa nas big techs e em empresas de bens de consumo tornaram inviável justificar viagens caras à Amazônia para um evento cujo retorno de imagem ficou incerto. Um diretor de PR ouvido pela reportagem do City A.M. foi direto: “Se você demitiu 5 mil pessoas este ano, não dá para aparecer na COP com delegação de 20 executivos e estande de 500 m²”.

A escolha do Brasil de fazer a COP em Belém ajudou a espantar o setor privado. A localização no coração da Amazônia traz logística infernal: voos longos, hotéis lotados, infraestrutura limitada, além de aluguéis mais do que inflados. Some-se a isso o ceticismo crescente com o próprio formato da COP: após 29 edições, muitos CEOs concluíram que o evento gera mais foto do que resultado concreto – e que é mais seguro fazer compromissos climáticos nos bastidores do que em holofotes que podem virar alvo político, acrescentou o jornal.

Um exemplo emblemático é a Unilever, estrela absoluta da COP-26. Alan Jope, então CEO, discursava em Glasgow como profeta do capitalismo sustentável. Hoje, com a empresa em modo “corte de custos radical”, o novo CEO Fernando Fernandez – que passou quase 10 anos comandando a operação brasileira – nem viajou a Belém. Duas semanas antes da conferência, postou no LinkedIn: “Vamos transformar a Unilever numa máquina de marketing e vendas, e rápido. Let’s go!”

 

Por trás da ‘bolha de IA’, outra revolução tecnológica pode estar se formando, opina FT

 

Esta semana, Jensen Huang, o carismático CEO da Nvidia com sua jaqueta de couro de marca registrada, roubou a cena mais uma vez. Após a divulgação de resultados trimestrais da Nvidia, Huang não perdeu a oportunidade: “Muito se fala em bolha de IA, mas do nosso ponto de vista vemos algo completamente diferente”, disse ele, apontando para uma demanda aparentemente insaciável por seus chips. Enquanto Huang celebrava, outro nome importante da IA passou quase despercebido, mas com potencial de mexer muito mais com o tabuleiro no médio prazo: Yann LeCun.

O cientista francês-americano, um dos pais do deep learning e prêmio Turing, confirmou que deixará em breve o cargo de cientista-chefe da Meta para fundar sua própria startup. A gota d’água foi Mark Zuckerberg colocar o jovem Alexandr Wang, de 28 anos, para liderar o time de “superinteligência” — fazer um pesquisador de 65 anos se reportar a alguém da Geração Z foi demais, ironizou o Financial Times. Mais importante que a saída, porém, é o caminho que LeCun pretende seguir.

LeCun vem dizendo há anos que os large language models (LLMs), base dos atuais ChatGPTs da vida, são ótimos, mas não nos levarão à inteligência de nível humano. Ele aposta em uma abordagem completamente diferente: “world models”, sistemas que aprendem como os humanos, construindo modelos internos ricos do mundo físico e abstrato. Não está sozinho: IBM avança em neuro-symbolic AI, Li Fei-Fei trabalha em “spatial intelligence” e até a chinesa DeepSeek já mostrou que é possível criar modelos poderosos com custo muito menor, ameaçando a commoditização dos LLMs atuais.

O contraste entre o triunfo momentâneo de Huang e a mudança de rumo de LeCun é deliciosamente simbólico, sintetizou o FT. De um lado, trilhões de dólares sendo despejados em data centers e chips caros sob a premissa de que “mais escala = mais inteligência”. Do outro, alguns dos maiores cérebros da área avisando que essa estrada pode estar chegando ao fim — e que o próximo salto talvez exija reinventar a roda. Se ele estiver certo, parte do capex bilionário de hoje pode virar ativo encalhado mais rápido do que os cabos de fibra óptica da bolha ponto-com. A revolução da IA está apenas começando, e os holofotes em Jensen Huang não devem nos fazer esquecer os pesquisadores trabalhando nas sombras. Eles é que podem decidir quem realmente para onde esse trem vai.

 

 

“Estou muito nervoso”; dono de fintech com posições em IA entra para o grupo dos preocupados

 

Com participação em empresas de Inteligência Artificial incluindo OpenAI, Perplexity e xAI, por meio de seu family office Flat Capital, o chefe da fintech sueca Klarna, Sebastian Siemiatkowski, tornou-se o mais novo nome relevante a mostrar preocupação com o futuro do segmento, em meio às preocupações com os bilhões de dólares sendo investidos em datacenter para alimentar modelos de IA.

“Eu acho que (a OpenAI) pode ser um grande sucesso como uma companhia, mas ao mesmo tempo estou muito nervoso com o tamanho desses investimentos em data centers. Essa é uma coisa em particular com a qual estou preocupado”, disse o co-fundador da Klarna e entusiasta da IA ao Financial Times, apontando que pode fazer um “hedge” para sua exposição nas empresas participando desse “boom”.

O investidor destacou a popularidade do ChatGPT como evidência do amplo uso da IA, mas acrescentou que “é uma coisa diferente se perguntar se vale colocar US$1 trilhão em servidores”-– em referência aos aportes de US$1,5 trilhão que a OpenAI prometeu para assegurar acesso a recursos computacionais. “Estou preocupado de que colocar todo esse dinheiro em data centers se mostre algo que não vale a pena”.

Uma das preocupações de Siemiatkowski é que os modelos de IA evoluam e exigam menos poder computacional do que estima-se hoje, rodando com eficiência com menor capacidade. Ele disse que levou esse tema aos executivos das emprsas em que investe. “Eu sinto que, a portas fechadas, as pessoas estão mais preocupadas com o que estou dizendo do que estão em público”.

Ele lembrou, ainda, a posição vendida do investidor Michael Burry, que ficou famoso pelo filme “The Big Short”, que mostra a aposta do gestor contra o mercado imobiliário americano antes da crise de 2008, e agora está indo contra a “IA-Mania”. “Eu concordo em partes com o Michael Burry. A questão, de novo, é sobre timing, porque ele está apostando contra o mercado inteiro”.

 

Stablecoins podem originar a próxima crise financeira, alerta The Atlantic

 

A medida do governo Trump para os criptoativos, GENIUS Act, pretende criar uma regulamentação para as chamadas stablecoins, o que pode ampliar largamente esse mercado, bem como os riscos de uma crise financeira originada nesses criptoativos, alertou a revista The Atlantic em longa análise assinada pelo jornalista David Frum.

Embora o nome de “stablecoins” passe mais confiança, com promessa de que manterão um valor estável na comparação com ativos reais, como o dólar, “elas são de longe a forma mais perigosa de criptomoedas”, com o maior risco vindo justamente da ilusão de que seriam seguras, acrescenta Frum, que liderou um think-tank de centro direita e foi redator de discursos do ex-presidente americano George W. Bush.

“Essas promessas de estabilidade se mostraram indignas de confiança. Nos 11 anos em que elas estiveram por aí, diversas emissoras de stablecoin entraram em default, apagando bilhões de dólares de quem as possuía. A Terra, uma importante emissora, sumiu com quase US$60 bilhões de ativos de investidores em maio de 2022″, escreveu Frum, citando uma observação do economista vencedor do Prêmio Nobel, Jean Tirole, de que as stablecoins podem colapsar sob pressão.

Até agora, as stablecoins movimentam entre US$280 bilhões e US$315 bilhões, menos que o 12º maior banco dos EUA, o que significa que um “estouro” desse mercado poderia gerar danos, mas não afetaria demais o sistema. Com o GENIUS Act, analistas do Citigroup avaliam que o mercado poderia crescer para US$4 trilhões em 2030. “Um default em um mercado desse tamanho poderia gerar choques que reverberariam através do sistema finacanceiro global”, comentou a Atlantic.

Além disso, o GENIUS permite às emissoras de stablecoins comprar Treasuries com vencimento em até 93 dias, sujeitas a riscos de taxa de juros, para lastrear os criptoativos, e sem necessidade de pagar seguros para os depósitos. Preocupações com eventuais perdas na marcação a mercados de Treasuries que lastreiam as stablecoins poderiam gerar corridas para saques, “o equivalente moderno de uma corrida bancária, mas executada com velocidade digital”, alertou a publicação.

A Tether, sediada em El Salvador, anunciou recentemente que atingiu US$135 bilhões em Treasuries, colocando-a como 17º maior detentor dos títulos americanos, logo atrás da Alemanha, e essa stablecoin já enfrentou uma corrida bancária, em maio de 2022, quando tinha US$80 bilhões em ativos. “Se a companhia tivesse quebrado, o governo dos EUA poderia ter passado ileso. Mas, conforme os depósitos em Tether e seus ativos continuam crescendo, uma falha em repagar depósitos em dólares seria mais difícil de ignorar”. Além disso, se essa indústria expandir demais, poderia se tornar “too big to fail”, ou grande demais para poder ser deixada quebrar, praticamente obrigando um socorro estatal, como ocorreu com instituições financeiras na crise financeira de 2008-2009.

Se a lei (GENIUS Act) causar o caos no sistema financeiro — o que parece extremamente provável — o nome dela vai virar uma piada macabra: que gênio achou que deixar a indústria das criptomoedas escrever suas próprias regras seria uma boa ideia?”, conclui Frum, na Atlantic.

 

 

“Bolsa de previsões” Kalshi “reina” em conferências de investimento em startups, diz The Information

 

Há 15 anos, a conferência privada de tecnologia do Goldman Sachs em Las Vegas é o grande termômetro do mercado de rodadas de investimento em startups. Antigamente, era possível esbarrar em fundadores como Travis Kalanick (Uber) e Kevin Systrom (Instagram) levantando dinheiro para empresas que ainda eram pequenas. Hoje o evento é bem maior, mas continua sendo o ponto de encontro dos investidores que querem colocar dinheiro nas startups mais quentes do momento. E a empresa mais badalada deste ano foi a Kalsh– uma plataforma de mercados de previsão que foi a estrela absoluta do evento, segundo o site especializado em tecnologia The information.

O CEO Tarek Mansour, ex-estagiário do próprio Goldman, ganhou um horário nobre no palco. “No ano passado o negócio era pequeno. Agora é grande”, disse ele.

Nos bastidores, em reuniões fechadas com investidores, os executivos da startup revelaram que o volume de negociações cresceu seis vezes nos últimos seis meses. Esse crescimento explosivo provavelmente explica a correria dos investidores atrás da empresa. A atenção dada ao Kalshi vem após a dona da bolsa de Nova York, a Intercontinental Exchange (ICE), revelar, em outubro, que vai investir até US$2 bilhões na Polymarket, outro nome do mercado de previsões, onde usuários apostam nos resultados de eleições, jogos esportivos e eventos econômicos. O investimento da ICE avaliou a Polymarket em US$8 bilhões (pré-money). 

 

 

Davos promete tirar temas “woke” da agenda para ter presença de Trump, revela Financial Times

 

O Fórum Econômico Mundial garantiu a Donald Trump que temas “woke”, geralmente associados ao chamado progressismo, não terão destaque no encontro anual realizado em Davos para reunir a elite econômica global, como forma de garantir a presença do presidente americano no evento, escreveu o Financial Times, citando fontes anônimas, em matéria que gerou ampla repercussão.

Representantes do governo dos Estados Unidos pediram diretamente à organização de Davos que assuntos como empoderamento feminino, diversidade, transição verde e mudança climática fossem retirados das discussões ou diminuídos em importância na agenda, e o pleito foi atendido para que Trump pudesse confirmar presença no evento após seis anos de sua última aparição em pessoa no fórum– após tomar posse em janeiro, ele entrou via teleconferência para fazer um discurso em que defendeu suas políticas tarifárias.

O acordo para participação de Trump no Fórum em Davos, após ausência total dos EUA na Conferência COP30, sobre mudança climática, no Brasil, foi possível porque a elite global já vem se tornando mais pragmática em meio ao atual quadro geopolítico, segundo as fontes citadas pelo Financial Times, o que mostra como os esforços de Trump contra a dita agenda “woke” têm rendido frutos, influenciando cada vez mais o debate mesmo fora dos EUA.

Em 2019, o fórum de Davos contou com um discurso da jovem ativista Greta Thumberg, enquanto em 2020 o evento lançou a agenda chamada de “Grande Reset”, que falava em um “relançamento” do capitalismo após a pandemia, com foco em sustentabilidade, inclusão e mudança climática. O plano inspirou rumores sobre uma “conspiração globalista” que movimentaram a base política de Trump.

Ao FT, o Fórum Econômico Global negou que tenha atendido pedidos de Trump. Em comunicado, disse que “nenhum governo influencia nossa independência editorial e a agenda de nossos encontros. Selecionamos para os encontros temas e tópicos com base em sua relevância global”.

 

Tirar gastos com segurança de arcabouço seria “um erro”, diz Felipe Salto; “contabilidade criativa começa assim”

Uma eventual retirada de parte das despesas com segurança pública da meta fiscal, possiblidade levantada pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, nesta semana, seria “um erro”, e “desastrosa”, alertou o economista-chefe e sócio da Warren Investimentos, Felipe Salto, em participação na TC News que ganhou destaque no portal Faria Lima Journal.

Lewandowski ventilou a possível nova exceção ao arcabouço fiscal durante evento do Jota, dizendo que a ideia estaria sendo avaliada pelo presidente Lula, poucos dias antes de o presidente sancionar, nesta quarta-feira (19/11), lei que permite tirar da meta até R$5 bilhões por ano em gastos com “projetos estratégicos de defesa” nos próximos cinco anos.

“Se essa decisão, pré-anunciada, se confirmar, é desastrosa. Porque, como eu disse quando foi aprovada a questão da não incidência das regras fiscais sobre os gastos com defesa, a contabilidade criativa começa assim”, disse Salto, durante entrevista à TC News.

“E sempre há uma razão nobre. Então é a segurança pública, a defesa. Daqui a pouco, outras áreas vão ter, obviamente, a mesma ideia. A questão que se coloca é por que não cortar outras despesas para que se possa adequar o orçamento a essas necessidades, essas urgências, emergências”, acrescentou.

“A primeira ideia que surge é sempre retirar os gastos da incidência das regras fiscais. Ora, então para que elas servem?”, questionou Salto. “A responsabilidade fiscal é um preceito constitucional tão relevante quanto é guarnecer essas áreas relevantes de políticas públicas, como é o caso da segurança”.