São Paulo, 25/07/2025 – As ações da Petrobras têm sido negociadas com múltiplos bem abaixo de outras petroleiras da América Latina, como a argentina YPF e a colombiana Ecopetrol, e, portanto, contam com espaço para forte valorização, que pode vir à medida que mercado comece a precificar as eleições de 2026 no Brasil, avaliaram analistas do BTG.
Embora relatando que a percepção de investidores quanto à Petrobras se deteriorou significativamente nos últimos meses, diante de maior pessimismo com ativos ligados a commodities no Brasil, o BTG disse que está “indo contra a corrente, reforçando uma visão positiva fora de consenso” sobre a companhia estatal.
Entre fatores que sustentam o otimismo do banco de André Esteves estão expectativas de produção da Petrobras acima das metas em 2025 e 2026, investimentos potencialmente menores que previsto no Plano Estratégico e ausência de riscos de aquisições relevantes no radar, além de uma política de preços que “continuou racional e livre de interferências políticas” e dividendos atrativos, de 10% a 12% ao ano. Fora a política, claro.
“Embora ainda falte mais de um ano para a eleição presidencial no Brasil, os mercados podem começar a precificar mudanças políticas e econômicas antes do esperado. Uma melhora na visibilidade sobre fiscal e estabilidade macro poderia diminuir a percepção de risco do país, comprimindo o custo de capital da Petrobras e apoiando uma reprecificação do valuation”, apontou o BTG, em relatório assinado por Luiz Carvalho e Gustavo Cunha.
Atualmente, a estatal brasileira negocia com múltiplo de valor de companhia sobre EBITDA (EV/EBITDA) de 3,6 vezes para 2025, contra 4,3x da Ecopetrol e da YPF, também estatais e da mesma região. “Se a Petrobras convergir para múltiplos similares isso implicaria potencial alta de 45% ante os níveis atuais”, calcularam os analistas.
OUTROS FATORES
O Plano de Negócios da Petrobras para 2025-2029 considera preços do petróleo Brent de US$83 por barril em 2026, caindo gradualmente para US$68 em 2029, o que parece otimista ante os níveis atuais, aponta o BTG, avaliando que a geração de caixa abaixo do previsto no planejamento original obrigará a empresa a cortar investimentos em algum momento.
“Para fechar essa lacuna, acreditamos que a Petrobras provavelmente reavaliará alguns projetos, potencialmente postergando-os”, escreveram os analistas.
Também não há expectativas de que a Petrobras se envolva em aquisições relevantes — uma recompra da Vibra seria “altamente improvável”, devido a restrições impostas na privatização da antiga BR Distribuidora, e eventual investida em etanol prometida pela empresa seria uma participação minoritária, que não exigirá muito capital, segundo o BTG.
A política de preços da Petrobras, que por muito tempo foi uma preocupação para o mercado financeiro, parece continuar “estável e racional”, ajudando a sustentar projeção de que a empresa conseguiria pagar dividendos com entre 10% e 12% de yield mesmo sob cenários conservadores de preços do petróleo, entre US$55 e US$65 por barril.
“Embora as chances de dividendos extraordinários tenham diminuído com o atual ambiente de preços do petróleo, a ação ainda oferece uma combinação atrativa de yield (dividendos), momento operacional e potencial para valorização”, avaliou a equipe do BTG.
Na contramão de Santander e Bank of America, que nos últimos meses cortaram recomendação das ações da Petrobras para “neutra”, o BTG reiterou visão de “compra” para o ativo, com preço-alvo de US$15 para as ADRs, ante US$12,36 da cotação de ontem.
(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)