Faria Lima Journal no fim de semana

"Economia circular" da IA acende alerta; a fábrica (de bilionários) da WEG; China e Rússia em "guerra sombra" contra Europa; e o sucesso da antropologia dos ricos

"Economia circular" da IA acende alerta; a fábrica (de bilionários) da WEG; China e Rússia em "guerra sombra" contra Europa; e o sucesso da antropologia dos ricos

FARIA LIMA JOURNAL
NO FIM DE SEMANA

 

>> O boletim Faria Lima Journal no Fim de Semana, do portal Faria Lima Journal e da agência de notícias Mover, traz uma seleção de conteúdos e leituras para investidores dispostos a gastar algum tempo no sábado e domingo para leituras mais aprofundadas de boas histórias e materiais informativos.

 

A “economia circular” de Nvidia, OpenIA e a “máquina de dinheiro da IA”

 

 

A recente onda de acordos bilionários no setor de inteligência artificial (IA), como o investimento de até US$ 100 bilhões da Nvidia na OpenAI e a parceria de dezenas de bilhões com a AMD, está alimentando temores de uma bolha econômica com paralelos alarmantes à bolha das pontocom do início dos anos 2000, reportou a Bloomberg nesta semana. Esses acordos, caracterizados por uma natureza “circular”, envolvem compromissos mútuos de investimentos massivos em infraestrutura, como data centers e chips, que criam uma rede interconectada de transações financeiras. Essa interdependência, onde empresas como OpenAI, Nvidia, AMD e Oracle trocam bilhões em compromissos recíprocos, levanta sérias preocupações sobre a sustentabilidade econômica dessas operações. A ausência de fluxos de caixa positivos significativos, como no caso da OpenAI, que não espera lucratividade até o final da década, reforça o risco de que o entusiasmo atual esteja inflando artificialmente valuations trilionários, sem fundamentos econômicos sólidos para sustentá-los.

A estrutura desses acordos circulares, onde empresas investem umas nas outras ou compram produtos em larga escala para justificar suas próprias valuations, ecoa práticas vistas na bolha das pontocom. Como observado por Paulo Carvão, pesquisador da Harvard Kennedy School, acordos similares na década de 1990 inflavam artificialmente o crescimento percebido por meio de vendas cruzadas e publicidade. Embora as empresas de IA atuais possuam produtos e clientes reais, os gastos estratosféricos em infraestrutura — como os US$ 300 bilhões da Oracle em data centers equipados com chips Nvidia — superam em muito a monetização atual do setor. Esse desequilíbrio cria um cenário de vulnerabilidade, onde uma falha em qualquer elo da cadeia, seja por incapacidade de entrega de resultados financeiros ou por uma interrupção na confiança do mercado, pode desencadear um colapso sistêmico, afetando setores que vão de tecnologia a energia e imóveis.

Além disso, a concentração de poder econômico em poucas empresas-chave, como Nvidia, OpenAI e xAI, amplifica os riscos sistêmicos. A Nvidia, por exemplo, emerge como um pilar central, fornecendo chips essenciais enquanto investe bilhões em startups de IA, como os US$ 2 bilhões planejados para a xAI de Elon Musk. Essa dinâmica cria uma dependência mútua que pode mascarar fragilidades financeiras. Se a demanda por chips de IA ou a capacidade de monetização das startups não atender às expectativas, o impacto pode se propagar rapidamente por toda a cadeia de valor, comprometendo investidores, mercados de dívida e até a estabilidade econômica global.

A falta de transparência sobre os retornos esperados desses investimentos massivos apenas intensifica a percepção de que o setor está navegando em um terreno especulativo perigoso. Para investidores de alto padrão, o momento exige cautela redobrada. Embora o potencial transformador da IA seja inegável, a exuberância irracional em torno desses acordos circulares sugere que o mercado está precificando um futuro otimista que pode não se materializar. A história da bolha das pontocom ensina que a euforia tecnológica, quando desconectada de fundamentos econômicos robustos, pode levar a correções severas.

A fábrica (de bilionários) da catarinense WEG

 

A fabricante catarinense de motores e equipamentos elétricos WEG, uma gigante multinacional brasileira, tornou-se também uma fábrica de bilionários, incluindo vários que já nascem com as contas cheias. Lista da Forbes destacada por O Globo mostra que, em uma lista de 300 bilionários brasileiros, apenas 27 possuem menos de 40 anos, sendo que, desses, sete são herdeiros da companhia fundada por Werner Ricardo Voigt, Eggon João da Silva e Geraldo Werninghaus– a sigla WEG foi criada com as iniciais do nome de cada um.

Em primeiro lugar no “top 10” de jovens ricaços do Brasil está Amelie Voigt Trejes, de 20 anos e patrimônio de R$3,4 bilhões, a segunda mais jovem bilionária do mundo. Lígia Voigt tem R$6,6 bilhões, também aos 20 anos, após ter herdado parte das ações da mãe, Valsi Voigt. Felipe Voigt Trejes, aos 23, tem patrimômio de R$3,6 bilhões, após ter dividido ações da WEG que herdou da mãe com os irmãos Amelie e Pedro Voigt Trejes, de 23 anos, com R$3,6 bilhões.

De outra família dos “WEG”, Helena Maria da Silva Petry, aos 23 anos, tem patrimônio de R$1,9 bilhão, como herdeira direta de Eggon João da Silva, que ficou com parte das ações da mãe na empresa. Dora Voigt de Assis, aos 27 anos, tem R$6,6 bilhões, como neta de Werner Voigt.

Todos esses jovens bilionários perderam bons milhões neste ano, com as ações da WEG despencando 29% no acumulado de 2025– mas não parece haver motivos para grandes preocupações para eles. Analistas de mercado, em geral, avaliam que a companhia segue forte e promissora no médio e longo prazo, apesar do desafio de curto prazo, ajudado em parte pelo impacto das tarifas do presidente americano Donald Trump sobre as vendas da companhia aos EUA. A WEG já anunciou que avalia mudar parte da produção para o México para aliviar impactos do “tarifaço” que atingiu o Brasil. Se a conversa entre Lula e Trump resolver o problema, a recuperação poderia ser ainda mais rápida.

O antropólogo que estudou os bilionários e descobriu: ninguém no Brasil se acha rico

 

 

O antropólogo Michel Alcoforado tornou-se conhecido com um best-seller sobre “a vida dos endinheirados brasileiros”, que já vendeu expressivos 37 mil exemplares em 50 dias, mantendo-se no top 10 da Amazon com um curioso trabalho sobre a elite brasileira. Em interessante conversa com o autor da obra, o Valor Econômico aponta a grande conclusão do trabalho do estudioso: no Brasil, ninguém se identifica como rico.

“Eu imaginava que o livro fosse fazer barulho pelo tema, mas não que virasse o que virou. Em Brasília tinha gente pendurada na árvore no lançamento do livro na livraria Platô”, contou ele, em entrevista concedida em Paris.

“A graça e o inferno do livro são que ele pode ser lido de três formas diferentes”, avalia. “Tem gente que compra achando que vai ter um livro de fofoca – e tem isso. Tem o cara capturado pela série ‘White Lotus’, que entende o livro como uma grande crítica social. E os acadêmicos, que o reconhecem como a tradução de um pensamento científico para um público amplo”, resume ele, ao tentar explicar o sucesso.

O encontro com o Valor ocorre em um café situado numa das regiões mais caras de Paris, onde, durante o papo, Alcoforado mostrou sua conclusão: “Ninguém se acha rico no Brasil. A Faria Lima chega para mim e fala: adorei o livro, rico é assim mesmo. Mas eles são os ricos!”. Mesmo em eventos para os quais é convidado, conta, “os ricos estão sentados me vendo, ouvindo sobre os ricos e morrendo de rir, dizendo que rico é muito engraçado”.

Não deixa de ser curioso que o próprio antropólogo tenha sempre morado em bons lugares, estudado nas “cinco melhores escolas” e ido estudar no Canadá, Argentina e França, chegando ao encontro com o repórter do Valor “carregando sua pasta Prada” e usando roupas “sob medida”. Não seria ele mesmo também um “rico”, afinal?

 

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Rali do ouro aponta para corrosão da fé nos bancos centrais mundo afora, avalia o WSJ

 

A nomeação de Sanae Takaichi como primeira-ministra do Japão, uma defensora de políticas fiscais e monetárias expansionistas, coincidiu com o ouro ultrapassando o patamar de US$ 4.000 pela primeira vez, um marco que reflete preocupações globais sobre a sustentabilidade das moedas fiduciárias. Takaichi, alinhada à estratégia de estímulos do ex-primeiro ministro Shinzo Abe, pressiona o Banco do Japão a manter juros baixos, apesar da inflação crescente. Esse movimento, combinado com a desvalorização do iene e o aumento dos rendimentos dos títulos japoneses, sinaliza um risco iminente de dominância fiscal, onde bancos centrais priorizam as necessidades do governo em detrimento do controle inflacionário. Para investidores sofisticados, esse cenário reforça o ouro como um ativo de refúgio, mas também acende alertas sobre uma potencial bolha de dívida, à medida que as políticas populistas e os déficits insustentáveis ameaçam a estabilidade econômica global, alertou o Wall Street Journal.

A ascensão do ouro, impulsionada por eventos como a nomeação de Takaichi, a guerra comercial de Trump e a flexibilização monetária do Federal Reserve, reflete uma erosão da confiança nas moedas fiduciárias, como o dólar, o iene e o euro. Desde a invasão da Ucrânia em 2022, quando reservas russas foram congeladas, até a recente pressão de líderes populistas no Reino Unido e na Europa, há um movimento global de bancos centrais e investidores em direção ao ouro como proteção contra a desvalorização de moedas e a instabilidade política. Nos EUA, a tentativa de Trump de influenciar o Federal Reserve, incluindo pressões para reduzir juros e a controversa ameaça de demitir a governadora Lisa Cook, sugere uma guinada em direção à dominância fiscal. Essa dinâmica, onde a política monetária é subordinada às necessidades de financiamento do governo, aumenta o risco de inflação persistente, alimentando ainda mais a busca por ativos tangíveis como o ouro.

A sustentabilidade da dívida pública, que em países como Japão, EUA e membros da zona do euro se aproxima ou ultrapassa 100% do PIB, está sob pressão crescente. Como destacado pela Morgan Stanley, a combinação de crescimento nominal mais lento, aumento dos custos de serviço da dívida e deterioração dos déficits cria um “triplo golpe” contra a estabilidade fiscal. Entre 2008 e 2022, baixas taxas de juros facilitaram a gestão de dívidas crescentes, mas o retorno da inflação e a normalização dos juros mudaram esse cenário. Nos EUA, o déficit anual de 6% do PIB e as incertezas sobre receitas de tarifas, que podem ser anuladas judicialmente, agravam o problema. No Japão, as políticas de Takaichi podem adiar aumentos de juros, mas os rendimentos de títulos de longo prazo já sinalizam expectativas de inflação futura, com projeções de yields de 10 anos superando 4%.

Esse ambiente de dívida insustentável eleva o risco de uma crise fiscal que poderia desestabilizar mercados globais. A interconexão entre políticas populistas, dominância fiscal e pressões inflacionárias cria um cenário de alta volatilidade, onde choques em um país podem reverberar globalmente. Investidores devem priorizar ativos com fundamentos sólidos e monito